|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESPETÁCULO EM XEQUE
Presidente e Palocci defendem política econômica e dizem que Brasil voltará a crescer em 2004
País está pronto para o "2º passo", diz Lula
MURILO FIUZA DE MELO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, afirmaram
ontem que o país voltará a crescer
no próximo ano e reafirmaram
suas convicções em relação à política econômica do governo.
Lula disse que o Brasil está dando um "segundo passo". "Nós estamos num caminho que não tem
volta. Esse país vai voltar a crescer
para que possa gerar a oferta de
empregos de que precisamos. Tenho, desde o primeiro dia de governo, tentado levantar o moral
da tropa, tentado criar as condições para que possamos olhar para frente com um pouco mais de
otimismo", afirmou.
O presidente disse que, apesar
das críticas, a redução lenta da taxa de juros foi o que possibilitou
ao país voltar a ter credibilidade
externa e interna. Segundo ele, a
manutenção de uma política fiscal rigorosa foi uma "aposta política" que só poderia ter sido realizada agora, quando o governo
ainda tem boa popularidade.
"Nós tínhamos que escolher a
redução da taxa de juros. Uns gostariam que nós pudéssemos baixar 10% a cada dia. Outros achavam que nós tínhamos que ir reduzindo lentamente de forma
mais segura. Nós fizemos uma
aposta política. Fizemos uma
aposta na credibilidade para fazer
todo o sacrifício que tinha que ser
feito no primeiro ano. Acho que o
resultado hoje é mais primoroso
do que muito analistas em algum
momento ousaram analisar."
Lula comparou a situação do
país quando assumiu à do Titanic.
Para ele, a política econômica evitou que o país afundasse numa
crise sem precedentes. "Não faltaram aqueles que, no começo do
ano, previam uma desgraça no final do ano. Não faltaram aqueles
que ousaram duvidar que nós
iríamos tirar o Titanic do iceberg,
corrigir o seu casco e começar a
discutir qual o rumo que esse país
vai tomar. Eu posso dizer para vocês: o nosso país está pronto para
dar o segundo passo."
Sinais de melhora
O ministro Palocci também preferiu destacar as perspectivas do
país para 2004, mesmo com a divulgação do crescimento de 0,4%
do PIB no terceiro trimestre e da
queda de 15,2% na renda do trabalhador em outubro, na comparação com igual mês de 2002.
Ele disse acreditar que o rendimento voltará a crescer a partir de
2004 por dois motivos: os dissídios mais altos do que a inflação
obtidos por muitas categorias no
fim deste ano e o fato de a inflação
futura projetada ser menor do
que as taxas passadas. "O encontro desses dois fenômenos vai significar um aumento progressivo
da renda no próximo ano."
Para o ministro, os sinais de
crescimento já existem: melhora
do nível de investimento e retomada da atividade da indústria.
"Temos de olhar os dados que
indicam que a retomada está
acontecendo, não apenas o resultado do PIB no trimestre. Todos
sabem que, por causa do ajuste severo que foi feito, esse é um ano
em que haveria perda de PIB e dificuldade de crescimento."
Para Palocci, o Brasil não terá
retração do PIB em 2003 e tem
agora "uma chance histórica" de
crescimento. Ao analisar o passado recente, disse que o último período mais longo de crescimento
ocorreu entre 2000 e 2001, quando
o PIB subiu por seis trimestres
consecutivos. Naquela época, diz,
o juro real (descontada a inflação)
era de 10%, embora "as contas externas fossem ruins".
"Vamos ter um [ajuste] fiscal
melhor do que o daquele período,
contas externas bem melhores e
juros já melhores, caminhando
para possibilidade de redução."
Na avaliação do ministro, a política fiscal austera é necessária para o país trilhar o crescimento
sustentado. "As metas fiscais não
são exigências do FMI. O Brasil
precisa ter um [ajuste] fiscal sólido para não ter desequilíbrio e para que a dívida pública não pressione o crescimento."
Ao comentar a situação fiscal do
país, afirmou que hoje ela é melhor do que no passado, pois se
baseou no corte de gastos -e não
no aumento de arrecadação.
"O governo, nas últimas duas
décadas, teve desequilíbrios fiscais financiados pela aceleração
inflacionária, de 1980 a 1994, e pela dívida pública crescente e aumentos sucessivos da carga tributária entre 1995 e 2002", disse.
Na visão de Palocci, tanto o governo como a iniciativa privada
têm de investir em infra-estrutura
para impedir "gargalos" à uma
expansão econômica duradoura.
"Depois de seis trimestres [de
2000 a 2001], batemos na parede
da crise energética. Estamos tratando de ampla pauta para não ter
obstáculos.para crescimento sustentável", disse o ministro.
Texto Anterior: Luís Nassif: Política industrial e macro Próximo Texto: Mantega adere ao "mau humor" na previsão do PIB Índice
|