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São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2003

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MERCADO FINANCEIRO

Apesar da queda nos juros, ações do setor de consumo estão entre as que menos subiram na Bovespa

Investidor ignora expectativa de retomada

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

No trimestre em que os juros caíram seis pontos percentuais, ações do setor de consumo estão entre as que menos subiram na Bovespa (Bolsa de Valores do Estado de São Paulo). Papéis de exportadoras, por sua vez, bateram o Ibovespa (Índice Bovespa).
Contra previsões do mercado, investidores ignoraram a expectativa de reaquecimento da economia nos últimos três meses, quando a Bolsa subiu cerca de dois terços da valorização de 41% registrada no ano e o dólar se manteve abaixo de R$ 3.
O mercado costuma buscar ações de empresas ligadas ao consumo quando os juros caem e há perspectiva de retomada da economia. Nesse cenário, tende a deixar para trás papéis de exportadoras, tradicionalmente valorizadas em épocas de crise e de dólar em alta, por terem receita em moeda estrangeira.
De 30 de junho até sexta-feira passada, ações da petroquímica exportadora Braskem subiram 86%. Já a Fosfértil, exportadora que paga altos dividendos e se destaca como papel defensivo durante turbulências avançou 46%.
Muitas exportadoras não apresentam mais percentuais de alta tão reluzentes porque investidores venderam esses papéis muito valorizados para embolsar ganhos no recente movimento de realização de lucros na Bolsa.
Enquanto o Ibovespa avançou 23% no trimestre, o setor de consumo ficou para trás. A Duratex, empresa mais voltada para o mercado interno, registrou queda de 0,65% no período, a Ambev subiu apenas 7% e o Pão de Açúcar ficou um pouco abaixo do índice.
O setor de bancos é outro um pouco esquecido na alta da Bolsa. Ações de Bradesco e Itaú subiram cerca de 11% no trimestre.
"Sempre que os juros caíram, vimos que ações de consumo subiam, e as de exportadoras, não. Para papéis como Ambev, faz toda a diferença se os juros recuam um ou quatro pontos. Para exportadoras, tanto faz", diz Beto Scretas, diretor da Shroeders Brasil.
Exportadoras estão subindo porque há uma aposta internacional de aumento de preços de commodities, dizem analistas.
"Há uma sensação de recuperação da economia no mundo e, principalmente, de que o crescimento da China salvará o mundo", afirma Scretas.
O fato de o setor de consumo, por sua vez, ter ficado meio largado na disparada da Bovespa indica pouca confiança no reaquecimento da economia doméstica, segundo gestores.

Ata do Copom
Se não antecipou a possibilidade de aumento do consumo, o mercado parece ter antevisto a retomada da cautela do Copom (Comitê de Política Monetária), explicitada em sua última ata.
Temerosa da concentração de dissídios coletivos no último trimestre e de que reajustes sejam concedidos com base na inflação passada, a autoridade monetária mencionou riscos não descritos em atas anteriores.
Analistas entenderam que a "ousadia", vista por alguns em cortes de juros nos meses passados, acabou.
Alguns economistas esboçaram surpresa ante a cautela que se anuncia redobrada, mas quase todos já estimavam em agosto que as reduções daqui para frente se limitariam a, no máximo, um ponto percentual cada.
"A ata veio compatível com o corte de dois pontos percentuais. O mercado cria expectativas para se surpreender e gerar negócios", afirma Gustavo Alcântara, gestor de fundos do Banco Prosper.
Economistas afirmam ainda manter a projeção para a taxa básica dos juros, a Selic, no final do ano em torno de 17% e 18%.

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