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LUÍS NASSIF
Política industrial e macro
O documento "Diretrizes
de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior" é um primeiro passo essencial para definir a política de
competitividade brasileira. Propõe quatro setores prioritários
-semicondutores, software, fármacos e medicamentos e bens de
capital- e uma relação de princípios.
Talvez pela quantidade de instituições envolvidas na sua elaboração, o texto final carece de
um bom copidesque, para torná-lo mais enxuto e objetivo. O planejamento estratégico do presidente mexicano Vicente Fox, por
exemplo, cabe em uma folha de
papel, de fácil compreensão, que
ele leva para todo lado. Não se
trata de preciosismo de estilo,
mas de ponto central na disseminação dos novos valores.
É necessária uma leitura repetida para entender a lógica, mas
ela existe. O eixo central da política é o aumento das exportações
e da inserção internacional. É
ponto essencial porque é por aí
que se dará a qualificação das
empresas (sendo submetidas a
julgamento internacional) e a
avaliação de resultados. O trabalho enfatiza a importância do
"benchmark" internacional e
das contrapartidas dos setores
beneficiados -focadas nos fins,
não nos meios. Por exemplo, a
contrapartida a ser cobrada são
resultados, como aumento das
exportações, não investimentos
-que são meio. Aliás, essa forma de pensar deve ter sido introduzida pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), pois é típica de empresários
com familiaridade com programas de qualidade.
Dentro desse enfoque da internacionalização, há ênfase a toda
forma de produto voltado para o
conhecimento e também para o
consumo de massa. E estipulam-se dois níveis de empresas a serem trabalhadas: as multinacionais brasileiras, capazes de dar
velocidade às pesquisas e à inovação; e os arranjos produtivos,
organizados regionalmente, com
produtos que possam servir para
o mercado interno e para economias similares à brasileira.
A partir desse foco principal,
desdobram-se dois níveis temporais de ação. No curto prazo, melhoria das exportações brasileiras, inclusive para aliviar o balanço de pagamentos. No longo,
aumento da competitividade e
da competência em áreas críticas.
Depois, o trabalho menciona
duas formas relevantes de atuação. A primeira, a importância
do trabalho interdisciplinar e inter-regional, inclusive por meio
da articulação em nível nacionais dos institutos de pesquisas e
universidades. A segunda, a necessidade de criar instrumentos
institucionais que permitam a
atuação de atores tão diversos
-como as várias instâncias federativas, empresas, academia
etc. Na verdade, o grande nó da
questão residirá na forma como
se dará essa coordenação.
Ponto complicado é que, à medida que forem sendo explicitadas as formas de atingir os objetivos propostos, vai se esbarrar
nas limitações macroeconômicas do modelo. Está se partindo
para um autismo de achar que
será capaz de dar um "by-pass"
nos desequilíbrios macroeconômicos com PPPs e discussão de
aspectos microeconômicos. Com
o nível dos juros, do câmbio, a
carga fiscal e a falta de recursos,
o documento continuará sendo
um documento. E nada mais.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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