São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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TROCA DE COMANDO

Avaliação é que ministro tem muito mais afinidade com Lula que Meirelles; formação de equipe é lenta

Diretoria do BC teme força de Mantega

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Foi adiado o primeiro embate entre o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Prevista para hoje, ficou para amanhã a reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) que definiria a TJLP, taxa referência para empréstimo de longo prazo.
Se dependesse de Mantega, a TJLP já estaria em 7% ao ano, em vez dos atuais 9%. A definição da TJLP é considerada o primeiro teste no relacionamento de Mantega com Meirelles. O adiamento foi pedido pelo novo ministro, que somente ontem teria a primeira reunião com a equipe do Ministério da Fazenda.
Meirelles ganhou importância na equipe econômica com a queda de Palocci pois sua saída do BC geraria muita turbulência no mercado financeiro. O presidente Lula afirmou pessoalmente a Meirelles anteontem que o BC manterá sua autonomia.
Já as promessas de Mantega e Meirelles de que trabalharão em "sintonia" não foi suficiente para minimizar o desconforto dos diretores do BC. Alvo de críticas de Mantega nos últimos anos, eles estão vinculados ao novo ministro por mais que o governo tente fazer prevalecer, na prática, o status de ministro que Meirelles já tinha no papel. Segundo a Folha apurou, Mantega pode dificultar, e muito, o trabalho do BC.
A avaliação é que, primeiro, Mantega tem muito mais intimidade com Lula do que Meirelles. Assim, teria maior facilidade em convencê-lo das suas posições. Além disso, é petista histórico, conta com apoio da maioria dos ministros e é considerado extremamente fiel a Lula, atributo que o presidente costuma reconhecer.
Pesam também o fato de os diretores do BC já não terem um relacionamento tão bom com a Fazenda e o próprio presidente não se mostrar satisfeito com algumas decisões do banco. Era Palocci quem defendia o BC junto a Lula.
A estratégia de estabelecer uma relação de igualdade entre Meirelles e Mantega, e não de subordinação, foi negociada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho. Com isso, tentou-se desfazer a imagem de que a ala desenvolvimentista está dominante dentro do governo e criar condições de trabalho para o BC.
Nos bastidores do governo, porém, a bandeira de paz ainda é vista com ressalva. Não se espera atitude hostil de Mantega, mas avalia-se com cuidado a composição da nova equipe da Fazenda que vem sendo montada pelo ministro com cautela de quem movimenta peças de xadrez.
Mantega, que assessora Lula desde os anos 1990, sabe que, para fazer valer suas idéias nos nove meses que terá pela frente, precisará de pessoas de confiança no ministério. Por isso, não se espera queda brusca da TJLP agora.
Mantega disse ontem que não tem pressa para definir os nomes de seus principais assessores e tentou passar uma imagem tranqüila. Já no BC, não estão descartadas baixas na equipe, mas o governo não quer isso agora.
Anteontem, quando deixou o governo, Palocci pediu pessoalmente aos técnicos da Fazenda e a Meirelles que, se quisessem se solidarizar com ele, ficassem no ministério ajudando o presidente e Mantega, apurou a Folha.
A exceção ficou para aqueles que, como o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, já estavam de malas prontas. Meirelles, segundo a Folha apurou, não cogitou colocar seu cargo à disposição. Na conversa que teve com Meirelles, o ex-ministro o colocou como um pilar da política implementada nos últimos anos e ressaltou a importância de conter as insatisfações na equipe do BC, especialmente do diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, que já foi criticado por Mantega.


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