São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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Confiança cai nos EUA, mas Bolsa de NY dispara

Busca de pechinchas e ação do Fed no financiamento de empresas animam mercado

Com preços dos imóveis em baixa, confiança do consumidor americano é a menor desde a criação do indicador, em 1967

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

No mesmo dia em que a confiança dos norte-americanos na economia dos Estados Unidos caiu em outubro para o nível mais baixo da série histórica do indicador, a Bolsa de Valores de Nova York fechou em forte alta, com o índice Dow Jones dando o seu segundo maior salto em pontos da história.
Na esteira da queda livre dos preços dos imóveis, das ações e do já perceptível aperto no crédito para as famílias e as empresas -que juntos fizeram evaporar a sensação de riqueza dos norte-americanos em poucos meses-, o índice de confiança de consumidor despencou de 61,4 pontos em setembro para 38 pontos neste mês.
Apurado pelo instituto privado Conference Board desde 1967, o índice aponta que, quanto mais distante de cem pontos, pior a percepção sobre a economia. A queda de 23,4 pontos foi a terceira maior da história do índice e só perde para duas registradas antes de 1977, quando o levantamento ainda era bimestral -desde então, ele passou a ser realizado mensalmente.
Apesar da má notícia, a Bolsa de Valores de Nova York teve um dia de fortes ganhos. Na parte da manhã, o mercado chegou a ensaiar uma queda logo após a divulgação dos dados sobre a confiança dos consumidores. Mas se recuperou com força no restante do pregão.
O índice Dow Jones terminou o pregão com alta de 10,88%, ganhando 889,35 pontos (o segundo maior salto da história do índice). Em percentual, a alta de ontem foi a sexta maior já registrada. O mais abrangente S&P 500 subiu 10,79%, e a Bolsa eletrônica Nasdaq, 9,53%.
A recuperação foi explicada pela ação de investidores atrás de barganhas em um mercado no seu ponto mais baixo dos últimos 23 anos e pela expectativa de que o Fed (BC dos EUA) faça um novo corte nos juros hoje. Há quem aposte em uma redução de até 0,75 ponto percentual na taxa, que cairia para 0,75% ao ano. Na prática, como a inflação está acima de 4%, os juros reais estão hoje negativos.
Apesar da expectativa de forte recessão no horizonte, muitos investidores compraram ações ontem convencidos de que seus preços são hoje verdadeiras barganhas para quem aposta no longo prazo.
Apenas em outubro, os papéis negociados nas principais Bolsas do mundo sofreram uma desvalorização de mais de US$ 12 trilhões, o equivalente a cerca de nove PIBs (Produto Interno Bruto) do Brasil.
As ações da gigante do setor de alumínio Alcoa lideraram a alta ontem, subindo 19% ao longo do dia. Bancos como Citigroup e Bank of America tiveram alta de mais de 12%. Já os papéis da General Electric se valorizaram em 9,9%, embalados também por notícias de que a empresa está tendo mais facilidade para emitir seus "commercial papers" -papéis vendidos no mercado para levantar recursos para o dia a dia.
Os investidores também ficaram animados com a notícia de que muitas empresas, além da GE, voltaram a colocar seus títulos no mercado, tendo o Fed como comprador majoritário no intuito de ampliar a oferta de dinheiro na economia.
As vendas desses papéis ontem somaram US$ 67,1 bilhões em 1.511 emissões com prazos de até 80 dias para o resgate. Na média diária da semana passada, os valores levantados em papéis do mesmo tipo não atingiram US$ 7 bilhões, com cerca de 340 emissões diárias.
No caso da forte piora na confiança dos consumidores nos Estados Unidos, a queda nos preços dos imóveis é apontada como o principal fator para o aumento do pessimismo.
Muitos norte-americanos têm hoje dívidas imobiliárias maiores do que o valor de venda de seus imóveis. Em função da queda de preços, eles também já não conseguem dar as casas como garantia para novos empréstimos, levantando dinheiro extra para outros gastos.
Nos 12 meses terminados em agosto, os preços dos imóveis residenciais em 20 das maiores cidades dos EUA caíram 16,6%, um recorde. Em locais mais afetados pela crise imobiliária, como Las Vegas (Nevada) e Phoenix (Arizona), a queda supera 30%, afirma o índice Standard & Poor's/Case-Shiller.
A expectativa é que o aperto no setor de crédito nos EUA continue alimentando a queda nos preços das residências, já que muitos financiamentos imobiliários estão sendo negados a novos compradores.


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