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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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RUMO A 2004

Fim da bolha da internet e escândalos contábeis deixaram investidor inseguro; desequilíbrios podem trazer volatilidade

Bolsas reagem, mas os riscos continuam

DA FRANCE PRESSE

As Bolsas mundiais celebraram com champanhe o crescimento de 2003, depois de três anos de depreciação, graças a uma recuperação econômica finalmente tangível. Mas os desequilíbrios da economia mundial ameaçam arruinar a festa, afirmam analistas.
"O ano termina bem, o que é inesperado se lembrarmos que em março todo o mundo queria atirar-se pela janela", diz aliviado o estrategista de uma corretora de Paris. Wall Street se prepara para terminar o ano com altas de 46% para o Nasdaq, que reúne empresas de tecnologia, e de 24% para o Dow Jones. Em Frankfurt, a alta será de 35% e em Londres, Paris e Milão de 12% a 14%.
Hugues de Montvalon, economista da Oddo Pinatton, festeja: "Os negócios se recuperaram depois de três anos negros, colocamos a cabeça fora da água e os mercados encontraram finalmente certa serenidade".
No começo do ano, as preocupações provocadas por uma iminente guerra no Iraque, a epidemia de Sars (síndrome respiratória aguda grave) na Ásia e os temores de deflação afundaram os mercados. O ano de 2003 teve três fases e, no primeiro trimestre, a débil atividade econômica, os temores exacerbados em relação à situação geopolítica e o medo de que disparassem os preços do petróleo empurraram para baixo as Bolsas no mês de março.
"Até seu início, a guerra no Iraque era uma espada de Dâmocles", resume um vendedor de ações de um banco francês.
O Nasdaq caiu a 1.300 pontos no começo de março, perdendo 74% desde o recorde de 5.048 pontos atingido três anos antes, quando os negócios relacionados à internet estava no auge. O Dow Jones perdeu 35% de seu valor e os mercados europeus retrocederam ao nível de seis ou sete anos atrás.
Depois do início da guerra, as Bolsas se recuperaram e melhoraram os resultados das companhias. O caminho ascendente ficou patente no fim do ano, quando o índice Dow Jones superou os 10 mil pontos.

Desconfiança
Mas alguns já duvidam dessa bonança. Os investidores ficaram marcados pela explosão da bolha da internet e pelos escândalos contábeis, o último deles do grupo italiano Parmalat.
Nesse cenário, a volatilidade dos mercados "continua sendo forte, alimentada por incertezas reais", acredita Jean-Noel Vieille, diretor de investigação em Aurel Leven.
Sérios riscos aparecem no horizonte, sustentam os economistas. Continuam existindo "desequilíbrios", como o excesso de capacidade ociosa da indústria no mundo, os déficits interno e externo dos Estados Unidos, e os esforços das empresas para aumentar sua produtividade, o que pressiona o emprego, destaca Pascal Blanqué, economista do banco francês Crédit Agricole.
A alta do euro em relação ao dólar -de 51,25% desde outubro de 2000- pode frear o crescimento europeu, sobre o qual já pesa a ameaça de alta de juros em 2004.
Por último, a adoção de novas regras contábeis internacionais até 2005 terá impacto sobre o balanço das empresas, como ressaltou a agência de classificação de risco Standard & Poors.
Mas da Ásia chegaram sinais positivos, graças ao vigor da economia chinesa. Além disso, o Japão foi a "maior surpresa do ano", com crescimento do PIB, sem descontar a inflação, de 2,7% em 2003, ao invés do 0,4% esperado, destaca o administrador de ativos britânico Schroders.
Entretanto, como aprenderam os investidores escaldados, pagando um alto preço, nas Bolsas as conquistas do passado não implicam necessariamente bons resultados no futuro.



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