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ANÁLISE
Episódio revela contradições da política econômica de Lula
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A instituição mais poderosa do Poder Executivo entrou em conflito com a maior empresa do país. Tanto o Banco Central como a Petrobras são subordinados ao governo, mas proclamam ter autonomia -e, agora,
ambos põem em xeque a autonomia do oponente e trazem à tona
contradições da política econômica de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na ata do Copom divulgada ontem, o BC, quase explicitamente,
repreendeu o governo por atrasar
o reajuste da gasolina neste ano
eleitoral. Pelo discurso oficial, a
monopolista Petrobras decide sozinha seus preços, com base nos
preços internacionais e na taxa de
câmbio, sem dar atenção às conveniências políticas.
Foi uma espécie de resposta às
críticas, explícitas e veladas, aos
aumentos da taxa de juros. O BC
alega que, enquanto segue "indefinida" a decisão de um aumento
de combustíveis que pode ser
"postergado, mas não evitado", a
tendência é o juro subir mais.
A justificativa apresentada diversas vezes pela Petrobras, de
que é preciso aguardar a consolidação das cotações internacionais
do petróleo antes de elevar os preços internos, não é levada muito a
sério pelo BC. "Não só aumentaram as cotações correntes e esperadas para o curtíssimo prazo como ganhou força a perspectiva de
que os preços se sustentem em
patamares bastante elevados por
um período mais longo", diz a ata.
E o BC nem sequer menciona o
reajuste aplicado à gasolina no dia
14, de 4% nas refinarias, num sinal da relevância a ele atribuída.
Em seu contra-ataque, a Petrobras parece ir além da questão e
avançar sobre o mérito da política
do BC: "Esperamos que o Copom
continue observando sua função
precípua de monitoramento da
política monetária e das taxas de
juros, procurando aprimorar o
modelo que vem sendo adotado,
em benefício da economia do
país". A empresa diz que o BC extrapola seus poderes ao divulgar
suas projeções para a evolução
dos preços dos combustíveis, "sugerindo haver um tabelamento de
preços que não existe no país"
-trata-se de um exagero explicável pela irritação com as críticas
recebidas.
A discussão técnica só faz sentido se analisado o contexto político. O BC, presidido por um ex-banqueiro eleito deputado pelo
PSDB, é um corpo estranho no
governo Lula. Sua política de juros ortodoxa só é tolerada em razão da necessidade de acalmar o
mercado e da inexistência de um
plano alternativo.
O mal-estar foi reavivado neste
segundo semestre, quando o BC,
contrariando a retórica petista,
entendeu que o atual ritmo de
crescimento não é sustentável e
precisa ser freado por aumentos
de juros. A gota d'água foi listar
entre os culpados a "autônoma"
Petrobras, presidida pelo petista
José Eduardo Dutra.
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