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REVIRAVOLTA
Bolsa cai 6%, risco dispara 9%, dólar sobe; ata do Copom e comunicado do Fed são apontados como razões
Mercado tem o pior dia do governo Lula
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A boa fase vivida pelo mercado
financeiro no Brasil sofreu um
forte abalo ontem. A Bolsa de São
Paulo caiu 6,14%, em seu pior dia
desde julho de 2002. O risco-país,
que chegou a passar dos 500 pontos, fechou em alta de 9%, aos 483
pontos. Foi a maior alta em um
dia desde 27 de setembro de 2002.
Juros futuros e dólar subiram.
A mudança de humor dos investidores foi desencadeada por
dois fatores. O primeiro, doméstico, foi a divulgação da ata da última reunião do Copom (Comitê
de Política Monetária), que, no
entendimento do mercado, descartou cortes de juros tão cedo. A
taxa básica está em 16,5% ao ano.
O segundo, externo, foi o comunicado do Fed (banco central dos
EUA), sinalizando que os juros do
país não devem demorar para subir. A taxa anual está em 1%.
O comunicado do Fed teve um
efeito devastador sobre títulos da
dívida brasileira. O C-Bond, papel
brasileiro de maior negociação,
voltou a ser comerciado abaixo
dos 100% de seu valor de face. Havia três semanas que isso não
ocorria. Isso porque, se os juros
americanos sobem, como aconteceu ontem com títulos de longo
prazo do país, os investidores trocam os papéis de emergentes pelos do Tesouro dos EUA, considerados de risco zero.
Essa conjunção de fatores levou
o dólar a R$ 2,931 (alta de 1,2%),
sua maior cotação em um mês.
Na semana, a moeda americana já
acumula alta de 3,17%.
A significativa queda da Bovespa ontem derreteu seus ganhos
acumulados no ano. Todas as 54
principais ações da Bolsa fecharam com perdas. Operadores afirmaram que os investidores estrangeiros, que têm colocado bastante dinheiro na Bovespa há alguns meses, se desfizeram de
muitas ações ontem. Para o mercado acionário, a manutenção
dos juros em patamares altos é
negativa. Taxas mais elevadas estimulam os investidores a preferirem aplicações atreladas aos juros, em detrimento das ações.
O mercado entendeu que a ata
da reunião do Copom trouxe uma
preocupação do BC com a inflação muito maior do que os analistas imaginavam. Com isso, não
deve ocorrer corte nos juros por
algum tempo. Em relatório divulgado ontem, o banco Modal diz
que "são ínfimas as chances" de a
Selic (taxa básica) cair antes de
abril. Marco Franklin, sócio-diretor da ARX Capital Management,
compartilha da opinião. "A trajetória de queda da taxa básica deve
ser retomada apenas em abril."
Para ele, apesar do péssimo dia do
mercado, "não houve ponto de virada para uma fase negativa".
O Bradesco também descartou,
em relatório, a possibilidade de
haver cortes na taxa básica na reunião do Copom de fevereiro.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), a taxa do contrato de juros com prazo de um ano
saltou de 15,47% para 15,79%. No
contrato de julho, a taxa foi de
15,95% para 16,11%. Os movimentos mostram que os investidores procuraram se ajustar à posição mais conservadora do BC.
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