São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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BASTIDORES

Acusações refletem disputa entre Palocci e Dirceu

KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO

A polêmica entre o Copom (Comitê de Política Monetária) e a Petrobras é mais um reflexo da disputa de bastidores entre a equipe econômica chefiada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) e o grupo do governo mais ligado ao ministro José Dirceu (Casa Civil).
Palocci queria um reajuste maior da gasolina do que o concedido no meio do mês passado (4% no preço da gasolina nas refinarias da estatal e de 6% no diesel) e deseja que um novo aumento ocorra o mais breve possível. Já o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, que se alia a Dirceu nos debates econômicos do governo, atua por um reajuste a conta-gotas.
A posição de Palocci é resultado de discussões na equipe econômica, tanto na Fazenda como no BC, para combater um suposto uso político da Petrobras, segurando o preço da gasolina no período eleitoral e usando a empresa para fazer política econômica.
Para o grupo de Palocci, a prioridade é manter a saúde financeira e a lucratividade da Petrobras em primeiro lugar. Isso manteriam a credibilidade da atual política econômica. Ou seja, uma visão pró-mercado e menos do "velho PT" (intervencionista). Já a ala liderada por Dirceu gostaria de que a estatal fosse usada como um instrumento de política econômica pelo peso que tem no país.
No final de setembro, Palocci venceu um round dessa disputa ao obter do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um sinal verde para o reajuste da gasolina.
Palocci argumentava naquela época que se esgotara a reserva de até US$ 2 bilhões da Petrobras para absorver variações do preço externo do produto e que a alta do barril de petróleo no mercado internacional demandava um forte reajuste.
Até o argumento de que um aumento passaria a imagem de que o governo não brinca com a economia em época eleitoral foi usado por Palocci para convencer Lula, que gosta de vender esse discurso até quando discorda de medidas de sua administração.
Após o sinal verde, Dutra ainda segurou um pouco o reajuste, mas ele veio num nível que Palocci julgou pequeno diante da alta do petróleo no exterior. Daí o ministro ter dado entrevista no mesmo dia do aumento, deixando claro que outros reajustes viriam.
A reação de Dirceu e de Dutra, ex-senador do PT de Sergipe e político com visão discordante de uma linha de política econômica que julga ortodoxa em excesso, foi bater na tecla de que a Petrobras, por produzir cerca de 90% do petróleo consumido no país, teria condições de amainar os efeitos da alta internacional e, assim, pressionar menos a inflação.
Para esse grupo, o Copom erra ao alimentar expectativa de novos aumentos, porque isso influencia os agentes econômicos, que passam a aguardar um reajuste que a Petrobras preferiria não conceder ou dar num patamar menor.
Para consumo público, a exemplo das discussões sobre a correção do recente aumento da taxa básica de juros (Selic) de 16,25% para 16,75% ao ano, o governo deverá tentar negar divergências e bater na tecla de que não há interferência política na discussão dos preços dos combustíveis.


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