São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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AGRONEGÓCIO

Saca caiu de US$ 199,27 em 97/98 para US$ 38,26 nesta safra; com produção menor, cotações devem subir

Preço do café deve deixar o fundo do poço

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Após cinco anos ladeira abaixo, os preços do café devem começar a se recuperar. A entrada de novos produtores mundiais no mercado, a adoção de políticas incorretas -como o plano de retenção- e a formação de grandes estoques nos países consumidores jogaram os preços do produto no fundo do poço nos últimos anos.
Na safra 97/98, a saca de café arábica valia US$ 199,27 no mercado brasileiro. De lá para cá o preço só caiu e a saca estava, em média, a US$ 38,26 nesta safra até agosto, segundo a Esalq/BM&F.
Os mesmos motivos que levaram o café ao fundo do poço devem permitir o retorno aos preços elevados: a oferta. Lauro Kfouri Marino, consultor técnico da FNP, diz que, pela primeira vez desde 1997, a safra mundial ficará abaixo de 100 milhões de sacas.
Devido aos baixos preços dos últimos anos, os produtores não cuidaram adequadamente dos cafezais, e a consequência é uma forte queda na produção. Kfouri diz que, na próxima safra, a queda será generalizada em todos os continentes produtores.
Na América do Sul, responsável pela metade da produção mundial, a queda na safra 2003/4 será de 22% em relação à deste ano. Na Ásia, segunda maior região produtora, a queda será de 13% e na América Central, de 15%. A África, com 13% da produção mundial, terá quebra de 20%.
O Brasil, o grande regulador do mercado internacional, deverá sair de uma safra próxima de 46 milhões de sacas, neste ano, para menos de 30 milhões no próximo.
A atual safra brasileira é recorde. Sempre que o país atinge uma boa produção, a safra seguinte tem quebra de 35% a 40% devido ao esgotamento das plantas. A próxima safra, portanto, será bem menor. Se essa média histórica de quebra for confirmada, a safra brasileira recuaria pelo menos 15 milhões de sacas.

Seca reduz produção
Um novo fator de queda, no entanto, está sendo agregado ao cenário brasileiro. Os cafezais do país estão em fase de floração e a falta de chuva poderá promover uma quebra ainda maior. Os produtores dizem que ainda é cedo para uma avaliação sobre os efeitos da seca, mas concordam que haverá redução na produção.
José Geraldo Rodrigues de Oliveira, superintendente de produção da Cooxupé, cooperativa que abrange 103 municípios e que deverá receber 3,6 milhões de sacas neste ano de produtores de Minas Gerais e de São Paulo, diz que "a situação atual é preocupante".
Tradicionalmente, o nível de chuva nos meses de outubro é de 133 mm. Neste ano, é de apenas 6 mm, diz ele. Essa seca encontra a planta em estágio debilitado, principalmente porque os produtores deixaram de cuidar da lavoura devido à alta do dólar, que encareceu os fertilizantes e os defensivos agrícolas.
Se a produção de Minas Gerais, o maior produtor nacional, seguir os passos da região onde atua a Cooxupé, no sul do Estado, a quebra nacional será grande. Oliveira diz que a entrega de café dos 9.000 cooperados poderá recuar de 3,6 milhões de sacas neste ano para apenas 1,6 milhão em 2003, conforme dados ainda preliminares.
Em São Paulo, a seca também preocupa. Mauro Sandoval Silveira, produtor de Franca, diz que as plantas também já começam a sentir a falta de chuva na região. A primeira florada está comprometida em algumas regiões, mas é difícil dimensionar a quebra porque as plantas poderão dar novas floradas, diz ele.
Como em Minas Gerais, os produtores de Franca, principalmente os menores, deixaram de cuidar das lavouras nos últimos anos, o que as torna ainda mais sensíveis aos fatores climáticos, segundo o produtor.
No Paraná, Estado que já foi o principal produtor nacional, a seca também preocupa, mas a produção no Estado vem crescendo. A geada de 2000 derrubou a produção para apenas 540 mil sacas em 2001, contra 2,2 milhões de sacas no ano anterior.
O café do Paraná passa por uma renovação, segundo Margorete Demarchi, técnica do Deral. A área plantada no Estado é menor, mas a produtividade cresce devido ao sistema de adensamento (o plantio de um número maior de pés de café por hectare).
No cenário mundial de menor oferta, e a consequente queda dos estoques, os preços devem começar um processo de recuperação. Os produtores brasileiros são os que têm mais condições de abastecer o mercado mundial, na avaliação de Kfouri.
No final da safra 2002/3, os estoques mundiais vão corresponder a 42% do consumo de um ano. Já no final da safra 2003/4, devido à menor oferta mundial, esse percentual será reduzido para 28%, avalia a FNP. Esses números poderão significar um período de elevação de preços a médio e longo prazos, diz Kfouri.


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