São Paulo, segunda-feira, 29 de outubro de 2007

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Empresários reagem contra concorrência de espanhóis

Grupos nacionais apontam competição desleal e decidem cobrar medidas do governo

Vantagens concedidas pela Espanha para investimentos de suas companhias no exterior são alvo das reclamações de brasileiros

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

As grandes empresas brasileiras se preparam para tentar conter a invasão de grupos privados espanhóis no país. As companhias nacionais estão reunindo dados para apresentar ao governo um amplo levantamento mostrando que os espanhóis se beneficiam de práticas vistas como desleais, em investimentos realizados fora de seu país de origem.
Nos últimos meses, vários grupos espanhóis adquiriram negócios importantes no Brasil, em diferentes áreas. Os lances que mais chamaram a atenção foram a compra do ABN Amro Real pelo Santander, as cinco das sete concessões de rodovias federais vencidas pela empresa OHL e a compra da dona da TIM pela Telefónica.
O que os empresários brasileiros levantam são as vantagens concedidas pelo governo espanhol para suas empresas comprarem negócios em outros países, principalmente na América Latina. Os estímulos concedidos pelo governo da Espanha chegam a representar 25% do total do investimento.
No trabalho de levantamento de dados, os brasileiros destrincham, entre outras coisas, uma ação movida pela Comissão Européia contra a Espanha por práticas consideradas desleais pelos outros países do bloco.
A disposição do empresariado nacional é de denunciar a ação dos espanhóis ao governo, para que se discuta alguma iniciativa com o objetivo de neutralizar os benefícios da Espanha ou dar isonomia de condições às empresas daqui. "Se chegarmos à conclusão de que a Espanha adota práticas não-aceitas ou indevidas pelas regras internacionais, claro que temos o dever de levar adiante essa história", diz Paulo Godoy, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base).
Godoy afirma que não se trata de uma iniciativa com o objetivo de coibir a concorrência com os grupos empresariais espanhóis, mas, sim, um levantamento para avaliar se as condições adotadas na Espanha estão de acordo com as regras internacionais de comércio.
Carlo Botarelli, presidente da Triunfo Participações e Investimentos, concessionária de portos, rodovias e empresas de energia elétrica, afirma que, além das instituições de classe, cabe à ANTT (Associação Nacional de Transportes Terrestres), a agência reguladora do setor rodoviário, garantir e zelar pelo princípio da isonomia entre as empresas. Procurada pela Folha, a ANTT disse que não comentaria o assunto.
"Nós, empresas brasileiras, gostaríamos de ter as mesmas garantias e condições que as espanholas", diz Botarelli.
Para Anselmo Lopes Rodrigues, superintendente do grupo agroindustrial Santa Elisa, "é um absurdo as empresas brasileiras terem condições piores do que as estrangeiras".
O fato é que os empresários brasileiros estão preocupados com essa concorrência. A primeira manifestação pública denunciando a preocupação foi dada pelo empresário Fernando Arruda Botelho, da empreiteira Camargo Corrêa, na quinta-feira, na coluna de Mônica Bergamo, na Folha. Segundo ele, os espanhóis "vão arrebentar com os brasileiros".

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