São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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Indícios de que Fed elevará juros esfriam a euforia dos emergentes

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

A correnteza favorável que atingia todos os mercados emergentes mudou de rumo.
Ontem, a média do risco-país dos 19 países emergentes que integram o índice Embi+ sofreu uma alta de 6,2% em relação ao dia anterior. Alinhado com essa tendência, o risco Brasil subiu 9% e fechou o dia aos 483 pontos. Os indicadores são medidos pelo banco JP Morgan.
A turbulência também atingiu a cotação do C-Bond, principal título da dívida brasileira. Depois de três semanas sendo negociado acima de 100% do seu valor de face, o título ficou em 98,75%. A cotação é a base para o índice do JP Morgan.
A euforia dos investidores estrangeiros com os mercados emergentes foi silenciada pelo Fed (banco central dos EUA).
Na nota em que anunciou a manutenção dos juros em 1%, o Fed trocou a expressão "período considerável", utilizada em dezembro do ano passado, por "paciente" para indicar qual será o rumo da sua política monetária.
Para os intérpretes do mercado, a mudança do discurso da última quarta-feira indica que o banco central americano está mais inclinado a elevar os juros. Uma elevação nesse índice altera a percepção dos investidores. Diante da perspectiva de uma remuneração mais alta com títulos do governo dos EUA, os investidores diminuem o apetite por economias que apresentam um risco maior.
Para Mohamed El-Erian, da corretora Pimco, a nova retórica do Fed trará um impacto imediato. Num primeiro momento, o mercado vai procurar vender rapidamente papéis da dívida dos emergentes. "Esses títulos ficarão sob forte pressão."
Analistas ouvidos pela Folha afirmaram que o comportamento observado ontem apenas antecipou o que já era consenso no mercado: a chamada "festa dos emergentes" estava assentada na baixa taxa de juros do Fed e tinha hora marcada para terminar. "Os níveis do risco-país [dos integrantes do índice Embi+ do JP Morgan] já estavam muito baixos. Não havia espaço para quedas maiores", disse Brad Durham, da corretora EmergingPortfolio.com.
O economista, porém, enfatiza que países com bons fundamentos continuarão a ser atraentes.

Sobreviventes
Aproveitando o bom momento dos emergentes, ao longo deste mês, Venezuela e Turquia fizeram emissões de papéis com longo prazo de maturidade, US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão, respectivamente.
Na avaliação de El-Erian, essa aceitação ampla do mercado é outro fator que deve mudar a partir de agora. A ressalva é que o novo cenário não deve produzir um efeito de fuga em massa ou uma retração permanente. Mas o critério dos investidores para ir às compras vai ficar mais rigoroso.
"Nós continuamos confortáveis com esses ativos como um todo, mas estamos diferenciando os países. Nesse contexto, o Brasil continua atraente", afirmou.
El-Erian aponta o crescimento das reservas internacionais brasileiras e a "boa condução" da política brasileira como os trunfos do país. Já Filipinas e a Venezuela são países que levantam a desconfiança da corretora, por terem fundamentos mais frágeis.


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