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Se reeleito, Lula vai usar âncora fiscal
Governo já tem preparada uma agenda econômica mínima para ser implementada em um eventual segundo mandato
Medidas incluem manter o
superávit primário, regra
permanente para reajuste
do mínimo e colocar em lei
limite de alta nas despesas
DO DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL
DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fora a disputa pela velocidade na queda das taxas de juros,
o governo Lula já tem pronta
uma agenda econômica mínima a ser implementada num
eventual segundo mandato.
A idéia é acenar, ao mesmo
tempo, com medidas que irão
estimular o crescimento da
economia e também garantir
que o governo não fugirá de sua
responsabilidade na área fiscal
- agradando assim aos empresários e ao mercado.
Uma missão nada fácil, já que
passa por questões polêmicas
como alterações em regras de
aposentadorias e pensões, controle rígido de despesas públicas sem cortar investimentos
sociais e redução de impostos.
Entre as medidas já relacionadas pelo governo estão:
1) Programa de ajuste fiscal
de médio e longo prazos, sinalizando ao mercado que haverá
uma queda constante nos gastos públicos;
2) Manutenção do superávit
primário de 4,25% do PIB no
médio prazo;
3) Regra permanente de reajuste do salário mínimo, evitando picos de reajustes como o
concedido neste ano, de 13%
em termos reais;
4) Programa de desoneração
de impostos, direcionado para
estimular investimentos na atividade produtiva;
5) Mudanças pontuais nas
regras da Previdência;
6) Regulamentação do direito de greve no serviço público;
7) Acelerar o ritmo de concessões públicas de estradas,
ferrovias, portos e hidrovias;
8) Renovação da CPMF e da
DRU (Desvinculação de Recursos da União), medidas que terão de ser negociadas com governadores durante a reforma
tributária.
No campo do ajuste fiscal, a
idéia é estabelecer em lei que as
despesas do governo terão de
crescer menos que o PIB (Produto Interno Bruto, medida das
riquezas do país), proposta ensaiada durante o primeiro
mandato, mas não adotada.
Um programa de ajuste fiscal
de longo prazo, com vistas a zerar o déficit público, chegou a
ser elaborado pelo ex-ministro
da Fazenda Antonio Palocci e
por Paulo Bernardo, que comanda o Planejamento.
Porém, ele acabou arquivado
diante da resistência do grupo
liderado por Dilma Rousseff
(Casa Civil), de olho na necessidade de elevar os gastos para
garantir a reeleição de Lula.
Agora, haveria um consenso
dentro do governo sobre a
idéia, defendida pelo deputado
Delfim Netto (PMDB-SP), cotado para assumir um posto no
governo e interlocutor freqüente do presidente. O próprio Guido Mantega (Fazenda)
tem defendido a proposta.
No caso do salário mínimo, a
proposta também não é nova.
Em discussão no Congresso
Nacional, ela prevê que o aumento real do mínimo a cada
ano seja definido de acordo
com o crescimento do PIB per
capita do país - a divisão das riquezas do país pelo seu número
de habitantes.
Depois de conceder um elevado aumento real neste ano
eleitoral, Lula sabe que não tem
condições de manter reajustes
nesse ritmo sem explodir as
contas da Previdência. Daí querer uma regra permanente, para fugir das batalhas anuais em
torno do assunto.
Depois de passar boa parte da
campanha negando a necessidade de uma nova reforma na
Previdência, tema que causa
muito desgaste ao governo, a
equipe do presidente Lula trabalha com a possibilidade de alterar a base de cálculo da contribuição empresarial.
Parte deixaria de ser sobre a
folha de pagamento, passando
a incidir sobre o valor agregado
de cada empresa.
A idéia é, com isso, estimular
a formalização de empregos, o
que ajudaria a elevar a arrecadação da Previdência, diminuindo o rombo que pesa nos
cofres públicos e coloca em dúvida a capacidade de o governo
gerar superávits primários suficientes para reduzir a dívida
pública.
Mas isso ainda depende de
estudos mais profundos para
verificar se a mudança realmente desonera as empresas o
suficiente para compensar a
perda de arrecadação inicial
que o governo terá. Isso porque
levantamento feito logo após a
reforma de Previdência de
2003 mostrou que a contribuição das empresas respondia
por 70% da arrecadação do setor previdenciário. O restante
era referente ao pagamento feito pelos trabalhadores.
Base de apoio
Tudo isso, no entanto, dependerá da articulação de uma
boa base de apoio no Congresso. Apesar do clima de guerra
instalado durante a disputa
eleitoral, a equipe econômica
atual está certa de que contará
com o apoio do PSDB e do PFL
para aprovar projetos no Congresso em uma eventual reeleição de Lula.
A reforma tributária é mencionada como um ponto que interessa também aos partidos de
oposição. O mesmo ocorreria
com as mudança no setor da
Previdência.
(VALDO CRUZ E SHEILA D'AMORIM)
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