São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2010

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Colômbia eleva tom no FMI contra o Brasil

Após demissão de representante colombiana por Paulo Nogueira Batista Jr., Bogotá indica que Brasil não fala mais em seu nome

Colômbia faz parte de grupo de países representado pelo Brasil e, conforme as regras do FMI, tem direito a indicar nome para o posto de vice


ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

No aprofundamento de uma contenda com o Brasil, que demitiu a representante colombiana no FMI (Fundo Monetário Internacional), a Colômbia indicou ao órgão que o país não fala mais em seu nome, segundo a Folha apurou. Até agora, a Colômbia faz parte de um grupo votante liderado pelo Brasil e encabeçado desde 2007 pelo diretor-executivo Paulo Nogueira Batista Jr.
Dado o inusitado da situação, não estão claras quais são as consequências imediatas do comunicado. Se confirmada, a saída da Colômbia significaria perda de percentual de voto -e de poder- para o grupo do Brasil, que tem hoje 2,42% (os EUA têm, sozinhos, 16,74%).
Mas a saída efetiva da Colômbia é considerada pouco factível no curto prazo. O país é signatário de um acordo constitutivo do grupo (também composto por República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, Suriname e Trinidad e Tobago), e seria preciso renegociá-lo. Os colombianos também teriam de encontrar outro grupo de países para se agregar e manter, assim, alguma representatividade, pois não têm votos suficientes para agir individualmente. Além disso, se a Colômbia se unir a outro grupo que vota alinhado ao dos brasileiros, o efeito prático da ação pode ser limitado.
A tendência por enquanto é que o caso fique paralisado até o final de abril, quando ocorrerão reuniões dos grupos constituintes do Fundo em Washington. É esperada a presença do ministro Guido Mantega (Fazenda), que comanda a posição do Brasil no organismo, e haverá chance de conversas diretas com autoridades colombianas.
A disputa começou em fevereiro, quando Batista Jr. demitiu a representante da Colômbia no FMI, María Ines Agudelo, do cargo de diretora-adjunta do grupo. Pelas regras do Fundo, o posto cabe a um colombiano -a Colômbia tem o segundo maior número de votos no grupo, depois do Brasil- e Bogotá insistia em manter Agudelo. No site do FMI, o cargo continua em aberto.

Nova eleição
Segundo relatos feitos à Folha, o relacionamento entre Batista Jr. e Agudelo já vinha se deteriorando no último ano com um acúmulo de divergências, e nos últimos meses o contato se tornou menos frequente. A demissão causou uma saia justa e levou a contatos de vários níveis entre Brasil e Colômbia, sem que fosse possível um acordo. Teme-se agora que a contenda influencie a escolha do novo diretor do grupo liderado pelo Brasil no FMI, a partir de outubro.
A Folha entrou em contato com Nogueira Jr. ontem, mas ele não quis se pronunciar sobre o tema. Agudelo não foi encontrada, e a Embaixada da Colômbia não fez comentários.
Colunista da Folha, Batista Jr. foi indicado pelo Brasil em 2007 e assumiu o lugar do ex-diretor do BC Eduardo Loyo. O quadro de diretores é responsável pela condução dos negócios no dia a dia do Fundo. É composto por 24 diretores, designados ou eleitos pelos países ou por um grupo de países.


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