São Paulo, quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

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GOVERNO

Mantega e Meirelles têm encontro para discutir divergências entre instituições

BNDES e BC tentam entendimento

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Com o objetivo de marcar a diferença da nova gestão à frente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega irá se reunir hoje, no Rio de Janeiro, com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, em busca de um entendimento sobre diversos assuntos polêmicos envolvendo as duas instituições.
Durante a gestão de Carlos Lessa no BNDES, o banco vivia em atrito com o Banco Central. O último deles foi em novembro quando, em entrevista concedida à Folha, pouco antes de ser afastado do governo, Lessa fez duras críticas a Meirelles. Ele chamou de "pesadelo" a gestão de Meirelles e ainda o acusou de "regente" de uma orquestra para "desmontar" o banco.
O motivo da reação de Lessa tinha sido as declarações de Meirelles a respeito dos chamados créditos direcionados, que são os empréstimos de aplicação obrigatória e que correspondem a cerca de 35% do total do crédito no país. Na opinião de Meirelles, esses créditos dificultam a eficácia da política monetária, já que os juros cobrados são subsidiados (inferiores à Selic). Em outras palavras, o crédito direcionado seria um entrave para a queda dos juros.
O BNDES, a exemplo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, é um dos principais repassadores dos créditos direcionados por meio dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Lessa era frontalmente contrário à idéia de retirar do BNDES parte dos recursos do FAT para repassá-la ao setor privado. O ex-presidente do BNDES diz acreditar, inclusive, que essa sua posição foi um dos motivos de sua saída do banco.
Nos últimos meses, esse debate tem ganhado corpo no meio acadêmico. Alguns dos mais conceituados economistas do país, como André Lara Resende, Pérsio Arida e Edmar Bacha, chegaram a defender o fim do crédito direcionado. A idéia não conta, no entanto, com a simpatia dos empresários do setor industrial.
Ao ser convidado para presidir o BNDES, Guido Mantega recebeu a incumbência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de pôr fim às divergências com o Banco Central. Dessa forma, logo na primeira semana à frente do banco, Mantega esteve com Meirelles em São Paulo. Hoje, Meirelles irá retribuir a visita.
Além do crédito direcionado, outro assunto polêmico que também deverá entrar na pauta da conversa entre Mantega e Meirelles deverá ser a TJLP, que serve para remunerar os empréstimos feitos pelo BNDES e está em 9,75%. Lessa sempre dependeu a redução da TJLP para 8%, com o objetivo de aumentar os investimentos no país.
Na reunião de hoje, Mantega e Meirelles não devem chegar a uma definição sobre esses diversos temas polêmicos. O debate sobre os créditos direcionados, por exemplo, ainda deve se estender na economia por algum tempo.
O encontro de hoje deverá ter um caráter muito mais político, com o objetivo de mostrar que o clima de guerra que existia entre o BNDES e o Banco Central já faz parte do passado. Não será essa reunião que certamente irá fazê-los mudar de idéia. De acordo com o que a Folha apurou, Mantega não pretende que parte do dinheiro do BNDES seja dividido com a banca privada.


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