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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Empresas dos EUA vivem
colapso dos lucros
GILSON SCHWARTZ
da Equipe de Articulistas
Parece uma gangorra. Agora que
ganham força as expectativas de
recuperação das economias asiáticas, surgem mais sinais de deterioração nas economias dos EUA e da
União Européia. Mas não pode ser
uma gangorra porque, se o Primeiro Mundo entrar em recessão, a recuperação na Ásia terá vida curta.
Depois do "crash" (queda vertiginosa) nas Bolsas e do "credit
crunch" (aperto de crédito), surgem na economia norte-americana indicações de "profit slump"
(colapso dos lucros). Os números
relativos ao terceiro trimestre de
1998 são impressionantes.
Na comparação com o mesmo
trimestre de 1997, a queda nos lucros foi de 6,2%, a maior queda
anual desde 1989. As compras de
equipamento pelas empresas, um
sintoma de suas intenções de investimento, tiveram o seu primeiro declínio desde o final de 1991. As
encomendas de bens de capital caíram mais de 9%.
A grande questão é saber se esta é
uma queda acidental, a ser superada com a rapidez dos ciclos de alta
e baixa nas Bolsas. Ou se algo de
mais profundo e desagradável está
em gestação.
Menos lucros e menos investimentos, num ambiente de elevação significativa dos estoques, podem levar as empresas a uma posição mais frágil. Elas, por exemplo,
se tornam alvos mais fáceis para
aquisições e fusões.
É o que se viu nas últimas semanas. A lista de megafusões anunciadas atinge os principais setores
da economia norte-americana, da
Internet ao petróleo.
Esse processo costuma levar a
um enxugamento das empresas,
ou seja, a um aumento no desemprego. Com o desemprego em alta,
as vendas caem, os preços tendem
a cair e os lucros também. Fecha-se
um círculo vicioso que na pior das
hipóteses termina em recessão.
Ou seja, as empresas (que sobram) ficam mais fortes e maiores.
Mas, paradoxalmente, a economia
pode ficar mais fraca. O que, aliás,
não chega a ser uma novidade para
quem leu, alguma vez na vida, um
texto de Karl Marx sobre os processos de acumulação, concentração e centralização de capitais.
Na sua visão apocalíptica, o fortalecimento do capital é tão intenso que, no afã de se valorizar a
qualquer custo, superando todos
os limites, perde o pé.
Entretanto, a tendência recessiva
nos EUA não decorre apenas de
uma dialética interna à maior economia do planeta. Ela é reforçada
pela contração nas economias em
desenvolvimento, em especial na
América do Sul. O encolhimento
desses mercados afeta ao mesmo
tempo as exportações e os lucros
das empresas multinacionais norte-americanas.
Apesar desses indícios, por enquanto todas as previsões apontam para a continuação do crescimento na economia norte-americana, animada pela queda nos juros, que estimula o crédito ao consumidor e a expansão do setor
imobiliário.
O Índice de Confiança do Consumidor está em alta nos EUA. Mas
os economistas discutem a natureza desse indicador. Trata-se de um
"leading indicator", ou seja, um sinal do que virá, ou apenas de um
reflexo passivo e pouco informado
do que já ficou para trás (a queda
nos juros e o surto de euforia nas
Bolsas)?
Uma reação protecionista é outro dos novos riscos no Primeiro
Mundo. As chances de uma guerra
comercial continuam altos. A queda nos lucros é explicada por muitos empresários nos Estados Unidos como resultado da inundação
de produtos baratos importados
de países em crise. Aço da Rússia e
da Ásia é um exemplo.
Assim, não é por acaso que a
questão da abertura comercial entrou nos debates entre o Congresso
norte-americano e o presidente
Clinton sobre a liberação de mais
US$ 18 bilhões para o caixa do
Fundo Monetário Internacional.
Uma das condições para liberar o
dinheiro foi incluir cláusulas de
abertura comercial nos pacotes de
resgate aos mercados emergentes.
A frase é conhecida: não existe almoço grátis. Num momento em
que os lucros caem, a disposição
dos EUA a dar crédito depende das
chances de o dinheiro voltar sob a
forma de encomendas ou oportunidades de investimento.
No Brasil, o presidente do BC,
Gustavo Franco, já mostrou que
entendeu o recado. Há poucos
dias, declarou que virá muito dinheiro para o país, pois as empresas estão endividadas e baratas,
sendo um alvo perfeito para aquisições por estrangeiros.
Resta saber quão baratas deverão
ser as empresas brasileiras, pois
com a recessão já instalada os lucros por aqui também serão cada
vez menores.
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