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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Presidente e Palocci defendem política econômica e dizem que Brasil voltará a crescer em 2004

País está pronto para o "2º passo", diz Lula

MURILO FIUZA DE MELO
PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, afirmaram ontem que o país voltará a crescer no próximo ano e reafirmaram suas convicções em relação à política econômica do governo.
Lula disse que o Brasil está dando um "segundo passo". "Nós estamos num caminho que não tem volta. Esse país vai voltar a crescer para que possa gerar a oferta de empregos de que precisamos. Tenho, desde o primeiro dia de governo, tentado levantar o moral da tropa, tentado criar as condições para que possamos olhar para frente com um pouco mais de otimismo", afirmou.
O presidente disse que, apesar das críticas, a redução lenta da taxa de juros foi o que possibilitou ao país voltar a ter credibilidade externa e interna. Segundo ele, a manutenção de uma política fiscal rigorosa foi uma "aposta política" que só poderia ter sido realizada agora, quando o governo ainda tem boa popularidade.
"Nós tínhamos que escolher a redução da taxa de juros. Uns gostariam que nós pudéssemos baixar 10% a cada dia. Outros achavam que nós tínhamos que ir reduzindo lentamente de forma mais segura. Nós fizemos uma aposta política. Fizemos uma aposta na credibilidade para fazer todo o sacrifício que tinha que ser feito no primeiro ano. Acho que o resultado hoje é mais primoroso do que muito analistas em algum momento ousaram analisar."
Lula comparou a situação do país quando assumiu à do Titanic. Para ele, a política econômica evitou que o país afundasse numa crise sem precedentes. "Não faltaram aqueles que, no começo do ano, previam uma desgraça no final do ano. Não faltaram aqueles que ousaram duvidar que nós iríamos tirar o Titanic do iceberg, corrigir o seu casco e começar a discutir qual o rumo que esse país vai tomar. Eu posso dizer para vocês: o nosso país está pronto para dar o segundo passo."

Sinais de melhora
O ministro Palocci também preferiu destacar as perspectivas do país para 2004, mesmo com a divulgação do crescimento de 0,4% do PIB no terceiro trimestre e da queda de 15,2% na renda do trabalhador em outubro, na comparação com igual mês de 2002.
Ele disse acreditar que o rendimento voltará a crescer a partir de 2004 por dois motivos: os dissídios mais altos do que a inflação obtidos por muitas categorias no fim deste ano e o fato de a inflação futura projetada ser menor do que as taxas passadas. "O encontro desses dois fenômenos vai significar um aumento progressivo da renda no próximo ano."
Para o ministro, os sinais de crescimento já existem: melhora do nível de investimento e retomada da atividade da indústria.
"Temos de olhar os dados que indicam que a retomada está acontecendo, não apenas o resultado do PIB no trimestre. Todos sabem que, por causa do ajuste severo que foi feito, esse é um ano em que haveria perda de PIB e dificuldade de crescimento."
Para Palocci, o Brasil não terá retração do PIB em 2003 e tem agora "uma chance histórica" de crescimento. Ao analisar o passado recente, disse que o último período mais longo de crescimento ocorreu entre 2000 e 2001, quando o PIB subiu por seis trimestres consecutivos. Naquela época, diz, o juro real (descontada a inflação) era de 10%, embora "as contas externas fossem ruins".
"Vamos ter um [ajuste] fiscal melhor do que o daquele período, contas externas bem melhores e juros já melhores, caminhando para possibilidade de redução."
Na avaliação do ministro, a política fiscal austera é necessária para o país trilhar o crescimento sustentado. "As metas fiscais não são exigências do FMI. O Brasil precisa ter um [ajuste] fiscal sólido para não ter desequilíbrio e para que a dívida pública não pressione o crescimento."
Ao comentar a situação fiscal do país, afirmou que hoje ela é melhor do que no passado, pois se baseou no corte de gastos -e não no aumento de arrecadação.
"O governo, nas últimas duas décadas, teve desequilíbrios fiscais financiados pela aceleração inflacionária, de 1980 a 1994, e pela dívida pública crescente e aumentos sucessivos da carga tributária entre 1995 e 2002", disse.
Na visão de Palocci, tanto o governo como a iniciativa privada têm de investir em infra-estrutura para impedir "gargalos" à uma expansão econômica duradoura. "Depois de seis trimestres [de 2000 a 2001], batemos na parede da crise energética. Estamos tratando de ampla pauta para não ter obstáculos.para crescimento sustentável", disse o ministro.


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