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MERCADO FINANCEIRO
Apesar da queda nos juros, ações do setor de consumo estão entre as que menos subiram na Bovespa
Investidor ignora expectativa de retomada
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
No trimestre em que os juros
caíram seis pontos percentuais,
ações do setor de consumo estão
entre as que menos subiram na
Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo). Papéis de exportadoras, por sua vez, bateram
o Ibovespa (Índice Bovespa).
Contra previsões do mercado,
investidores ignoraram a expectativa de reaquecimento da economia nos últimos três meses, quando a Bolsa subiu cerca de dois terços da valorização de 41% registrada no ano e o dólar se manteve
abaixo de R$ 3.
O mercado costuma buscar
ações de empresas ligadas ao consumo quando os juros caem e há
perspectiva de retomada da economia. Nesse cenário, tende a deixar para trás papéis de exportadoras, tradicionalmente valorizadas
em épocas de crise e de dólar em
alta, por terem receita em moeda
estrangeira.
De 30 de junho até sexta-feira
passada, ações da petroquímica
exportadora Braskem subiram
86%. Já a Fosfértil, exportadora
que paga altos dividendos e se
destaca como papel defensivo durante turbulências avançou 46%.
Muitas exportadoras não apresentam mais percentuais de alta
tão reluzentes porque investidores venderam esses papéis muito
valorizados para embolsar ganhos no recente movimento de
realização de lucros na Bolsa.
Enquanto o Ibovespa avançou
23% no trimestre, o setor de consumo ficou para trás. A Duratex,
empresa mais voltada para o mercado interno, registrou queda de
0,65% no período, a Ambev subiu
apenas 7% e o Pão de Açúcar ficou um pouco abaixo do índice.
O setor de bancos é outro um
pouco esquecido na alta da Bolsa.
Ações de Bradesco e Itaú subiram
cerca de 11% no trimestre.
"Sempre que os juros caíram,
vimos que ações de consumo subiam, e as de exportadoras, não.
Para papéis como Ambev, faz toda a diferença se os juros recuam
um ou quatro pontos. Para exportadoras, tanto faz", diz Beto Scretas, diretor da Shroeders Brasil.
Exportadoras estão subindo
porque há uma aposta internacional de aumento de preços de commodities, dizem analistas.
"Há uma sensação de recuperação da economia no mundo e,
principalmente, de que o crescimento da China salvará o mundo", afirma Scretas.
O fato de o setor de consumo,
por sua vez, ter ficado meio largado na disparada da Bovespa indica pouca confiança no reaquecimento da economia doméstica,
segundo gestores.
Ata do Copom
Se não antecipou a possibilidade de aumento do consumo, o
mercado parece ter antevisto a retomada da cautela do Copom
(Comitê de Política Monetária),
explicitada em sua última ata.
Temerosa da concentração de
dissídios coletivos no último trimestre e de que reajustes sejam
concedidos com base na inflação
passada, a autoridade monetária
mencionou riscos não descritos
em atas anteriores.
Analistas entenderam que a
"ousadia", vista por alguns em
cortes de juros nos meses passados, acabou.
Alguns economistas esboçaram
surpresa ante a cautela que se
anuncia redobrada, mas quase todos já estimavam em agosto que
as reduções daqui para frente se
limitariam a, no máximo, um
ponto percentual cada.
"A ata veio compatível com o
corte de dois pontos percentuais.
O mercado cria expectativas para
se surpreender e gerar negócios",
afirma Gustavo Alcântara, gestor
de fundos do Banco Prosper.
Economistas afirmam ainda
manter a projeção para a taxa básica dos juros, a Selic, no final do
ano em torno de 17% e 18%.
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