São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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Doleiros são acusados de enviar US$ 19 bi aos EUA

Movimentação ocorreu desde 1997 e levou ao indiciamento de 34 brasileiros em NY

Promotoria americana identifica conexão uruguaia e consegue congelar US$ 17 mi do montante remetido ilegalmente


Agência Estado
O doleiro Hélio Laniado, que foi indiciado pela Justiça dos EUA


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A investigação que resultou no indiciamento de 34 doleiros brasileiros em Manhattan descobriu que eles remeteram ilegalmente US$ 19 bilhões para bancos daquele setor de Nova York entre 1997 e os dias de hoje. Indiciamento, para a Justiça americana, significa que o investigado foi convertido em réu. O valor corresponde hoje a R$ 41,5 bilhões.
Os doleiros são acusados de remessa ilegal, lavagem de dinheiro e de operar com valores em Manhattan sem ter licença para isso. O indiciamento deles foi anunciado anteontem.
A Promotoria Distrital de Nova York, que conduz a acusação, conseguiu congelar US$ 17,4 milhões que foram remetidos ilegalmente por doleiros.
O mais famoso dos indiciados é Hélio Laniado, que namorou Daniela Cicarelli e a atriz Carolina Ferraz. Laniado está detido em Curitiba. Ele foi preso na República Tcheca em agosto do ano passado e extraditado em agosto. No Brasil, ele é acusado de ter enviado ilegalmente US$ 1,1 bilhão para os Estados Unidos.

Cooperação Brasil-EUA
Os 34 doleiros já são réus da Justiça brasileira por conta das investigações em torno do Banestado -o Banco do Estado do Paraná que era usado para fazer remessas ilegais. A CPI do Banestado calculou que uma única agência desse banco, a de Foz do Iguaçu, remeteu R$ 150 bilhões entre 1996 e 2002.
A documentação reunida sobre o Banestado originou a maior investigação já realizada no Brasil sobre doleiros, conduzida pela Força-Tarefa CC5, um grupo de delegados da Polícia Federal e procuradores que têm como base Curitiba.
A acusação da Promotoria Distrital de Nova York partiu dos dados reunidos pela Força-Tarefa CC5 nos desdobramentos do caso Banestado. Uma das descobertas era que os doleiros brasileiros passaram a usar o Uruguai para fazer remessas para os EUA.
A promotoria de Manhattan encontrou o passo seguinte. O dinheiro que saía do Uruguai era remetido para uma agência do Bank of America: US$ 3 bilhões fizeram esse percurso, segundo a promotoria de Manhattan.
O Bank of America foi multado em US$ 6 milhões porque as normas da instituição não foram suficientes para evitar o depósito de dinheiro sujo. Os US$ 6 milhões serão revertidos para a cidade e o Estado de Nova York em projetos que serão escolhidos pelo promotor distrital Robert Morgenthau. O Bank of America vai bancar os custos da investigação da promotoria (US$ 1,5 milhão).
Outro banco acusado de lavagem de dinheiro de brasileiros é o Valley National Bank. Doleiros brasileiros operavam 39 contas nessa instituição, as quais receberam US$ 3,7 bilhões entre fevereiro de 1998 e junho de 2002.

Dólares do terror
Morgenthau aponta que o dinheiro remetido por doleiros brasileiros pode ter ajudado a financiar o terrorismo. Dados de um dos bancos investigados, o Beacon Hill, mostram que foram feitas remessas que somam US$ 31,5 milhões para Paquistão, Líbano, Jordânia, Dubai e Arábia Saudita, países que abrigam células terroristas, segundo a promotoria.
Os registros do Beacon Hill apontam que US$ 65 milhões que passaram pelo banco entre 1997 e 2002 tinham nas duas pontas do negócio empresas ou pessoas que atuam na Tríplice Fronteira -entre Brasil, Paraguai e Argentina. Os EUA acusam empresas da região de financiar o terrorismo.
Outro banco investigado, o Israel Discount Bank of New York, recebeu US$ 2,2 bilhões de doleiros brasileiros e concordou em adotar medidas para evitar lavagem de dinheiro.
Três advogados de doleiros não quiseram comentar as acusações sob a alegação de que não conhecem o processo.


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