São Paulo, segunda-feira, 29 de setembro de 2008

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Estudo vê piso da Bolsa em 40 mil pontos

Fundo do poço da Bovespa seria após queda de 46% desde o pico; recuperação se daria em até dois anos, diz Ibmec-SP

Ibovespa encerrou a última sexta-feira aos 50.782 pontos, e a máxima histórica, de 73.516 pontos, ocorreu no dia 20 de maio

TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a crise das hipotecas americanas seguir o padrão dos últimos 15 anos, o fundo do poço da Bovespa será no máximo uma queda de 46% desde o pico e a recuperação do mercado se dará em até dois anos, segundo estudo do Ibmec-SP.
Segundo a pesquisa, o piso da Bolsa se daria em torno de 40 mil pontos do Ibovespa -na sexta, encerrou com 50.782 pontos, mas no dia 17 chegou ao mínimo de 45.908 pontos. Já a máxima histórica se deu no dia 20 de maio, quando a Bolsa encerrou com 73.516 pontos. Da pontuação máxima para a mínima, houve queda de 37,5%.
Para o economista Maurício Carvalho, autor do estudo, a maior probabilidade de essa crise estourar as projeções acima é se antes da recuperação completa surgirem outros choques que ainda "não estão no preço", como catástrofes naturais ou um atentado terrorista de grandes proporções. No caso, a soma de diferentes focos de crise pode jogar os mercados em um período mais difícil e longo de recuperação.
Foi o que aconteceu entre 1997 e 1999, quando à crise da Ásia se somaram a moratória russa e depois a desvalorização do real no Brasil. No total, a recuperação levou 25 meses e as perdas passaram de 30%.
Para fazer o trabalho, o economista do Ibmec-SP considerou apenas os períodos em que a Bolsa recuou mais de 10% desde 1995, época da crise do México. Ele observou que quedas rápidas da Bolsa costumam vir acompanhadas de recuperações também ligeiras. Desta vez, o mercado está no seu quarto mês de baixa.
Carvalho afirma que a Bolsa costuma também se recuperar rapidamente após crises que acontecem sem um argumento forte para justificá-la. Otimista, ele afirma que a recuperação agora só não será mais rápida porque, após equacionar o problema com os papéis "subprime", virá um período de crescimento menor no mundo. "Dependendo do tamanho da ressaca na economia que virá com a crise, a Bolsa vai voltar mais rápido ou mais devagar. E isso não está muito definido ainda. É difícil dizer se vai voltar em mais dois ou três meses. Nos últimos meses, o investidor estrangeiro saiu sem parar. Vai demorar para recompor esse estoque de dinheiro e recuperar os preços. Não sei quando esse grupo de investidores vai ter dinheiro para voltar."
Cristiano Souza, economista do Banco Real, está mais pessimista quanto à recuperação da Bovespa nos próximos meses. Ele afirma que a desaceleração mundial deve derrubar os preços das commodities, que sustentam hoje a Bolsa brasileira. "A riqueza do mundo foi bastante diluída. Vejo pouco espaço para recuperação. A aversão ao risco deve continuar alta e não vejo o investimento de estrangeiros voltar rapidamente. Esse dinheiro sumiu para cobrir perdas lá fora", disse.
Para Charles Philipp, diretor da corretora SLW, a Bovespa já tem demonstrado "certa resistência para seguir para baixo, mantendo-se em um patamar em torno dos 50 mil pontos". "O mercado começa a ficar atrativo e pode trazer oportunidades interessantes. Assim, não acho exagero ver a Bolsa em torno dos 60 mil pontos no fim do ano", diz Philipp.
Até maio, quando a Bovespa trabalhava em seus picos históricos, era comum os analistas projetarem o Ibovespa em 80 mil pontos no final do ano. Mas o agravamento da crise acabou por derrubar a Bolsa e esfriar os ânimos. "A não ser que surjam novos imprevistos nesta crise -que, lembramos, ainda não acabou-, vejo a Bolsa oscilando em torno dos 50 mil pontos, por um tempo. Entendo que os 48 mil pontos se mostram como um ponto de resistência, sendo mais difícil de ser rompido e de a Bolsa se manter abaixo desse patamar", afirma Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Gradual Corretora.
Um dos pontos que diferem a crise atual que afeta o mercado financeiro internacional de outras é que seu epicentro está nos EUA, com reflexos mais pesados nos países desenvolvidos. Os emergentes, como o Brasil, têm ficado à margem, com seus mercados sofrendo mais por terem uma participação expressiva de estrangeiros do que por temores em relações ao potencial de suas economias.
Ou seja, a Bolsa de Valores brasileira tem caído rápida e expressivamente devido à saída de capital externo para cobrir prejuízos lá fora do que por medo de que as companhias brasileiras passem a ter perdas ou resultados pífios.
"É a maior crise desde a Depressão [de 1929]. É uma crise no centro do capitalismo, mas que está sendo bem administrada. O governo americano quebrou um paradigma de que não devia ajudar [os mercados]", disse Carvalho.



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