São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Dilma e Mantega tentam afastar Meirelles

Num eventual segundo mandato, ministros querem corte maior de juros para possibilitar crescimento de 5% ao ano

Presidente do BC é contra queda brusca na taxa, o que, a seu ver, seria o caminho de volta da inflação na metade do próximo mandato

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A velocidade na queda dos juros após as eleições e, conseqüentemente, a permanência ou não de Henrique Meirelles no comando do Banco Central estarão no centro dos debates das próximas semanas sobre o futuro da economia no eventual segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Apostando que o favoritismo de Lula nas pesquisas se confirmará nas urnas hoje, um grupo capitaneado por Dilma Rousseff (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda) e Tarso Genro (Relações Institucionais) já defende abertamente uma queda brusca na taxa de juros em 2007 como condição para o país crescer 5% ao ano ou mais nos próximos anos.
Como resiste a essa medida, Meirelles já é o alvo das pressões na montagem da nova equipe econômica. Nos planos do grupo de Dilma, Guido e Tarso, Meirelles seria trocado. Não por um autêntico desenvolvimentista, mas por alguém mais afinado com a tese de que seria preciso e possível derrubar os juros de forma mais vigorosa e rápida.
A crítica principal a Meirelles: sua equipe no Banco Central teria "concepção" de política econômica que dificilmente mudará. Daí ser necessário trocá-lo. Nas discussões reservadas do governo, Lula sempre ouve que o BC teve um "espaço monstruoso" para reduzir os juros numa velocidade maior e preferiu o ritmo gradual. Ou seja, sacrificou o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) por erro de dosagem.
Alguns assessores do presidente julgam pequena a possibilidade de Meirelles ficar num eventual segundo mandato. Ele, por seu lado, tem manifestado desejo de ficar, mas somente com respaldo completo do presidente Lula. Caso contrário, prefere sair como "vitorioso".
A defesa de uma queda brusca nos juros realmente não tem o apoio de Meirelles. Em conversas reservadas, ele diz que seria o caminho para a volta da inflação na metade do segundo mandato de Lula.
Por outro lado, há tiroteio contra Mantega, que não parte apenas daqueles que apóiam Meirelles, como o ex-ministro Antonio Palocci, petista ainda com prestígio com Lula. Outros integrantes do governo e da cúpula do PT também gostariam de vê-lo fora da Fazenda.
Até agora, para o lugar de Mantega os nomes cotados são os de dois economistas: Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, e José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras.
Não por acaso, Pimentel passou os últimos dois meses fazendo uma espécie de "début" no mercado financeiro. Intercalou a agenda de prefeito com vários encontros com analistas e investidores. O tema era sempre a agenda nacional num eventual segundo mandato. E Pimentel agradou com um "discurso reformista". Segundo a Folha apurou, em pelo menos dois encontros ele angariou simpatia ao seu nome ao defender reformas como a da Previdência, que causa polêmica no PT, além da tributária.
Foi classificado pelos interlocutores como "um novo Palocci", médico e ex-prefeito de Ribeirão Preto, desconhecido do cenário nacional, que surpreendeu em 2002 com idéias mais próximas do liberalismo tucano do que com o radicalismo petista que assustava os investidores à época.
A partir dessas conversas e com o trabalho de bastidor que o próprio Palocci vem fazendo com o mercado financeiro, ficou a impressão no setor que o discurso mais populista de Lula e Mantega é apenas para campanha. A leitura é que, se assumir a Fazenda, Pimentel teria outro perfil, como hoje acontece com Mantega.


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