São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009 |
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ALBERT FISHLOW Relações internacionais
UM EVENTO importante teve lugar nos EUA durante a semana -e terá importância futura para o restante do mundo e especialmente para o Brasil. Foi o primeiro jantar de Estado do presidente Obama na Casa Branca, em honra do primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. Duas semanas atrás, Obama esteve na China e na volta encontrou críticas devido à falta de provas concretas de sucesso. A Índia, com sua continuidade democrática, seu compromisso cada vez mais amplo para com a globalização e seu rápido crescimento econômico, anseia por uma posição internacional de maior destaque. Os EUA claramente preferem uma aliança multilateral mais diversificada a um G2 estreito que envolveria apenas a China. A declaração conjunta dos dois líderes ofereceu uma promessa de interação continuada e ainda mais profunda no século 21, com "uma Índia próspera desempenhando papel cada vez mais importante nos assuntos mundiais". Houve menção explícita ao ataque contra Mumbai no ano passado, o que talvez por fim tenha garantido o indiciamento formal pelo Paquistão de sete suspeitos de terrorismo, um dia depois. Da declaração constava também o compromisso de trabalho conjunto em Copenhague quanto à questão do aquecimento global, bem como cooperação para a segurança alimentar, o comércio e o investimento. Vale notar que os EUA já são o maior parceiro comercial da Índia. No final, o texto trazia um compromisso claro de promover reforma genuína nas Nações Unidas e em seu Conselho de Segurança. Isso se traduz em apoio explícito a uma posição permanente para a Índia, quando uma reforma for realizada. Seria possível repetir boa parte dessa declaração, com a substituição de "Índia" por "Brasil" no texto? No momento, dificilmente. A despeito do desenvolvimento de um relacionamento muito positivo entre Obama e Lula desde o começo, os contatos bilaterais posteriores parecem ter andado para trás. A Rodada Doha de negociações comerciais não parece a ponto de ser retomada imediatamente. A Colômbia receberá apoio adicional dos EUA, a despeito da oposição declarada da Venezuela e da insatisfação do Brasil. Uma eleição acontece hoje em Honduras, e o resultado será reconhecido pelos Estados Unidos, apesar de o acordo inicial para a recondução do presidente Zelaya ao poder não ter sido implementado. As esperanças iniciais do Brasil quanto a assumir um papel de liderança regional na solução do problema deram lugar a sugestões de Marco Aurélio Garcia de que "agora os Estados Unidos ficarão isolados -e isso é muito ruim para os Estados Unidos e seu relacionamento com a América Latina". De igual importância foi a recente visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, durante a qual o Brasil aparentemente ratificou sua rejeição aos esforços iniciais para chegar a um acordo com os Estados Unidos e outros países que restrinja a independência nuclear do Irã. Mohammed El Baradei, que está a poucos dias de encerrar seu mandato como diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), declarou que as relações com Teerã chegaram a um "beco sem saída" devido à falta de cooperação plena. As aparentes esperanças brasileiras de um papel importante para o país na solução da crise do Oriente Médio -com as visitas anteriores dos presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas- agora terão de ser reconsideradas. Tradução de PAULO MIGLIACCI ALBERT FISHLOW, 73, é professor emérito da Universidade Columbia e da Universidade Berkeley. Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna. afishlow@uol.com.br
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