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Dilma e Mantega tentam afastar Meirelles
Num eventual segundo mandato, ministros querem corte maior de juros para possibilitar crescimento de 5% ao ano
Presidente do BC é contra
queda brusca na taxa, o que,
a seu ver, seria o caminho de
volta da inflação na metade
do próximo mandato
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE
BRASÍLIA
KENNEDY ALENCAR
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A velocidade na queda dos juros após as eleições e, conseqüentemente, a permanência
ou não de Henrique Meirelles
no comando do Banco Central
estarão no centro dos debates
das próximas semanas sobre o
futuro da economia no eventual segundo mandato de Luiz
Inácio Lula da Silva.
Apostando que o favoritismo
de Lula nas pesquisas se confirmará nas urnas hoje, um grupo
capitaneado por Dilma Rousseff (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda) e Tarso Genro
(Relações Institucionais) já defende abertamente uma queda
brusca na taxa de juros em
2007 como condição para o
país crescer 5% ao ano ou mais
nos próximos anos.
Como resiste a essa medida,
Meirelles já é o alvo das pressões na montagem da nova
equipe econômica. Nos planos
do grupo de Dilma, Guido e
Tarso, Meirelles seria trocado.
Não por um autêntico desenvolvimentista, mas por alguém
mais afinado com a tese de que
seria preciso e possível derrubar os juros de forma mais vigorosa e rápida.
A crítica principal a Meirelles: sua equipe no Banco Central teria "concepção" de política econômica que dificilmente
mudará. Daí ser necessário trocá-lo. Nas discussões reservadas do governo, Lula sempre
ouve que o BC teve um "espaço
monstruoso" para reduzir os
juros numa velocidade maior e
preferiu o ritmo gradual. Ou seja, sacrificou o crescimento do
PIB (Produto Interno Bruto)
por erro de dosagem.
Alguns assessores do presidente julgam pequena a possibilidade de Meirelles ficar num
eventual segundo mandato.
Ele, por seu lado, tem manifestado desejo de ficar, mas somente com respaldo completo
do presidente Lula. Caso contrário, prefere sair como "vitorioso".
A defesa de uma queda brusca nos juros realmente não tem
o apoio de Meirelles. Em conversas reservadas, ele diz que
seria o caminho para a volta da
inflação na metade do segundo
mandato de Lula.
Por outro lado, há tiroteio
contra Mantega, que não parte
apenas daqueles que apóiam
Meirelles, como o ex-ministro
Antonio Palocci, petista ainda
com prestígio com Lula. Outros
integrantes do governo e da cúpula do PT também gostariam
de vê-lo fora da Fazenda.
Até agora, para o lugar de
Mantega os nomes cotados são
os de dois economistas: Fernando Pimentel, prefeito de
Belo Horizonte, e José Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobras.
Não por acaso, Pimentel passou os últimos dois meses fazendo uma espécie de "début"
no mercado financeiro. Intercalou a agenda de prefeito com
vários encontros com analistas
e investidores. O tema era sempre a agenda nacional num
eventual segundo mandato. E
Pimentel agradou com um
"discurso reformista". Segundo
a Folha apurou, em pelo menos dois encontros ele angariou simpatia ao seu nome ao
defender reformas como a da
Previdência, que causa polêmica no PT, além da tributária.
Foi classificado pelos interlocutores como "um novo Palocci", médico e ex-prefeito de
Ribeirão Preto, desconhecido
do cenário nacional, que surpreendeu em 2002 com idéias
mais próximas do liberalismo
tucano do que com o radicalismo petista que assustava os investidores à época.
A partir dessas conversas e
com o trabalho de bastidor que
o próprio Palocci vem fazendo
com o mercado financeiro, ficou a impressão no setor que o
discurso mais populista de Lula e Mantega é apenas para
campanha. A leitura é que, se
assumir a Fazenda, Pimentel
teria outro perfil, como hoje
acontece com Mantega.
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