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LEÃO GULOSO
Emergentes concorrentes como México e China ganham preferência de matrizes por causa da simplicidade tributária
Imposto faz múltis perderem investimento
DA REPORTAGEM LOCAL
Em toda a América Latina, o departamento tributário brasileiro
da gigante do setor farmacêutico
Merck Sharp & Dohme (MSD) é,
proporcionalmente, o que tem o
maior número de funcionários e
custos de operação.
Ironicamente, a MSD do Brasil,
com 932 funcionários, é também
uma das plantas da companhia
com um dos maiores níveis de
ociosidade no mundo, na faixa de
60%. Boa parte disso, por causa
dos impostos no Brasil.
Segundo João Sanchez, diretor
da MSD, no passado a empresa
fazia planos de transformar a unidade brasileira de Campinas (SP)
em uma produtora mundial de
determinados tipos de medicamento e fazer da companhia uma
base exportadora.
""Na competição com países como México e Cingapura, não conseguimos", afirma Sanchez. ""Hoje, é mais barato trazer o medicamento pronto de fora do que fabricá-lo aqui. Há outros custos
envolvidos, mas os impostos são
determinantes."
Em uma lista de 11 países, a
MSD coloca o Brasil em primeiro
lugar como o local onde os custos
alheios à produção mais interferem no preço. Os impostos, afirma Sanchez, têm peso específico
""alto" nessa balança.
Um produto com preço de fábrica de US$ 1 é vendido no Brasil
a US$ 2,08. No México, a US$ 1,44.
Na Argentina, a US$ 1,76.
Rui Hirschheimer, presidente
para a América Latina da multinacional sueca Eletrolux, afirma
que, além de ter um departamento jurídico próprio, a empresa
gasta ""quantias imensas" com
""horas extras" de escritórios de
advocacia para cuidar da ""situação de caos" tributário.
"Perda de tempo"
""É uma perda de tempo imensa
quando deveríamos estar nos
preocupando com crescimento,
produtividade e eficiência para
competir", diz Hirschheimer, que
comanda 4.500 funcionários e fatura R$ 1,5 bilhão ao ano no país.
""Obviamente isso tem um peso
forte nas decisões de investimento da nossa matriz", afirma.
Alguns dos escritórios mais
conceituados da área tributária,
como o Pinheiro Neto Advogados, chegam a cobrar R$ 300 a hora de empresas para ajudá-las a
entender ""o emaranhado" da legislação em mudança contínua.
""Há uma ansiedade enorme dos
empresários em saber o que está
acontecendo para não serem pegos de surpresa", afirma Ricardo
Becker, sócio do Pinheiro Neto.
Além da ""terceirização branca"
para as empresas que a Receita fez
nas áreas de fiscalização e controle, Becker afirma que vem ocorrendo também uma ""diminuição
substancial" na confecção de
""normativos interpretativos" pelo fisco, que ajudariam a padronizar o entendimento das leis.
"Caos tributário"
Para o empresário Armando
Monteiro Neto, presidente da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), ""é o pior possível" o
ambiente tributário no qual as
empresas brasileiras estão inseridas hoje.
""No setor industrial, com os juros e o caos tributário, só sobrevive e cresce hoje quem comanda
oligopólios, aproveita-se da guerra fiscal dos Estados para pagar
menos impostos ou sonega", afirma Monteiro Neto.
Segundo o advogado tributarista Ives Gandra da Silva Martins,
enquanto outros países emergentes têm cargas tributárias na faixa
de 20% do PIB, o Brasil ""arrecada
como país desenvolvido [acima
de 30% do PIB] sem fazer qualquer tipo de justiça social".
""Conseguimos complicar tudo
de forma monumental. E, para
cada nova complicação, editamos
novas normas e procedimentos",
afirma o tributarista.
Silva Martins afirma que, ""desesperadas", algumas empresas
têm sido procuradas por advogados ""oportunistas" que oferecem
soluções pouco ortodoxas para se
livrar do peso dos tributos.
""É a institucionalização do "conto do vigário" tributário", afirma.
(FERNANDO CANZIAN)
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