São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Para tentar diminuir o ritmo de crescimento do país, governo decide elevar a taxa para 5,58%

Juros na China têm 1ª alta em nove anos

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

O banco central da China elevou a taxa básica de juros do país pela primeira vez em nove anos, em uma indicação de que o governo considera insuficientes as medidas adotadas até agora para controlar o ritmo de crescimento da economia, que teve expansão de 9,5% nos nove primeiros meses de 2004 em relação a igual período do ano passado.
Em nota veiculada em seu site na internet, a autoridade monetária comunicou o aumento dos juros em 0,27 ponto percentual, o que significa a elevação de 5,31% para 5,58% da taxa básica de um ano para operações de empréstimo. No caso de depósitos, a taxa de referência de um ano passou de 1,98% para 2,25%. O banco central também ampliou a faixa de flutuação dos juros para empréstimos em yuans.
Como a inflação do país está na casa de 5%, porém, a taxa de juros real chinesa é praticamente zero. A do Brasil, por exemplo, beira os 10%, com taxa básica de 16,75%.
As mudanças entram em vigor hoje, uma semana depois de o Departamento Nacional de Estatísticas divulgar que o PIB do terceiro trimestre teve expansão de 9,1% em relação ao terceiro trimestre de 2003. Nos três meses anteriores, o crescimento havia sido de 9,7%.
Na nota oficial, o banco central afirma que a alta dos juros tem o objetivo de "consolidar os ajustes macroeconômicos" adotados pelo governo e manter o "contínuo, rápido, coordenado e saudável desenvolvimento da economia nacional".
Desde abril, o governo vem adotando medidas para frear o ritmo de crescimento, considerado insustentável. Naquele mês, o banco central elevou de 7,0% para 7,5% o depósito compulsório que os bancos têm de manter junto à autoridade monetária, o que tirou de circulação US$ 13 bilhões.

Medida clássica
A partir de então, o governo optou por medidas de caráter administrativo, como o veto a novos empréstimos a setores superaquecidos da economia, entre os quais aço e cimento. A alta dos juros é a primeira decisão clássica de política monetária a ser adotada nos últimos seis meses.
Apesar de reduzir o ritmo de expansão no terceiro trimestre, a economia ainda cresceu bem acima dos 7% projetados pelo primeiro-ministro Wen Jiabao no início do ano. A alta dos investimentos também desacelerou o passo, mas acumulou expansão de 27,7% nos primeiros nove meses do ano, comparados a 30,3% no período janeiro-agosto.
A inflação é outra fonte de preocupação da autoridade monetária. Nos últimos três meses, o Índice de Preços ao Consumidor subiu acima do estimado pelo governo. Em julho, o indicador foi de 5,0% e, nos dois meses seguintes, 5,3%. A expectativa do governo era que a inflação estivesse próxima de 3% em setembro.
A alta na taxa de juros vinha sendo defendida por vários economistas chineses e foi objeto de editorial publicado na semana passada no "Diário do Povo", jornal oficial do Partido Comunista da China.
As medidas adotadas nos últimos meses foram insuficientes para esfriar determinados setores da economia. Um dos mais impermeáveis às decisões governamentais é o segmento imobiliário, que teve alta de preços de 9,9% no terceiro trimestre de 2004, comparado a igual período do ano passado.


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