São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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análise

Pacote de socorro é mal necessário

DO "FINANCIAL TIMES"

O esquema talvez não funcione, mas é preciso lhe dar uma chance. A boa notícia é que, depois de muitas ameaças mútuas de abandonar as negociações, surgiu acordo quanto aos termos gerais de um plano de resgate para o problemático sistema financeiro dos Estados Unidos. A má notícia continua a ser que um resgate como esse seja necessário. Não poderia ser mais evidente que há grandes lições a aprender desse estado de calamidade.
É fácil simpatizar com os republicanos, que se opõem a um resgate por princípio, e com os democratas, que objetam a que tratamento generoso seja concedido àqueles cuja temeridade e cobiça criaram a confusão que reina no mercado financeiro. Mas uma congestão do sistema de crédito parece ter se tornado possível, e esse não é um perigo que se queira correr.
O plano é imperfeito, mas é o único disponível. Número suficiente de congressistas, em ambos os partidos, parece ter reconhecido essa sombria realidade. O Congresso não deu a Henry Paulson, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, o cheque em branco de US$ 700 bilhões, mas Paulson obteve a maior parte do que queria.
De acordo com os contornos do plano, haverá mais fiscalização sobre o governo do que Paulson desejava. O projeto de lei também requer que o governo aproveite sua posição como proprietário de títulos problemáticos lastreados por hipotecas para retardar o ritmo de execução de hipotecas. O governo ainda poderá assumir participações acionárias nas empresas que desejam assistência. Além disso, a idéia de oferecer um seguro contra prejuízos de títulos "tóxicos" lastreados por hipotecas, defendida pelos republicanos do Congresso, consta do pacote.
Portanto, o que temos é uma mistura, o que seria inevitável quando um projeto de lei impopular tem de ser montado apressadamente e tão perto de uma eleição. Mas será que o pânico que afligia os mercados na semana passada será atenuado pelo pacote? A única resposta possível é: ninguém sabe, mas é possível que sim, dadas as quantias em oferta.
Seria certamente mais barato e efetivo que o governo seguisse o exemplo oferecido por Warren Buffett em seu acordo com o Goldman Sachs. A aquisição de ações preferenciais, em termos semelhantes, recapitalizaria os bancos de maneira mais efetiva do que o desejo de Paulson de adquirir ativos maculados a preços acima do mercado. Também seria mais intrusivo.
Não se enganem: o fato de que um plano como esse seja necessário representa um desastre. Mas não oferecer nenhuma forma de resgate acarretaria o risco de desastre ainda maior. O plano em questão nem mesmo é o melhor, mas não existe outro. Deve ser tentado e modificado de acordo com as necessidades. Mas a regulamentação do setor também precisa ser reformada de cima abaixo. Fazer menos seria o maior escândalo de todos.


Tradução de PAULO MIGLACCI



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