São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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REVIRAVOLTA

Bolsa cai 6%, risco dispara 9%, dólar sobe; ata do Copom e comunicado do Fed são apontados como razões

Mercado tem o pior dia do governo Lula

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A boa fase vivida pelo mercado financeiro no Brasil sofreu um forte abalo ontem. A Bolsa de São Paulo caiu 6,14%, em seu pior dia desde julho de 2002. O risco-país, que chegou a passar dos 500 pontos, fechou em alta de 9%, aos 483 pontos. Foi a maior alta em um dia desde 27 de setembro de 2002. Juros futuros e dólar subiram.
A mudança de humor dos investidores foi desencadeada por dois fatores. O primeiro, doméstico, foi a divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que, no entendimento do mercado, descartou cortes de juros tão cedo. A taxa básica está em 16,5% ao ano.
O segundo, externo, foi o comunicado do Fed (banco central dos EUA), sinalizando que os juros do país não devem demorar para subir. A taxa anual está em 1%.
O comunicado do Fed teve um efeito devastador sobre títulos da dívida brasileira. O C-Bond, papel brasileiro de maior negociação, voltou a ser comerciado abaixo dos 100% de seu valor de face. Havia três semanas que isso não ocorria. Isso porque, se os juros americanos sobem, como aconteceu ontem com títulos de longo prazo do país, os investidores trocam os papéis de emergentes pelos do Tesouro dos EUA, considerados de risco zero.
Essa conjunção de fatores levou o dólar a R$ 2,931 (alta de 1,2%), sua maior cotação em um mês. Na semana, a moeda americana já acumula alta de 3,17%.
A significativa queda da Bovespa ontem derreteu seus ganhos acumulados no ano. Todas as 54 principais ações da Bolsa fecharam com perdas. Operadores afirmaram que os investidores estrangeiros, que têm colocado bastante dinheiro na Bovespa há alguns meses, se desfizeram de muitas ações ontem. Para o mercado acionário, a manutenção dos juros em patamares altos é negativa. Taxas mais elevadas estimulam os investidores a preferirem aplicações atreladas aos juros, em detrimento das ações.
O mercado entendeu que a ata da reunião do Copom trouxe uma preocupação do BC com a inflação muito maior do que os analistas imaginavam. Com isso, não deve ocorrer corte nos juros por algum tempo. Em relatório divulgado ontem, o banco Modal diz que "são ínfimas as chances" de a Selic (taxa básica) cair antes de abril. Marco Franklin, sócio-diretor da ARX Capital Management, compartilha da opinião. "A trajetória de queda da taxa básica deve ser retomada apenas em abril." Para ele, apesar do péssimo dia do mercado, "não houve ponto de virada para uma fase negativa".
O Bradesco também descartou, em relatório, a possibilidade de haver cortes na taxa básica na reunião do Copom de fevereiro.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), a taxa do contrato de juros com prazo de um ano saltou de 15,47% para 15,79%. No contrato de julho, a taxa foi de 15,95% para 16,11%. Os movimentos mostram que os investidores procuraram se ajustar à posição mais conservadora do BC.


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