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BASTIDORES
Acusações refletem disputa entre Palocci e Dirceu
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
A polêmica entre o Copom
(Comitê de Política Monetária) e a Petrobras é mais um reflexo da disputa de bastidores entre
a equipe econômica chefiada pelo
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e o grupo do governo
mais ligado ao ministro José Dirceu (Casa Civil).
Palocci queria um reajuste
maior da gasolina do que o concedido no meio do mês passado
(4% no preço da gasolina nas refinarias da estatal e de 6% no diesel)
e deseja que um novo aumento
ocorra o mais breve possível. Já o
presidente da Petrobras, José
Eduardo Dutra, que se alia a Dirceu nos debates econômicos do
governo, atua por um reajuste a
conta-gotas.
A posição de Palocci é resultado
de discussões na equipe econômica, tanto na Fazenda como no BC,
para combater um suposto uso
político da Petrobras, segurando
o preço da gasolina no período
eleitoral e usando a empresa para
fazer política econômica.
Para o grupo de Palocci, a prioridade é manter a saúde financeira e a lucratividade da Petrobras
em primeiro lugar. Isso manteriam a credibilidade da atual política econômica. Ou seja, uma visão pró-mercado e menos do "velho PT" (intervencionista). Já a ala
liderada por Dirceu gostaria de
que a estatal fosse usada como um
instrumento de política econômica pelo peso que tem no país.
No final de setembro, Palocci
venceu um round dessa disputa
ao obter do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva um sinal verde para
o reajuste da gasolina.
Palocci argumentava naquela
época que se esgotara a reserva de
até US$ 2 bilhões da Petrobras para absorver variações do preço externo do produto e que a alta do
barril de petróleo no mercado internacional demandava um forte
reajuste.
Até o argumento de que um aumento passaria a imagem de que
o governo não brinca com a economia em época eleitoral foi usado por Palocci para convencer
Lula, que gosta de vender esse discurso até quando discorda de medidas de sua administração.
Após o sinal verde, Dutra ainda
segurou um pouco o reajuste,
mas ele veio num nível que Palocci julgou pequeno diante da alta
do petróleo no exterior. Daí o ministro ter dado entrevista no mesmo dia do aumento, deixando
claro que outros reajustes viriam.
A reação de Dirceu e de Dutra,
ex-senador do PT de Sergipe e político com visão discordante de
uma linha de política econômica
que julga ortodoxa em excesso,
foi bater na tecla de que a Petrobras, por produzir cerca de 90%
do petróleo consumido no país,
teria condições de amainar os
efeitos da alta internacional e, assim, pressionar menos a inflação.
Para esse grupo, o Copom erra
ao alimentar expectativa de novos
aumentos, porque isso influencia
os agentes econômicos, que passam a aguardar um reajuste que a
Petrobras preferiria não conceder
ou dar num patamar menor.
Para consumo público, a exemplo das discussões sobre a correção do recente aumento da taxa
básica de juros (Selic) de 16,25%
para 16,75% ao ano, o governo deverá tentar negar divergências e
bater na tecla de que não há interferência política na discussão dos
preços dos combustíveis.
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