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Empresários reagem contra concorrência de espanhóis
Grupos nacionais apontam competição desleal e decidem cobrar medidas do governo
Vantagens concedidas pela Espanha para investimentos de suas companhias no exterior são alvo das reclamações de brasileiros
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As grandes empresas brasileiras se preparam para tentar
conter a invasão de grupos privados espanhóis no país. As
companhias nacionais estão
reunindo dados para apresentar ao governo um amplo levantamento mostrando que os espanhóis se beneficiam de práticas vistas como desleais, em investimentos realizados fora de
seu país de origem.
Nos últimos meses, vários
grupos espanhóis adquiriram
negócios importantes no Brasil, em diferentes áreas. Os lances que mais chamaram a atenção foram a compra do ABN
Amro Real pelo Santander, as
cinco das sete concessões de
rodovias federais vencidas pela
empresa OHL e a compra da
dona da TIM pela Telefónica.
O que os empresários brasileiros levantam são as vantagens concedidas pelo governo
espanhol para suas empresas
comprarem negócios em outros países, principalmente na
América Latina. Os estímulos
concedidos pelo governo da Espanha chegam a representar
25% do total do investimento.
No trabalho de levantamento
de dados, os brasileiros destrincham, entre outras coisas, uma
ação movida pela Comissão
Européia contra a Espanha por
práticas consideradas desleais
pelos outros países do bloco.
A disposição do empresariado nacional é de denunciar a
ação dos espanhóis ao governo,
para que se discuta alguma iniciativa com o objetivo de neutralizar os benefícios da Espanha ou dar isonomia de condições às empresas daqui. "Se
chegarmos à conclusão de que a
Espanha adota práticas não-aceitas ou indevidas pelas regras internacionais, claro que
temos o dever de levar adiante
essa história", diz Paulo Godoy,
presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base).
Godoy afirma que não se trata de uma iniciativa com o objetivo de coibir a concorrência
com os grupos empresariais espanhóis, mas, sim, um levantamento para avaliar se as condições adotadas na Espanha estão de acordo com as regras internacionais de comércio.
Carlo Botarelli, presidente
da Triunfo Participações e Investimentos, concessionária de
portos, rodovias e empresas de
energia elétrica, afirma que,
além das instituições de classe,
cabe à ANTT (Associação Nacional de Transportes Terrestres), a agência reguladora do
setor rodoviário, garantir e zelar pelo princípio da isonomia
entre as empresas. Procurada
pela Folha, a ANTT disse que
não comentaria o assunto.
"Nós, empresas brasileiras,
gostaríamos de ter as mesmas
garantias e condições que as espanholas", diz Botarelli.
Para Anselmo Lopes Rodrigues, superintendente do grupo agroindustrial Santa Elisa,
"é um absurdo as empresas
brasileiras terem condições
piores do que as estrangeiras".
O fato é que os empresários
brasileiros estão preocupados
com essa concorrência. A primeira manifestação pública
denunciando a preocupação foi
dada pelo empresário Fernando Arruda Botelho, da empreiteira Camargo Corrêa, na quinta-feira, na coluna de Mônica
Bergamo, na Folha. Segundo
ele, os espanhóis "vão arrebentar com os brasileiros".
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