São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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Fuga de capital externo ocorre desde junho

DA REPORTAGEM LOCAL

A Bolsa de Valores de São Paulo tem sido fortemente punida pela fuga de capital externo desde junho. Neste mês, o ritmo de saída de estrangeiros perdeu força, apesar de o saldo das operações feitas pela categoria seguir negativo. O movimento indica que, se a crise não se agravar ainda mais, os estrangeiros devem deixar de abandonar as ações brasileiras, segundo analistas.
Neste mês, até o dia 24, os investidores estrangeiros mais venderam que compraram ações no mercado local em um montante de R$ 752,3 milhões. Em junho e julho, saíram mais de R$ 7 bilhões em cada mês. Em agosto, outros R$ 2,25 bilhões em capital externo deixaram as ações brasileiras.
"Não estamos mais tendo vendas maciças de ações por parte dos investidores estrangeiros para tapar buracos lá fora, como ocorreu intensamente nos últimos meses", afirma Charles Philipp, diretor da corretora SLW.
A forte dependência que o mercado acionário doméstico tem dos estrangeiros mostrou seu lado negativo nesses últimos meses. A saída de capital externo explica em boa parte as perdas acumuladas pela Bovespa neste ano.
Em 2008, o balanço dos negócios feitos pelos estrangeiros está negativo em R$ 17,2 bilhões, sendo esse o pior resultado já registrado em um ano.
Os estrangeiros são a categoria de maior peso na Bolsa, ao responder por cerca de 35% do total de operações realizadas no pregão. A segunda categoria que mais negocia são os investidores institucionais (como fundos de pensão), que respondem por 27,9% do total, e a terceira é a pessoa física, com 25,6%.
Dessa forma, no momento em que a crise internacional se arrefecer e o capital externo começar a retornar para o mercado brasileiro, a Bovespa tem tudo para se recuperar com vigor. O problema é que os analistas não esperam que tudo se acalme tão cedo.
Quando o Brasil foi elevado à categoria de "investment grade" (grau de investimento), esperava-se que o país passasse a receber uma enxurrada de capital externo. E, a princípio, isso até ocorreu.
Ser elevado à "investment grade" significa passar a pertencer a um grupo de países em que o risco de calote é menor. Ou seja, é mais seguro aplicar nesses lugares que em outros.
A agência de classificação de risco Standard & Poor's promoveu o Brasil a "investment grade" em 20 de abril deste ano. A Fitch Ratings fez o mesmo no fim de maio.
Muitos fundos de pensão internacionais apenas podem aplicar seus recursos em mercados de países que já tenham obtido o grau de investimento.
O problema do Brasil foi ter recebido a promoção no momento em que a crise de crédito internacional se agravava. Com isso, não teve muito tempo para aproveitar sua elevação a essa nova condição.
O acúmulo de perdas pelo mundo fez com que os investidores se desfizessem de ativos em mercados nos quais havia ganhos acumulados e facilidades de negociação, como forma de compensar prejuízos nos principais centros financeiros. E o Brasil tinha um dos mercados que melhor se encaixavam nessa realidade.
As principais Bolsas de Valores do mundo estão no vermelho no acumulado do ano, o que ilustra a abrangência da crise.
Em Wall Street, o índice Dow Jones, que reúne as 30 ações americanas de maior liquidez, registra perdas de 15,99% em 2008. Para a Bovespa, a queda anual está em 20,5%.
(FABRICIO VIEIRA)


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