São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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ATA DA DISCÓRDIA

Motivos são a alta do petróleo e o pessimismo do mercado

BC indica que taxa de juros poderá ter altas mais fortes

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A inflação deste ano ficará abaixo do que se esperava, possivelmente dentro das metas fixadas pelo governo. A economia já dá sinais de desaceleração, mas esse desaquecimento ainda não é suficiente para garantir a estabilidade dos preços. Assim, os juros devem continuar subindo, talvez num ritmo mais acelerado do que se observa desde o mês passado.
Esse é o cenário traçado pela ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), documento em que o Banco Central expõe os motivos que levaram, na semana passada, à alta dos juros -a taxa Selic passou de 16,25% para 16,75% ao ano.
Foi o segundo aumento seguido dos juros -em setembro, a alta foi de 0,25 ponto percentual. Em comunicado na semana passada, o BC dizia que as medidas faziam parte de um "processo de ajuste moderado" na taxa Selic.
O documento divulgado ontem diz que, se não houver surpresas, o processo "terá prosseguimento na magnitude e no ritmo originalmente previstos" -ou seja, os juros continuarão subindo gradualmente. O BC cita, porém, duas fontes de incertezas que poderão levar a um aperto mais forte.
Uma delas é a valorização do petróleo no mercado internacional. Depois de alguns meses de alta, o BC já admite que o movimento pode não ser temporário, como julgava inicialmente.
"Talvez venha a ser necessário incorporar alguma deterioração diretamente aos cenários básicos de projeção, em vez de tratá-la, como tem sido feito até agora, como um mero risco latente à concretização desse cenário", diz a ata do Copom.
Outra ameaça seria o pessimismo do mercado em relação ao comportamento da inflação. Segundo levantamento feito periodicamente pelo BC, as projeções feitas por analistas do mercado financeiro estão cada vez mais distantes das metas traçadas pelo governo para o ano que vem.
O BC diz que não é "guiado pelas expectativas de inflação dos agentes privados" na hora de fixar os juros, mas afirma também que essas estimativas têm "impacto importante" sobre as taxas praticadas no mercado, o que influencia no controle da inflação.
Mesmo depois de o BC começar a elevar os juros, no mês passado, a expectativa de inflação do mercado continuou em alta. Na semana passada, as projeções para a elevação dos preços em 2005 estavam em 5,89% -a meta do BC para o período é 5,1%.
Nesse contexto, seria preciso colocar um freio na retomada do crescimento. Segundo a ata do Copom, a desaceleração que já se observa em alguns setores da economia reflete só uma "tendência espontânea", já que o impulso maior para o crescimento teria ocorrido no período em que o BC estava reduzindo os juros -entre junho de 2003 e abril último.
"Embora algum arrefecimento espontâneo possa estar a caminho, os dados disponíveis não sugerem que seja intenso o bastante [para garantir o cumprimento das metas de inflação]", diz o BC. A preocupação, no caso, seria com a possibilidade de as empresas não conseguirem atender todo o aumento do consumo trazido pela recuperação da economia, o que poderia gerar inflação.
O BC reconhece, porém, que, até o momento, o comportamento dos preços tem ficado até abaixo do esperado. As projeções de inflação para este ano, segundo a ata do Copom, foram reduzidas graças à "surpresa favorável" apresentada pelo comportamento dos preços no mês passado. A meta deste ano é de 5,5%, com margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. (NEY HAYASHI DA CRUZ)


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