|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mundo respira e EUA pagam, afirma analista
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O pacote quase trilionário de
resgate do mercado financeiro
americano tem seus prós e contras para os Estados Unidos,
mas é um ótimo negócio para o
resto do mundo, diz o especialista em investimentos Karl
Sauvant, que foi diretor da Divisão de Investimentos da Unctad (Conferência da ONU sobre
Comércio e Desenvolvimento)
e hoje é diretor-executivo do
Programa de Investimento Estrangeiro da Universidade de
Columbia, em Nova York.
Para Sauvant, os possíveis
efeitos negativos do pacote se
concentrarão especialmente
nas fronteiras americanas, já
que conseqüências como aumento do déficit orçamentário
e desvalorização do dólar podem significar vantagem para
outros países, enquanto a não-intervenção federal na crise
trava o mercado financeiro internacional. "O pacote é necessário e duro para os EUA, mas o
mundo sai ganhando", diz ele.
Abaixo, trechos da entrevista.
FOLHA - Qual a perspectiva para a
economia mundial com a aprovação
do pacote?
KARL SAUVANT - De ganho, certamente. A aprovação ou a não-aprovação teria prós e contras.
A diferença é que, com o socorro, o mundo respira e a parte difícil fica muito mais concentrada nos Estados Unidos. Por outro lado, sem que nada seja feito, o mundo todo paga junto.
FOLHA - Que implicações negativas o pacote traria para a economia
americana?
SAUVANT - Bem, você não lança
um pacote de US$ 700 bilhões
sem que haja prejuízo. Os EUA
deverão aumentar seu déficit,
que já é problemático e que já
pesa na desvalorização do dólar, que gera uma série de problemas que tem deixado os
americanos muito insatisfeitos
[para compensar o fato de gastar mais do que arrecada, o governo emite mais títulos no
mercado para se capitalizar, o
que enfraquece o dólar e faz subir preços de produtos importados que são chave para a economia, como a gasolina].
Por outro lado, o dólar fraco
também traz vantagens, como
estimular as exportações americanas, o que é um vetor positivo para a criação de empregos,
um dos principais problemas
do país atualmente. Mas o efeito mais importante do pacote é
estabilizar o sistema financeiro
de todo o mundo. Sem alguma
medida firme e urgente, todo o
mundo pagaria junto.
FOLHA - O senhor, então, aprova o
pacote?
SAUVANT - Sim, ele é muito necessário, o governo tem de fazer alguma coisa. Mas ainda
acho que falta um socorro mais
direto aos cidadãos que não
conseguem pagar seus empréstimos imobiliários, um dinheiro com o qual eles possam contar para não perder suas casas.
FOLHA - Há alguns meses, o senhor
declarou que o momento de crise se
transformava em uma boa oportunidade para investidores estrangeiros, que poderiam aproveitar o câmbio e a desvalorização das empresas
americanas para fazer aquisições no
país. Isso continua valendo em um
contexto de agravamento da crise?
SAUVANT - Sim, continua. A
oportunidade para aquisições é
boa. As empresas brasileiras,
mesmo os bancos, que querem
crescer nos EUA pagarão muito
menos por empresas aqui, mas
é claro que, no caso do setor financeiro, o temor aumentou
nas últimas semanas. Mas o fenômeno de entrada de empresas estrangeiras nos EUA é notório, você vê sempre no noticiário, como a venda de um dos
símbolos de Nova York, o edifício Chrysler [para o fundo Abu
Dhabi Investment Council, dos
Emirados Árabes Unidos, por
US$ 800 milhões]. Isso mexe
com [a auto-estima] do país,
mas os americanos já começam
a perceber que se trata de uma
realidade.
Texto Anterior: Deputados ainda demonstram resistência à aprovação de lei Próximo Texto: Frase Índice
|