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GOVERNO
Mantega e Meirelles têm encontro para discutir divergências entre instituições
BNDES e BC tentam entendimento
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Com o objetivo de marcar a diferença da nova gestão à frente do
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega irá se reunir
hoje, no Rio de Janeiro, com o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, em busca de
um entendimento sobre diversos
assuntos polêmicos envolvendo
as duas instituições.
Durante a gestão de Carlos Lessa no BNDES, o banco vivia em
atrito com o Banco Central. O último deles foi em novembro
quando, em entrevista concedida
à Folha, pouco antes de ser afastado do governo, Lessa fez duras
críticas a Meirelles. Ele chamou de
"pesadelo" a gestão de Meirelles e
ainda o acusou de "regente" de
uma orquestra para "desmontar"
o banco.
O motivo da reação de Lessa tinha sido as declarações de Meirelles a respeito dos chamados créditos direcionados, que são os
empréstimos de aplicação obrigatória e que correspondem a cerca
de 35% do total do crédito no país.
Na opinião de Meirelles, esses créditos dificultam a eficácia da política monetária, já que os juros cobrados são subsidiados (inferiores à Selic). Em outras palavras, o
crédito direcionado seria um entrave para a queda dos juros.
O BNDES, a exemplo do Banco
do Brasil e da Caixa Econômica
Federal, é um dos principais repassadores dos créditos direcionados por meio dos recursos do
FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Lessa era frontalmente
contrário à idéia de retirar do
BNDES parte dos recursos do
FAT para repassá-la ao setor privado. O ex-presidente do BNDES
diz acreditar, inclusive, que essa
sua posição foi um dos motivos
de sua saída do banco.
Nos últimos meses, esse debate
tem ganhado corpo no meio acadêmico. Alguns dos mais conceituados economistas do país, como André Lara Resende, Pérsio
Arida e Edmar Bacha, chegaram a
defender o fim do crédito direcionado. A idéia não conta, no entanto, com a simpatia dos empresários do setor industrial.
Ao ser convidado para presidir
o BNDES, Guido Mantega recebeu a incumbência do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de pôr
fim às divergências com o Banco
Central. Dessa forma, logo na primeira semana à frente do banco,
Mantega esteve com Meirelles em
São Paulo. Hoje, Meirelles irá retribuir a visita.
Além do crédito direcionado,
outro assunto polêmico que também deverá entrar na pauta da
conversa entre Mantega e Meirelles deverá ser a TJLP, que serve
para remunerar os empréstimos
feitos pelo BNDES e está em
9,75%. Lessa sempre dependeu a
redução da TJLP para 8%, com o
objetivo de aumentar os investimentos no país.
Na reunião de hoje, Mantega e
Meirelles não devem chegar a
uma definição sobre esses diversos temas polêmicos. O debate sobre os créditos direcionados, por
exemplo, ainda deve se estender
na economia por algum tempo.
O encontro de hoje deverá ter
um caráter muito mais político,
com o objetivo de mostrar que o
clima de guerra que existia entre o
BNDES e o Banco Central já faz
parte do passado. Não será essa
reunião que certamente irá fazê-los mudar de idéia. De acordo
com o que a Folha apurou, Mantega não pretende que parte do dinheiro do BNDES seja dividido
com a banca privada.
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