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Nova medida do compulsório custará R$ 825 mi ao governo
Uso do FGC é a 1ª mudança contra a crise que terá impacto nas contas públicas
BC anunciou anteontem a liberação de R$ 6 bilhões aos pequenos bancos por meio do fundo que garante depósitos de correntistas
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A decisão tomada pelo BC
(Banco Central) anteontem de
liberar mais R$ 6 bilhões aos
bancos pequenos, terá um custo de aproximadamente R$ 825
milhões por ano aos cofres públicos. Esse é o valor potencial
dos juros que o governo passará
a pagar sobre os R$ 6 bilhões
que até então ficavam parados
nos cofres federais sem qualquer remuneração e agora serão despejados na economia. É
a primeira medida para tentar
debelar a crise que tem impacto
sobre as contas públicas.
A estimativa foi feita levando
em conta a taxa de juros atual,
de 13,75% ao ano, que os bancos
usem todo o limite disponibilizado pelo Banco Central e que
esse dinheiro fique em circulação na economia por pelo menos um ano.
O gasto adicional com juros
tem origem no tipo de recurso
que o Banco Central permitiu
que os bancos saquem. Se as
instituições financeiras anteciparem o equivalente a cinco
anos de contribuições que têm
que fazer ao FGC, fundo que garante os depósitos em caso de
quebra ou falência de bancos,
poderão abater esse valor do
chamado compulsório sobre
depósitos à vista.
Esse compulsório, equivalente a 42% dos depósitos captados pelos bancos, tem que ser
transferido ao BC, que não paga
juros nenhum na operação. Na
prática, isso quer dizer que o
governo consegue tirar dinheiro da economia para calibrar os
juros sem ter custo algum.
À medida que esses recursos
saem do BC e são injetados na
economia, o total de dinheiro
em circulação aumenta. Quando isso acontece, a tendência é
de queda dos juros. Para evitar
que isso aconteça e a taxa fique
abaixo da Selic fixada pelo BC, a
autoridade monetária vende títulos públicos ao mercado financeiro e recolhe o excesso de
moeda em circulação.
Com um aumento de R$ 6 bilhões na quantidade de dinheiro na economia, a tendência é
que o BC seja obrigado a vender
mais títulos públicos para regular a quantidade da moeda em
mercado. É por meio dessas
operações que ocorrerá o impacto fiscal da medida anunciada na segunda-feira.
Os papéis colocados para enxugar essa liquidez adicional
-termo técnico que define a
intervenção do Banco Central- pagarão juros. Portanto,
o governo está trocando uma
situação em que retirava dinheiro da economia de graça,
por uma em que paga juros.
Até então, todos os recursos
que o BC havia liberado aos
bancos para enfrentar a crise
faziam parte da parcela dos depósitos compulsórios que já são
remunerados pela taxa Selic.
Ou seja, o dinheiro ia parar no
BC mas os bancos recebiam juros sobre o que ficava depositado. Dessa forma, o gasto de juros continuava o mesmo.
Sem risco
A liberação do depósito à vista é justificada pela necessidade de o BC socorrer os bancos
pequenos que têm dificuldades
para fechar seus caixas. O dinheiro antecipado ao FGC pelas instituições financeiras que
liberarem seus compulsórios
será usado para comprar títulos desses bancos, especialmente carteiras de crédito.
Mas a medida também é uma
maneira de os grandes bancos
nacionais fecharem essas operações, consideradas essenciais
pelo governo para a retomada
do crédito na economia, sem
correrem o risco de fazer um
mal negócio.
Como o comprado dessas
carteiras será o FGC, se houver
inadimplência, por exemplo, o
prejuízo será do fundo e não
aparecerá no balanço de nenhum dos bancos.
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