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Queda de juros viria com redução de gastos
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O núcleo desenvolvimentista
do governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já defende
taxa de juros reais de 5% ao ano
para turbinar o crescimento da
economia num eventual segundo mandato. Mas o único caminho para conseguir baixar os
juros sem travar uma queda-de- braço com o mercado financeiro será um forte compromisso do governo com o corte
de gastos no ano que vem.
O governo já vem estudando
propostas para conter os gastos. Um plano de ajuste de longo prazo que faça as despesas
crescerem num ritmo mais lento que o PIB e uma fórmula de
reajuste para o salário mínimo
estão entre as opções analisadas. Mas a equipe econômica
de um eventual segundo mandato do presidente Lula precisará de mais que promessas.
Será preciso apresentar um
programa consistente para
convencer o mercado financeiro e o Banco Central, abrindo
espaço para a queda nos juros.
De acordo com as projeções
feitas pelo mercado financeiro,
os juros reais devem chegar ao
fim de 2007 entre 7% e 8% ao
ano. Atualmente, essa taxa está
em quase 9% ao ano. Nos dois
casos, bem distante dos 5%
anuais que defendem os desenvolvimentistas do governo.
A taxa de juros reais desconta
da Selic fixada pelo BC a perda
de poder da moeda, representada pela inflação, e, por isso,
equivale ao custo efetivo do dinheiro na economia. Assim,
quanto mais elevada a taxa, menor o crescimento.
"É o fiscal, o fiscal e o fiscal",
diz o diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, sobre o
que pode acelerar a queda dos
juros no ano que vem.
A importância que o mercado financeiro dá ao corte nos
gastos correntes -que incluem
pagamento de servidores, aposentados, pensionistas, programas sociais e funcionamento
da máquina pública- é explicada pelo fato de que, ao aumentar suas despesas o governo é
obrigado, de um lado, a manter
a carga de impostos elevada para cobrar as despesas. Isso reduz a capacidade de consumo e
investimento das pessoas e das
empresas.
Além de recolher muito imposto, o governo não consegue
cobrir todos os gastos e tem que
tomar dinheiro emprestado no
mercado, elevando os juros e
reduzindo mais uma vez a oferta de crédito para consumo e
investimento.
Na teoria, a taxa de juros serve para equilibrar a oferta e a
demanda de bens e serviços e
evitar altas de preços. Assim,
quando o governo gasta, aumenta a demanda da economia.
Para compensar o impulso
dado pelo lado dos gastos governamentais, o BC tem que
manter os juros mais altos,
contendo o consumo e os investimentos. Se o BC não faz isso, a inflação sobe.
Na visão dos economistas do
mercado, portanto, o aumento
de gastos que a União vem promovendo desde o ano passado
é, na verdade, uma armadilha
que freia o crescimento.
De um lado, o governo ocupa
o espaço que deveria ser do investimento. Com isso, compromete a capacidade de expansão
da oferta na economia e, portanto, o crescimento futuro.
"A alta taxa de juros reais no
Brasil tem a ver com a capacidade de produção da economia.
Se o governo abrir espaço para
o investimento, a capacidade
produtiva vai aumentar e o BC
poderá cortar juros sem tanto
receio", diz o economista-chefe
do banco Santander Banespa,
André Loes.
Há ainda o agravante da credibilidade. É que o aumento de
gastos no último ano esteve
concentrado em despesas que
não podem ser reduzidas no futuro, como o pagamento de
aposentadorias. Assim, apesar
de ainda não vislumbrarem riscos para cumprir a meta de superávit primário de 2007, o
mercado desconfia da capacidade do governo de continuar o
ajuste fiscal nos próximos anos.
"Não adianta fazer uma promessa, porque promessas não
foram cumpridas. O governo
tem que mostrar que está realmente comprometido com um
corte de despesas para que a taxa de juros reais possa cair mais
rapidamente", explica o economista Caio Megale, da Mauá Investimentos.
O BC também reconhece o
estrago que a elevação dos gastos públicos tem na política
monetária, embora o faça de
maneira um tanto indireta. Como o responsável pela liberação do dinheiro é o Ministério
da Fazenda, o BC não critica
abertamente a política fiscal
para não abrir uma guerra dentro da equipe econômica.
Mas não deixa de registrar
nas atas do Copom os "impulsos fiscais" dados pelo aumento
do salário mínimo e pelos reajustes ao funcionalismo.
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