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Estudo vê piso da Bolsa em 40 mil pontos
Fundo do poço da Bovespa seria após queda de 46% desde o pico; recuperação se daria em até dois anos, diz Ibmec-SP
Ibovespa encerrou a
última sexta-feira aos
50.782 pontos, e a máxima
histórica, de 73.516 pontos,
ocorreu no dia 20 de maio
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a crise das hipotecas americanas seguir o padrão dos últimos 15 anos, o fundo do poço
da Bovespa será no máximo
uma queda de 46% desde o pico
e a recuperação do mercado se
dará em até dois anos, segundo
estudo do Ibmec-SP.
Segundo a pesquisa, o piso da
Bolsa se daria em torno de 40
mil pontos do Ibovespa -na
sexta, encerrou com 50.782
pontos, mas no dia 17 chegou ao
mínimo de 45.908 pontos. Já a
máxima histórica se deu no dia
20 de maio, quando a Bolsa encerrou com 73.516 pontos. Da
pontuação máxima para a mínima, houve queda de 37,5%.
Para o economista Maurício
Carvalho, autor do estudo, a
maior probabilidade de essa
crise estourar as projeções acima é se antes da recuperação
completa surgirem outros choques que ainda "não estão no
preço", como catástrofes naturais ou um atentado terrorista
de grandes proporções. No caso, a soma de diferentes focos
de crise pode jogar os mercados
em um período mais difícil e
longo de recuperação.
Foi o que aconteceu entre
1997 e 1999, quando à crise da
Ásia se somaram a moratória
russa e depois a desvalorização
do real no Brasil. No total, a recuperação levou 25 meses e as
perdas passaram de 30%.
Para fazer o trabalho, o economista do Ibmec-SP considerou apenas os períodos em que
a Bolsa recuou mais de 10%
desde 1995, época da crise do
México. Ele observou que quedas rápidas da Bolsa costumam
vir acompanhadas de recuperações também ligeiras. Desta
vez, o mercado está no seu
quarto mês de baixa.
Carvalho afirma que a Bolsa
costuma também se recuperar
rapidamente após crises que
acontecem sem um argumento
forte para justificá-la. Otimista,
ele afirma que a recuperação
agora só não será mais rápida
porque, após equacionar o problema com os papéis "subprime", virá um período de crescimento menor no mundo. "Dependendo do tamanho da ressaca na economia que virá com
a crise, a Bolsa vai voltar mais
rápido ou mais devagar. E isso
não está muito definido ainda.
É difícil dizer se vai voltar em
mais dois ou três meses. Nos últimos meses, o investidor estrangeiro saiu sem parar. Vai
demorar para recompor esse
estoque de dinheiro e recuperar os preços. Não sei quando
esse grupo de investidores vai
ter dinheiro para voltar."
Cristiano Souza, economista
do Banco Real, está mais pessimista quanto à recuperação da
Bovespa nos próximos meses.
Ele afirma que a desaceleração
mundial deve derrubar os preços das commodities, que sustentam hoje a Bolsa brasileira.
"A riqueza do mundo foi bastante diluída. Vejo pouco espaço para recuperação. A aversão
ao risco deve continuar alta e
não vejo o investimento de estrangeiros voltar rapidamente.
Esse dinheiro sumiu para cobrir perdas lá fora", disse.
Para Charles Philipp, diretor
da corretora SLW, a Bovespa já
tem demonstrado "certa resistência para seguir para baixo,
mantendo-se em um patamar
em torno dos 50 mil pontos".
"O mercado começa a ficar
atrativo e pode trazer oportunidades interessantes. Assim,
não acho exagero ver a Bolsa
em torno dos 60 mil pontos no
fim do ano", diz Philipp.
Até maio, quando a Bovespa
trabalhava em seus picos históricos, era comum os analistas
projetarem o Ibovespa em 80
mil pontos no final do ano. Mas
o agravamento da crise acabou
por derrubar a Bolsa e esfriar os
ânimos. "A não ser que surjam
novos imprevistos nesta crise
-que, lembramos, ainda não
acabou-, vejo a Bolsa oscilando em torno dos 50 mil pontos,
por um tempo. Entendo que os
48 mil pontos se mostram como um ponto de resistência,
sendo mais difícil de ser rompido e de a Bolsa se manter abaixo desse patamar", afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora.
Um dos pontos que diferem a
crise atual que afeta o mercado
financeiro internacional de outras é que seu epicentro está
nos EUA, com reflexos mais pesados nos países desenvolvidos.
Os emergentes, como o Brasil,
têm ficado à margem, com seus
mercados sofrendo mais por
terem uma participação expressiva de estrangeiros do que
por temores em relações ao potencial de suas economias.
Ou seja, a Bolsa de Valores
brasileira tem caído rápida e
expressivamente devido à saída
de capital externo para cobrir
prejuízos lá fora do que por medo de que as companhias brasileiras passem a ter perdas ou
resultados pífios.
"É a maior crise desde a Depressão [de 1929]. É uma crise
no centro do capitalismo, mas
que está sendo bem administrada. O governo americano
quebrou um paradigma de que
não devia ajudar [os mercados]", disse Carvalho.
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