São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Lavagna resiste ao primeiro teste; intervenção do Banco Central e falta de liquidez seguram cotação da moeda

Dólar volta a ser negociado e cai 6,4%

JOÃO SANDRINI
FABRICIO VIEIRA

DE BUENOS AIRES

O novo ministro da Economia, Roberto Lavagna, sobreviveu ao primeiro teste de sua gestão com a expressiva queda do dólar ontem na Argentina. A relativa calma do mercado somada ao monitoramento do Banco Central resultaram no recuo de 6,4% que a moeda dos EUA registrou, vendida a 3,07 pesos no fim do dia.
Na reabertura dos negócios após o feriado cambial que paralisou o mercado durante toda a semana passada, os sinais eram de que o dia seria tenso. Na manhã de ontem, o dólar chegou a subir 3%. Mas o número de compradores caiu rapidamente e possibilitou a baixa. O BC interveio com a venda de aproximadamente US$ 20 milhões, segundo informação de operadores de câmbio. A venda de 170 milhões em papéis prefixados e de US$ 60 milhões em papéis cambiais também foi decisiva para a queda do preço do dólar.
"A liquidez do mercado está bastante reduzida devido ao feriado bancário da semana passada e à nova lei que ao menos retarda a saída de recursos bloqueados pelo curralzinho e que vinham, em grande parte, sendo utilizados para a compra de dólares", afirma o diretor de mercados do banco Itau Buen Ayre, Sergio D'Amico.
Nas operações em que o BC vende dólares diretamente ao público, por meio de bancos e casas de câmbio cadastrados, a moeda dos EUA fechou a 3 pesos.
"Não duvido que o Banco Central consiga manter o dólar próximo dos 3 pesos nas próximas semanas. Mas se o acordo com o FMI e o novo "Plano Bonex" não saírem, o câmbio vai se descontrolar rapidamente", diz o economista e diretor da consultoria Exante, Aldo Abram.
O economista explica que devido ao sistema de "clearing" -por meio do qual os cheques são compensados- ter ficado parado com o feriado, muitas pessoas e empresas tiveram de vender dólares para cobrir suas dívidas e contas vencidas.

Definições
O governo argentino vai definir em até 15 dias como será o novo projeto que prevê a devolução de títulos públicos e dos bancos aos correntistas no lugar dos depósitos a prazo fixo bloqueados pelo curralzinho. Lavagna se reuniu ontem com banqueiros e parlamentares para discutir a melhor forma de implementar a proposta. Segundo o deputado peronista Alberto Coto, ligado a Lavagna e que participa das negociações, os banqueiros se mostraram animados com a proposta.
A medida seria mandada ao Congresso por meio de decreto de urgência e, com isso, todo o desgaste político da medida ficaria com o governo. Desta forma, Coto acredita que o plano não seria rechaçado pelos parlamentares, como no episódio da semana passada que culminou na renúncia do ex-ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov.
Em reunião com embaixadores do G-7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), Mercosul, Espanha, Rússia e México, Lavagna e Carlos Ruckauf ratificaram a posição do país em seguir os trabalhos com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Além disso, Lavagna também pediu aos países ricos que seus mercados "se abram para as exportações argentinas".
O ministro Pedro Malan (Fazenda) disse ontem que desconhece qualquer proposta do governo argentino no sentido de obter algum tipo de apoio financeiro do Brasil.
Sobre a crise do país vizinho, Malan comentou que o mais importante para a Argentina no momento é reativar o sistema de pagamentos. "O sistema financeiro precisa de crédito.A Argentina está atravessando uma grave crise, mas acho que há saída. O custo será alto."


Colaborou a Sucursal de Brasília


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