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País pode usar híper para tentar controlar as finanças públicas
DE BUENOS AIRES
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o governo argentino não conseguir fechar um acordo de socorro com o FMI (Fundo Monetário Internacional), poderá optar por
uma política monetária expansiva, o que abrirá as portas para a
volta da hiperinflação. Sem crédito externo ou interno, o governo
pode encontrar no ""imposto inflacionário", resultante da aceleração da inflação, a forma de
equilibrar as contas públicas.
Como cerca da metade da massa tributária da Argentina é composta pelo IVA (Imposto sobre
Valor Agregado, que incide sobre
quase todos os produtos), o aumento da inflação se reflete em
crescimento da arrecadação. Produtos mais caros podem significar uma quantidade maior de impostos nos cofres do governo,
considerando-se que a queda na
demanda já é muito grande.
O Banco Central já emitiu cerca
de 95% dos 3,5 bilhões de pesos
previstos no Orçamento deste
ano. ""A questão é saber qual será
a política do BC quando atingir o
teto de emissão permitida, o que
está para acontecer. Sem o FMI, a
possibilidade de voltar à política
monetária expansiva é grande",
afirma Dardo Ferrer, economista
da Fundação Mercado.
Se a média de 10% de inflação
prevista para abril se mantiver
nos próximos meses, as possibilidades de se entrar em um processo que leve à hiperinflação estão
dadas. Para Ferrer, o governo não
vai conseguir evitar por muito
tempo os reajustes nas tarifas públicas e nos salários, que potencializarão a inflação.
"Não vejo a hiperinflação na esquina. Mas se Lavagna insistir, como parece que vai, nos mesmos
erros de Lenicov, vamos acabar
dando de cara com ela", diz o economista Eduardo Cúria, ex-secretário do governo Menem (1989-1999), que menciona na lista de
erros a retomada do plano Bonex.
Da mesma forma, ainda que admita que uma hiperinflação possa
ser usada para equilibrar as contas públicas, Cúria não deixa de
ver a situação como limite. Ele comenta com ironia. ""A saída pela
hiperinflação é fabulosa: um imposto ao qual o resto dos agentes
econômicos não têm capacidade
de alcançar. Só tem um problema:
não leva em conta as pessoas, que
vão ser de novo castigadas", diz.
O economista Orlando Ferreres,
outro ex-funcionário do governo
-foi vice-ministro da Economia
de Raúl Alfonsín (1983-1989)-
aponta que a partir de agosto ""o
imposto inflacionário" vai permitir ao Estado obter melhora nos
níveis de arrecadação. Ferreres
calcula que a inflação acumulada
de 2002 será de 120% contra os
40% admitidos pelo governo.
Mas não deixa de advertir sobre
as sérias debilidades que a gestão
Duhalde precisa administrar: o
primeiro ponto é que, mesmo que
consiga um acordo com o FMI, na
melhor da hipóteses, ele não vai
superar os US$ 8 bilhões (as estimativas em média são de que chegue ao número de US$ 5 bilhões).
Em segundo lugar, o governo já
precisou emprestar 5,6 bilhões de
pesos para os bancos, por meio de
linhas de redesconto (e não recebeu boa parte desse dinheiro).
Por fim, mesmo com a chamada
"Lei Tampão", que limita às instâncias superiores o poder de liberar recursos retidos no curralzinho (restrição a saques bancários), o governo ainda seguirá
acompanhando a sangria no sistema financeiro. Somados, esses
fatores atiçam mais a tentação de o Estado emitir moeda, o que potencializa mais e mais inflação. (FABRICIO VIEIRA e JOSÉ ALAN DIAS)
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