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Com petista, negociação pode ser menos dura
DO COLUNISTA DA FOLHA
Se com Fernando Henrique
Cardoso a negociação na Alca já
era complicada, com Lula presidente será mais ainda?
Não necessariamente.
Primeiro: Lula já instruiu seus
companheiros de partido para
que retirem o conteúdo ideológico "artificial" das negociações.
Quer, sim, que sejam duros nas
questões técnicas.
Posto de outra forma: a idéia de
que a Alca é um processo de "anexação" do Brasil pelos Estados
Unidos, bandeira mais ideológica
do que técnica, pode começar a
resvalar para o baú de recordações da campanha eleitoral.
Segundo: o senador eleito Aloizio Mercadante, secretário de Relações Internacionais do PT e,
portanto, voz mais importante do
partido nessa área, diz que "um
país que tem os problemas de
contas externas como os do Brasil
deveria estar dando mais atenção
a um acordo bilateral com os Estados Unidos".
É um leve aceno na direção de
abandonar, no governo petista, o
Mercosul, que, até agora, negocia
em bloco na Alca (e com a União
Européia)?
"A premissa [de um governo do
PT" é repactuar o Mercosul, para
ver se temos mesmo uma plataforma comum", responde Mercadante. Traduzindo: é preciso saber se os três sócios do Brasil estão
interessados em seguir unidos.
Em caso contrário, o Brasil ficaria
liberado para buscar seu próprio
caminho na negociação com os
Estados Unidos.
Nem o fato de Robert Zoellick
ter dito, em alusão à resistência de
Lula à Alca, que o Brasil teria que
escolher entre a Alca e vender
seus produtos na Antártida (onde
não há mercado), quebrou a fase
"paz e amor" que o candidato petista impôs à sua campanha.
É claro que, na análise interna
feita pelo partido, a fala de Zoellick foi classificada de "arrogante". Mas o interesse maior, como é
igualmente óbvio, é vender nos
EUA -não na Antártida.
"O volume de comércio entre
Brasil e Estados Unidos é de mais
ou menos US$ 30 bilhões [por
ano", quando poderia chegar facilmente a US$ 100 bilhões", calcula Mercadante.
Novas condições
De todo modo, nem tudo é "paz
e amor". O PT endossa as condições expostas por FHC em Québec (Mercadante estava presente
durante o discurso e o aplaudiu),
mas quer "alterar as condições de
negociação, muito adversas".
Introduz, por exemplo, uma
questão que jamais figurou na
pauta: fundos de compensação
para os países pobres (mecanismo que a UE adotou para reduzir
distâncias entre seus membros
mais ricos e os mais pobres, sob o
nome de fundos estruturais).
Por fim, o PT vai ficar agora na
delicada situação de estar ao mesmo tempo dentro das salas de negociação e nos protestos que habitualmente ocorrem fora delas.
Em Quito, por exemplo, a chamada Aliança Social Hemisférica,
uma coalizão de entidades da sociedade civil, programou 57 atividades para discutir o tema "Outra
América é possível".
É a regionalização do grito "Outro Mundo é possível", que se tornou o eixo do Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre e
do qual o PT é um dos principais
articuladores.
(CR)
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