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AGRONEGÓCIO
Saca caiu de US$ 199,27 em 97/98 para US$ 38,26 nesta safra; com produção menor, cotações devem subir
Preço do café deve deixar o fundo do poço
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Após cinco anos ladeira abaixo,
os preços do café devem começar
a se recuperar. A entrada de novos produtores mundiais no mercado, a adoção de políticas incorretas -como o plano de retenção- e a formação de grandes estoques nos países consumidores
jogaram os preços do produto no
fundo do poço nos últimos anos.
Na safra 97/98, a saca de café
arábica valia US$ 199,27 no mercado brasileiro. De lá para cá o
preço só caiu e a saca estava, em
média, a US$ 38,26 nesta safra até
agosto, segundo a Esalq/BM&F.
Os mesmos motivos que levaram o café ao fundo do poço devem permitir o retorno aos preços
elevados: a oferta. Lauro Kfouri
Marino, consultor técnico da
FNP, diz que, pela primeira vez
desde 1997, a safra mundial ficará
abaixo de 100 milhões de sacas.
Devido aos baixos preços dos
últimos anos, os produtores não
cuidaram adequadamente dos cafezais, e a consequência é uma
forte queda na produção. Kfouri
diz que, na próxima safra, a queda
será generalizada em todos os
continentes produtores.
Na América do Sul, responsável
pela metade da produção mundial, a queda na safra 2003/4 será
de 22% em relação à deste ano. Na
Ásia, segunda maior região produtora, a queda será de 13% e na
América Central, de 15%. A África, com 13% da produção mundial, terá quebra de 20%.
O Brasil, o grande regulador do
mercado internacional, deverá
sair de uma safra próxima de 46
milhões de sacas, neste ano, para
menos de 30 milhões no próximo.
A atual safra brasileira é recorde. Sempre que o país atinge uma
boa produção, a safra seguinte
tem quebra de 35% a 40% devido
ao esgotamento das plantas. A
próxima safra, portanto, será bem
menor. Se essa média histórica de
quebra for confirmada, a safra
brasileira recuaria pelo menos 15
milhões de sacas.
Seca reduz produção
Um novo fator de queda, no entanto, está sendo agregado ao cenário brasileiro. Os cafezais do
país estão em fase de floração e a
falta de chuva poderá promover
uma quebra ainda maior. Os produtores dizem que ainda é cedo
para uma avaliação sobre os efeitos da seca, mas concordam que
haverá redução na produção.
José Geraldo Rodrigues de Oliveira, superintendente de produção da Cooxupé, cooperativa que
abrange 103 municípios e que deverá receber 3,6 milhões de sacas
neste ano de produtores de Minas
Gerais e de São Paulo, diz que "a
situação atual é preocupante".
Tradicionalmente, o nível de
chuva nos meses de outubro é de
133 mm. Neste ano, é de apenas 6
mm, diz ele. Essa seca encontra a
planta em estágio debilitado,
principalmente porque os produtores deixaram de cuidar da lavoura devido à alta do dólar, que
encareceu os fertilizantes e os defensivos agrícolas.
Se a produção de Minas Gerais,
o maior produtor nacional, seguir
os passos da região onde atua a
Cooxupé, no sul do Estado, a quebra nacional será grande. Oliveira
diz que a entrega de café dos 9.000
cooperados poderá recuar de 3,6
milhões de sacas neste ano para
apenas 1,6 milhão em 2003, conforme dados ainda preliminares.
Em São Paulo, a seca também
preocupa. Mauro Sandoval Silveira, produtor de Franca, diz que as
plantas também já começam a
sentir a falta de chuva na região. A
primeira florada está comprometida em algumas regiões, mas é difícil dimensionar a quebra porque
as plantas poderão dar novas floradas, diz ele.
Como em Minas Gerais, os produtores de Franca, principalmente os menores, deixaram de cuidar das lavouras nos últimos
anos, o que as torna ainda mais
sensíveis aos fatores climáticos,
segundo o produtor.
No Paraná, Estado que já foi o
principal produtor nacional, a seca também preocupa, mas a produção no Estado vem crescendo.
A geada de 2000 derrubou a produção para apenas 540 mil sacas
em 2001, contra 2,2 milhões de sacas no ano anterior.
O café do Paraná passa por uma
renovação, segundo Margorete
Demarchi, técnica do Deral. A
área plantada no Estado é menor,
mas a produtividade cresce devido ao sistema de adensamento (o
plantio de um número maior de
pés de café por hectare).
No cenário mundial de menor
oferta, e a consequente queda dos
estoques, os preços devem começar um processo de recuperação.
Os produtores brasileiros são os
que têm mais condições de abastecer o mercado mundial, na avaliação de Kfouri.
No final da safra 2002/3, os estoques mundiais vão corresponder
a 42% do consumo de um ano. Já
no final da safra 2003/4, devido à
menor oferta mundial, esse percentual será reduzido para 28%,
avalia a FNP. Esses números poderão significar um período de
elevação de preços a médio e longo prazos, diz Kfouri.
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