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TROCA DE COMANDO
Avaliação é que ministro tem muito mais afinidade com Lula que Meirelles; formação de equipe é lenta
Diretoria do BC teme força de Mantega
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Foi adiado o primeiro embate
entre o novo ministro da Fazenda,
Guido Mantega, e o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles. Prevista para hoje, ficou para
amanhã a reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) que
definiria a TJLP, taxa referência
para empréstimo de longo prazo.
Se dependesse de Mantega, a
TJLP já estaria em 7% ao ano, em
vez dos atuais 9%. A definição da
TJLP é considerada o primeiro
teste no relacionamento de Mantega com Meirelles. O adiamento
foi pedido pelo novo ministro,
que somente ontem teria a primeira reunião com a equipe do
Ministério da Fazenda.
Meirelles ganhou importância
na equipe econômica com a queda de Palocci pois sua saída do BC
geraria muita turbulência no
mercado financeiro. O presidente
Lula afirmou pessoalmente a
Meirelles anteontem que o BC
manterá sua autonomia.
Já as promessas de Mantega e
Meirelles de que trabalharão em
"sintonia" não foi suficiente para
minimizar o desconforto dos diretores do BC. Alvo de críticas de
Mantega nos últimos anos, eles
estão vinculados ao novo ministro por mais que o governo tente
fazer prevalecer, na prática, o status de ministro que Meirelles já tinha no papel. Segundo a Folha
apurou, Mantega pode dificultar,
e muito, o trabalho do BC.
A avaliação é que, primeiro,
Mantega tem muito mais intimidade com Lula do que Meirelles.
Assim, teria maior facilidade em
convencê-lo das suas posições.
Além disso, é petista histórico,
conta com apoio da maioria dos
ministros e é considerado extremamente fiel a Lula, atributo que
o presidente costuma reconhecer.
Pesam também o fato de os diretores do BC já não terem um relacionamento tão bom com a Fazenda e o próprio presidente não
se mostrar satisfeito com algumas
decisões do banco. Era Palocci
quem defendia o BC junto a Lula.
A estratégia de estabelecer uma
relação de igualdade entre Meirelles e Mantega, e não de subordinação, foi negociada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho. Com isso, tentou-se desfazer a imagem de que a ala desenvolvimentista está dominante
dentro do governo e criar condições de trabalho para o BC.
Nos bastidores do governo, porém, a bandeira de paz ainda é vista com ressalva. Não se espera atitude hostil de Mantega, mas avalia-se com cuidado a composição
da nova equipe da Fazenda que
vem sendo montada pelo ministro com cautela de quem movimenta peças de xadrez.
Mantega, que assessora Lula
desde os anos 1990, sabe que, para
fazer valer suas idéias nos nove
meses que terá pela frente, precisará de pessoas de confiança no
ministério. Por isso, não se espera
queda brusca da TJLP agora.
Mantega disse ontem que não
tem pressa para definir os nomes
de seus principais assessores e
tentou passar uma imagem tranqüila. Já no BC, não estão descartadas baixas na equipe, mas o governo não quer isso agora.
Anteontem, quando deixou o
governo, Palocci pediu pessoalmente aos técnicos da Fazenda e a
Meirelles que, se quisessem se solidarizar com ele, ficassem no ministério ajudando o presidente e
Mantega, apurou a Folha.
A exceção ficou para aqueles
que, como o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, já estavam de
malas prontas. Meirelles, segundo a Folha apurou, não cogitou colocar seu cargo à disposição. Na
conversa que teve com Meirelles,
o ex-ministro o colocou como um
pilar da política implementada
nos últimos anos e ressaltou a importância de conter as insatisfações na equipe do BC, especialmente do diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, que já
foi criticado por Mantega.
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