|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BID vê crise levar 12 milhões à pobreza
Banco quer aumentar seus recursos para financiar os projetos sociais e de infraestrutura na América Latina e Caribe
Capitalização do banco
depende do aporte de
recursos de todos os países
membros; mas aprovação
pode levar até quatro anos
TONI SCIARRETTA
ENVIADO ESPECIAL A MEDELLÍN
A crise financeira global terá
consequências desastrosas para as democracias da América
Latina, podendo levar 12 milhões de pessoas a viverem
abaixo da linha de pobreza e colocar em risco a estabilidade
política da região, segundo o
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento).
Para enfrentar o problema, o
banco reuniu representantes
de 48 países no final de semana
em Medellín com o objetivo de
fechar um compromisso de
quase triplicar os recursos para
financiar a região.
Com capital de US$ 100 bilhões, o BID quer elevar em
mais US$ 180 bilhões os recursos para investir em projetos
sociais e de infraestrutura na
América Latina e Caribe, segundo o ex-premiê peruano Pedro Pablo Kuczynsky, que
coordenou os estudos para o
BID, com o ex-ministro Antonio Palocci.
O problema é que a capitalização do banco depende do
aporte de recursos de todos os
países membros, sendo que a
maioria deve aprová-la nos respectivos legislativos, o que pode levar até quatro anos. O último aumento de capital aconteceu em 1995 e demorou três
anos para ser concretizado.
No caso do Brasil, o aporte
seria de cerca de US$ 770 milhões em quatro anos.
Maior sócio do BID, com
30% do capital, os EUA devem
colocar mais de US$ 2 bilhões.
A maior resistência é do Congresso americano. Na assembleia do BID, o secretário do
Tesouro, Timonthy Geithner,
disse apoiar a capitalização do
banco, desde que sejam examinadas suas operações e revistos
procedimentos de transparência e de governança.
Segundo o ministro brasileiro do Planejamento, Paulo Bernardo, a tendência é que o aumento de capital seja aprovado.
O ministro afirmou que o BID
tem poucos recursos disponíveis para empréstimos neste
ano e quase não terá nada para
2010. O Brasil levou ao BID a
proposta de destinar 10% dos
recursos para financiar empresas privadas, pauta que encontra resistência de vários países
e até de governadores no Brasil.
Empresas brasileiras têm demanda para emprestar entre
US$ 350 milhões e US$ 400 milhões do BID, a maioria para
obras do PAC. "Se o BID não
emprestar, vamos colocar dinheiro do BNDES", disse.
Desde a piora da crise, aumentou a demanda dos países
por financiar políticas anticíclicas, de fomento à economia; até
então, os financiamentos focavam infraestrutura.
O Brasil é um dos países que
mais emprestam do BID, levando quase um quarto do total de
desembolsos. No ano passado,
foram financiados R$ 3 bilhões.
Para este ano, o BID deve desembolsar US$ 18 bilhões na
região, 50% mais que em 2008.
Bernardo defende que o BID
flexibilize a liberação dos empréstimos, incluindo elevação
da alavancagem para desembolsar pelo menos US$ 20 bilhões em 2009. No caso, o processo de capitalização impediria que a alavancagem motive o
rebaixamento da avaliação de
risco do banco. "O BID não tem
de atender as regras de Basileia
[de capitalização mínima]."
Recém-admitida ao BID, a
China fez aporte de US$ 350
milhões no banco em janeiro e
já concordou com a proposta de
aumento de capital. O país
pressiona para elevar sua importância no grupo.
O FMI negocia socorro a
Costa Rica, El Salvador e Guatemala, a partir da nova linha,
sem o cumprimento de exigências, de recursos disponíveis
para países em dificuldades.
O jornalista TONI SCIARRETTA viajou a convite do BID
Texto Anterior: Investidora de Barretos lidera disputa mensal do Folhainvest Próximo Texto: Pressão do governo derruba chefe da GM Índice
|