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ATA DA DISCÓRDIA
Motivos são a alta do petróleo e o pessimismo do mercado
BC indica que taxa de juros poderá ter altas mais fortes
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A inflação deste ano ficará abaixo do que se esperava, possivelmente dentro das metas fixadas
pelo governo. A economia já dá
sinais de desaceleração, mas esse
desaquecimento ainda não é suficiente para garantir a estabilidade
dos preços. Assim, os juros devem
continuar subindo, talvez num
ritmo mais acelerado do que se
observa desde o mês passado.
Esse é o cenário traçado pela ata
da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), documento em que o Banco Central
expõe os motivos que levaram, na
semana passada, à alta dos juros
-a taxa Selic passou de 16,25%
para 16,75% ao ano.
Foi o segundo aumento seguido
dos juros -em setembro, a alta
foi de 0,25 ponto percentual. Em
comunicado na semana passada,
o BC dizia que as medidas faziam
parte de um "processo de ajuste
moderado" na taxa Selic.
O documento divulgado ontem
diz que, se não houver surpresas,
o processo "terá prosseguimento
na magnitude e no ritmo originalmente previstos" -ou seja, os juros continuarão subindo gradualmente. O BC cita, porém, duas
fontes de incertezas que poderão
levar a um aperto mais forte.
Uma delas é a valorização do
petróleo no mercado internacional. Depois de alguns meses de alta, o BC já admite que o movimento pode não ser temporário,
como julgava inicialmente.
"Talvez venha a ser necessário
incorporar alguma deterioração
diretamente aos cenários básicos
de projeção, em vez de tratá-la,
como tem sido feito até agora, como um mero risco latente à concretização desse cenário", diz a
ata do Copom.
Outra ameaça seria o pessimismo do mercado em relação ao
comportamento da inflação. Segundo levantamento feito periodicamente pelo BC, as projeções
feitas por analistas do mercado financeiro estão cada vez mais distantes das metas traçadas pelo governo para o ano que vem.
O BC diz que não é "guiado pelas expectativas de inflação dos
agentes privados" na hora de fixar
os juros, mas afirma também que
essas estimativas têm "impacto
importante" sobre as taxas praticadas no mercado, o que influencia no controle da inflação.
Mesmo depois de o BC começar
a elevar os juros, no mês passado,
a expectativa de inflação do mercado continuou em alta. Na semana passada, as projeções para a
elevação dos preços em 2005 estavam em 5,89% -a meta do BC
para o período é 5,1%.
Nesse contexto, seria preciso
colocar um freio na retomada do
crescimento. Segundo a ata do
Copom, a desaceleração que já se
observa em alguns setores da economia reflete só uma "tendência
espontânea", já que o impulso
maior para o crescimento teria
ocorrido no período em que o BC
estava reduzindo os juros -entre
junho de 2003 e abril último.
"Embora algum arrefecimento
espontâneo possa estar a caminho, os dados disponíveis não sugerem que seja intenso o bastante
[para garantir o cumprimento
das metas de inflação]", diz o BC.
A preocupação, no caso, seria
com a possibilidade de as empresas não conseguirem atender todo o aumento do consumo trazido pela recuperação da economia,
o que poderia gerar inflação.
O BC reconhece, porém, que,
até o momento, o comportamento dos preços tem ficado até abaixo do esperado. As projeções de
inflação para este ano, segundo a
ata do Copom, foram reduzidas
graças à "surpresa favorável"
apresentada pelo comportamento dos preços no mês passado. A
meta deste ano é de 5,5%, com
margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para
baixo.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)
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