São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2005

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CONSUMO

Grifes chegam ao Brasil com "jeans premium", que podem custar até R$ 4.000; procura elevada surpreende vendedores

Novas lojas aquecem o mercado de luxo

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização da moda, que levou marcas internacionais como a Levi's a buscar a mão-de-obra barata da Ásia para reduzir preços e atrair mais clientes, "desglamourizou" o jeans. O contra-ataque chegou ao Brasil na forma de lançamentos de grifes com modelos de calça que podem custar até R$ 4.000.
A cifra parece proibitiva para bolsos brasileiros, mas a voracidade dos consumidores pelos chamados "jeans premium" surpreendeu o mercado. Inaugurada em novembro do ano passado na nova ala do Shopping Iguatemi, em São Paulo, a D&G (linha esportiva da italiana Dolce & Gabbana) vendeu mais de mil pares de calça -com preços na faixa de R$ 900- nos 20 dias seguintes à inauguração. "Tivemos que fazer um pedido extra de jeans feminino, que deve chegar na semana que vem. O estoque ficou praticamente zerado", conta Patrícia Gaia, uma das responsáveis pela representação da marca no Brasil.
O apetite pelos jeans da marca italiana foi tamanho que 70% da coleção, planejada para ser vendida em cinco meses, foi arrematada em 45 dias. A pré-coleção de verão, que deveria estar nas vitrines em meados do ano, já estará na loja em fevereiro. Mesmo uma das peças mais caras, uma calça com aplicações de cristais Swarovski de R$ 4.000, sumiu rapidamente das araras da loja.
O furor por esse tipo de jeans "gourmet" também atinge a Emporio Armani, que já está no Brasil desde o final dos anos 90. Em 2000, o volume de vendas de jeans representava aproximadamente 20% do total de peças vendidas pelo grupo Armani no país. Em 2004, essa fatia subiu para 40%. O preço de uma calça da linha Giorgio Armani (considerada a primeira linha do estilista italiano) também oscila na faixa de R$ 1.000.

Gosto por novidades
Mas quem está disposto a pagar quase cinco salários-mínimos por um jeans que, numa boa grife nacional, poderia custar R$ 200?
A classe A, obviamente, mas o privilégio não é exclusividade de milionários. "O nosso cliente é bem informado, culto, viaja para a Europa. Mas prefere aproveitar os passeios ao exterior para programas culturais. As compras, ele deixa para fazê-las no Brasil, onde pode pagar parcelado", diz Gaia.
Mesmo optando pelo pagamento em prestações, os consumidores desse tipo de produto tem um know-how para moda que os diferencia dos demais clientes. Prova disso é o gosto desse público por marcas de jeans praticamente desconhecidas no grande varejo como as americanas Seven for all Mankind, Paper Denin, True Religion e a japonesa Evisu.
Inaugurada em novembro do ano passado no Shopping Iguatemi, em São Paulo, a loja multimarcas Jeans Hall investe nesse nicho de mercado. A faixa de preço dos produtos também oscila entre R$ 650 e R$ 1.200. Mas atrás do valor, defende André Piedade, sócio da loja, está o diferencial. "Esses jeans têm uma lavagem especial, a maioria é feita na Itália, o corte é diferenciado e a fabricação é quase artesanal", argumenta.
Esse discurso que destaca a novidade do produto cai exatamente no gosto do brasileiro. A atração pelo novo é o principal combustível do consumo de artigos de luxo no Brasil, na avaliação de Carlos Ferreirinha, da consultoria MCF Fashion. "A diferença de comportamento do consumidor brasileiro é que ele é muito impulsivo, tudo o que é inédito, que é lançamento, tem grande apelo", diz.
Por ano, de acordo com a consultoria, esse mercado de luxo movimenta US$ 2,2 bilhões (R$ 5,84 bilhões) no Brasil e exibe taxas de crescimento de 38%.
Mas, apesar do fôlego, o Brasil ainda não é uma potência do consumo de luxo, diz Ferreirinha. Em Hong Kong, por exemplo, o consumo de luxo cresce até 80% por ano em algumas marcas.
"Não há um boom de consumo e muitas marcas importantes ainda, mas o mercado é bastante forte e tem espaço", avaliou.
Além de roupas, os segmentos de acessórios como bolsas e óculos de sol e o de jóias estão na mira das marcas internacionais que já estão no Brasil e também das que pretendem se instalar. A joalheria Tiffany, que já tem loja em São Paulo, estuda abrir uma filial no Rio. A Christian Dior e a inglesa Burberry também.

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