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Contribuições sobem com Lula, e receita fica toda com a União
Governo priorizou aumentos do PIS/Cofins e da contribuição social para não dividir arrecadação com Estados e municípios
Aumentos para empresas acabaram sendo repassados aos preços dos produtos e dos serviços, levando os consumidores a pagar mais
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu na
quarta-feira, finalmente, que
houve aumento da carga tributária no governo Lula.
Esse aumento onerou mais
as empresas do que as pessoas
físicas, recaindo principalmente sobre as contribuições sociais, pois estas não precisam
ser repartidas com os Estados e
os municípios, como ocorre
com os impostos.
A tática adotada pelo governo federal é simples: elevar as
contribuições e, em contrapartida, reduzir os impostos. No
quadro ao lado, o leitor tem
uma idéia do resultado dos aumentos a partir de 2003.
Os principais aumentos foram os seguintes: a Cofins para
as empresas em geral passou de
3% para 7,6% a partir de fevereiro de 2004; a Cofins para os
bancos subiu de 3% para 4% a
partir de setembro de 2003; o
PIS e a Cofins passaram a ser
cobrados sobre as importações
a partir de maio de 2004; e a base de cálculo da CSLL das empresas tributadas pelo lucro
presumido foi aumentada de
12% para 32% desde setembro
de 2003. O PIS subiu de 0,65%
para 1,65% desde janeiro de
2003, mas esse aumento, embora começasse a vigorar na administração Lula, foi adotado
no governo FHC.
Na ocasião, o governo alegou
que o aumento do PIS e da Cofins era necessário porque a cobrança deixaria de ser feita de
forma cumulativa (sobre todas
as etapas de produção) para incidir sobre o valor agregado.
Na quarta-feira, Mantega
disse que a cobrança do PIS e da
Cofins sobre os importados
tornou as condições de concorrência mais justas para os produtos nacionais.
Outro aumento para as empresas, embora de menor magnitude, ocorreu a partir de janeiro de 2004, com a elevação
de 50% nos impostos pagos pelas micro e empresas de pequeno porte optantes do Simples
que têm 30% ou mais de sua receita bruta proveniente da
prestação de serviços.
O fato de não elevar diretamente a carga tributária sobre
os rendimentos dos trabalhadores -ao contrário, na gestão
Lula a tabela de desconto do IR
na fonte foi corrigida duas vezes: em 10% em janeiro de 2005
e em 8% em fevereiro deste
ano-, não quer dizer que as
pessoas não estejam pagando
mais tributos no governo Lula.
Indiretamente, estão pagando mais. Isso ocorre porque todos aqueles aumentos impostos às empresas acabaram sendo repassados aos preços dos
produtos e dos serviços. Assim,
quem consome aqueles produtos e serviços acaba pagando
mais tributos.
Apesar da "bondade" de corrigir duas vezes a tabela do IR
na fonte, o governo Lula aproveitou a última ocasião para fazer uma "maldade": transformou em definitiva a alíquota
máxima de 27,5% do IR das
pessoas físicas. Depois de várias prorrogações, essa alíquota
deveria ser reduzida para 25%.
Mas isso não ocorreu.
Em quatro anos, mais 29%
No primeiro ano sob Lula, a
receita com as contribuições
sociais (CPMF, PIS, Pasep, Cofins, CSLL e Cide sobre combustíveis) avançou cerca de 2%.
Em 2004, houve um salto, com
a receita crescendo 15%. Em
2005, mais um avanço, desta
vez de 6,7%. Se a alta deste ano
ficar em 3,6%, a receita alcançará R$ 186,77 bilhões. Assim,
em quatro anos da gestão Lula a
receita subirá 29,2% em comparação ao último ano de FHC.
Entre as contribuições, apenas uma parte (25%) da Cide é
destinada aos Estados e ao Distrito Federal. Do valor recebido, os Estados repassam 25%
aos seus municípios.
Segundo a advogada Elisabeth Libertuci, do escritório Libertuci Advogados Associados,
essa política adotada pelo governo federal -arrecadar mais
via contribuições- "solidifica a
União como senhor feudal em
relação aos governantes estaduais e municipais".
O efeito dessa política tributária é negativo, pois o reflexo
da maior taxação sobre as empresas é o aumento de preços.
"E esses aumentos recaem sobre as pessoas físicas, que acabam pagando mais na hora de
consumir os produtos."
Para Libertuci, "uma política
tributária justa é aquela que tributa menos a produção e mais a
renda". Isso ocorre em países
do Primeiro Mundo (EUA, Alemanha, Reino Unido, Canadá,
Holanda, França, Japão, Itália,
Dinamarca etc.), onde a carga
tributária sobre bens e serviços
é de 33%, em média, e a sobre a
renda, de 46%. No Brasil, ocorre o inverso: os bens e serviços
são tributados em 63% e a renda, em 26%, em média.
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