São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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ANÁLISE

Nova equipe combina ortodoxia e "neointervenção"

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Continuidade no Tesouro Nacional e mudança na Secretaria de Política Econômica. Esse deverá ser o resultado das nomeações de Joaquim Levy e Marcos Lisboa para, respectivamente, esses dois órgãos que integram o Ministério da Fazenda.
Isso significará, possivelmente, a manutenção de uma orientação econômica de austeridade fiscal, mas com um foco maior na implementação de políticas sociais e de planejamento industrial.
Ou seja, as indicações feitas pelo futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, corroboram as diretrizes que ele já vinha defendendo como coordenador da equipe de transição do governo eleito.
Levy já integra a equipe do atual governo desde 2000 e, se nomeado, deverá representar a continuidade. Ocupa atualmente a assessoria econômica do Ministério do Planejamento e já foi secretário-adjunto da Secretaria de Política Econômica. Antes, o engenheiro, que tem mestrado (FGV) e doutorado (Universidade de Chicago) em economia havia trabalhado no FMI (Fundo Monetário Internacional), entre 1992 e 2000.
É considerado um liberal, especializado no funcionamento dos mercados financeiros e em outros temas macroeconômicos.
Sua tese de mestrado-orientada pelo ex-diretor do Banco Central e atual diretor do Itaú, Sergio Werlang- analisou os efeitos do abono salarial sobre a inflação no contexto dos planos de congelamento de preços.
Lisboa, por outro lado, tem especialização maior em temas da chamada microeconomia e seu nome deverá sintetizar as principais mudanças na orientação de política econômica do governo petista. Estuda, por exemplo, temas como política industrial, tarifas, criminalidade, sistemas de saúde e escolaridade.
É economista, com graduação e mestrado concluídos na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). E fez doutorado na Universidade da Pensilvânia.
Recentemente, coordenou a formulação de um trabalho batizado de "Agenda Perdida" e que teve a participação de economistas ilustres como José Alexandre Sheinkman (Princeton), Affonso Celso Pastore (FGV) e Ricardo Paes de Barros (Ipea).
O objetivo do trabalho era chamar a atenção, durante o debate que se desenrolava na campanha para as eleições presidenciais, para temas considerados "esquecidos" nos últimos anos.
A "Agenda Perdida" trazia propostas para a retomada do crescimento econômico combinada com uma maior justiça social.
Dentre os assuntos focados, estão o combate à desigualdade social, políticas industrial e de expansão de crédito.
Não por acaso, Lisboa defende, por exemplo, a implementação de uma política industrial, desde que não seja generalizada (ou horizontal), mas focada em determinados setores nos quais haja falhas de mercado.
O economista também é favorável a um aumento do fluxo de comércio externo do país. Segundo o texto da Agenda Perdida, um volume maior de exportações e importações garantiria uma redução da dependência do Brasil a capitais externos.

Combinação
Segundo amigos de Levy, uma de suas maiores qualidades é a extrema dedicação ao trabalho.
Para o economista Sergio Werlang, tanto Levy quanto Lisboa são economistas de tendência liberal: "O Levy, que é um macroeconomista, representará uma boa complementação para o Marcos Lisboa, que é um dos melhores microeconomistas do país", disse.
Ainda segundo Werlang, a indicação de Lisboa é positiva porque ele poderá analisar a eficácia das políticas sociais propostas pelo governo Lula.


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