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BC começa a desmontar ações anticrise
Instituição aponta "sinais de paulatina normalização" e muda regras para o recolhimento de dinheiro pelos bancos ao BC
Vantagem para abatimento no valor recolhido como depósito compulsório valerá apenas para a compra de ativos de bancos pequenos
EDUARDO CUCOLO
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central deu mais
um passo ontem para desmontar o arsenal criado para combater os efeitos da crise internacional no país. Depois de interromper, no início do mês, a
redução da taxa de juros -um
dos principais estímulos monetários para tirar a economia da
recessão- os diretores mudaram as regras que determinam
quanto do dinheiro captado dos
clientes os bancos são obrigados a recolher ao BC, os chamados depósitos compulsórios.
As alterações, consideradas
ainda tímidas e anunciadas
uma semana depois de o presidente Luiz Inácio da Silva defender, durante encontro do G-20, a manutenção dos estímulos dados pelos países às economias, prorrogam até março de
2010 um benefício adotado no
ano passado, que terminaria
amanhã, mas o restringe.
O benefício de abater do recolhimento obrigatório o valor
usado na compra de carteiras
de créditos e outros ativos foi limitado a bancos pequenos, que
têm patrimônio de até R$ 2,5
bilhões. Antes era permitido
deduzir do compulsório aquisições feitas por instituições com
patrimônio de até R$ 7 bilhões.
Outra medida, que compensaria essa restrição, deverá liberar em 2 de outubro cerca de
R$ 2,5 bilhões para os bancos.
Isso vai ocorrer com a redução
da alíquota de 15% para 13,5%
do compulsório incidente sobre os depósitos a prazo (como
as captações via emissão de
CDBs). Mas o BC não deu números que confirmem isso.
O impacto da primeira medida está vinculado ao vencimento das carteiras compradas no
auge da crise, principalmente
por grandes bancos, como BB e
Caixa. Isso porque a medida incidirá em novas operações, que
praticamente não estão mais
sendo feitas, e nas renovações.
Segundo a Folha apurou, o
prazo médio de vencimento
das carteiras compradas até
então era de dois a três anos. O
que significa que, na prática, a
renovação não deverá ser tão
imediata quanto o efeito da redução da alíquota.
Ainda assim, o BC, que não
deu entrevista para explicar as
medidas, informou, por meio
da assessoria de imprensa, que
o objetivo das mudanças era
"manter o nível atual dos compulsórios" sobre depósitos a
prazo, que somava, na semana
passada, R$ 25,5 bilhões.
Normalização
Em nota distribuída no início
da noite os diretores justificam
as alterações: "Passado um ano
do agravamento da crise financeira internacional, o mercado
de crédito doméstico dá sinais
de paulatina normalização".
Como a liquidez do sistema
financeiro não foi integralmente retomada, as instituições
menores ainda precisam de
ajuda e, por isso, o BC prorrogou por mais seis meses as medidas de socorro a esses bancos,
que venceriam amanhã. Segundo dados do BC, somente os
bancos médios venderam ativos no valor de R$ 7 bilhões para as grandes instituições.
Desde o agravamento da crise, em setembro de 2008, o BC
anunciou várias medidas para
tentar evitar a contaminação
do sistema bancário brasileiro.
Somente do volume total de dinheiro retido como compulsório foram liberados cerca de R$
100 bilhões. Um terço desse valor veio da liberação da parcela
do compulsório incidente sobre depósitos a prazo (aplicações financeiras).
Além dessas medidas monetárias foram adotados estímulos fiscais, como a redução de
IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) para automóveis, que será elevado novamente, de maneira gradual, a
partir de quinta-feira.
A projeção do governo é de
que a economia cresça entre
0,8% e 1% em 2009. No ano que
vem, a aposta é que o país retome a trajetória de crescimento
vivida antes da crise e cresça
cerca de 5% ao ano.
Além de reduzir a alíquota
dos compulsórios a prazo, o BC
também mudou a forma de recolhimento desses recursos. A
partir de agora, os bancos depositarão 55% da garantia em dinheiro, em vez de 60%.
Os outros 45% serão recolhidos em títulos. Anteriormente,
eram 40%. A vantagem para os
bancos é que aumenta o total
dos recursos que ficam parados
no BC, mas são corrigidos. É o
que acontece com os títulos. A
parte em espécie não tem remuneração.
Essa mudança deverá estimular as emissões de papéis de
instituições financeiras.
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