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LUÍS NASSIF
A vitória da ousadia
No dia 21 de maio de 2002,
recebi telefonema de Pedro Camargo Netto no qual expôs os problemas que estava enfrentando com o Ministério das
Relações Exteriores, que relutava em prosseguir com a ação
contra o algodão norte-americano. Fazia parte de uma ofensiva desesperada para romper
com a inércia do Itamaraty.
Antes de entrar para o governo, Camargo já pensava sobre o
tema. Após um início desastrado, com a política de retenção
do café, o então ministro da
Agricultura, Pratini de Moraes,
resolveu dar uma nova dinâmica à pasta e convidou Camargo
a integrar a sua equipe. No primeiro despacho, Camargo propôs que se estudasse uma ação
contra a política de soja norte-americana. Pratini aprovou.
Em junho de 2001, Camargo
apresentou parecer do ex-negociador agrícola europeu Rolf
Moehler, que dava um tratamento original à Cláusula da
Paz -o acordo que permitia a
manutenção de subsídios agrícolas já existentes por ocasião
da Rodada Uruguai.
Segundo o parecer, durante a
Rodada Uruguai, a soja norte-americana não recebia subsídios. Na safra 2000/2001, os subsídios chegavam a mais de US$
2 bilhões. A Cláusula da Paz
exigia que cada produto individualmente não poderia exceder
o nível de subsídio de 1992. Pratini levou ao presidente Fernando Henrique Cardoso a proposta de abrir um painel na OMC
contra os EUA. Recebeu luz verde. Em julho de 2002, Camargo
se encontrou com o então embaixador em Genebra, Celso
Amorim, que prontamente
apoiou a proposta.
Em setembro de 2002, houve a
primeira reunião com os EUA,
em Genebra. Nas análises, se
percebeu o mesmo problema
com o açúcar da União Européia. Mas se continuava a esbarrar na relutância do Itamaraty, que exigia novos estudos,
"muita precaução" -que é a
maneira de barrar qualquer
iniciativa.
Não fosse essa relutância, a
vitória poderia ter sido conquistada em 2002. Depois disso, o
preço da soja subiu, os subsídios
caíram e se perdeu a oportunidade de iniciar o caso. A OMC
julga o presente e o futuro, nunca prejuízos passados. Em setembro de 2002, finalmente, a
Camex aprovou os dois casos
do algodão e do açúcar. O Brasil ganhou no algodão e deve
ganhar no açúcar.
Conselho de Camargo: o importante agora não é o Brasil
iniciar novos casos. Não dá para mudar o mundo sozinho. É
preciso estudar detalhadamente o ganho do algodão e seu reflexo na Rodada Doha. Para
administrar prejuízos, era preciso ousadia. Para administrar
a vitória, exige-se precaução.
Copom e China
O principal risco à economia
brasileira se chama China. Seu
crescimento sustentou o aumento não apenas das exportações brasileiras para lá como
dos preços dos principais commodities. Mesmo assim, em
sua parte internacional, a ata
do Copom (Comitê de Política
Monetária do Banco Central)
analisa a economia norte-americana, a japonesa e a européia e não dedica nenhuma
linha sequer à China, foco dos
analistas do mundo inteiro.
Provavelmente porque em
2002 (último ano de Armínio
Fraga) a China não era incluída porque naquela época ainda não tinha relevância para a
economia brasileira. A atual
diretoria do BC não ousou sequer adaptar o modelo de ata
do Copom herdado da gestão
anterior à realidade atual.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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