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RECEITA ORTODOXA
Para economista, fundamentos econômicos permitiriam taxas menores, mas legado da inflação persiste
Juro alto é preço do passado, afirma Sachs
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O economista Jeffrey Sachs, representante especial das Nações
Unidas para acompanhamento
das Metas do Milênio, avaliou ontem que a política de aumentos
contínuos na taxa básica de juros
poderia estar criando um ambiente desfavorável para o crescimento econômico, que poderia
ser de 5% ao ano.
Ele se reuniu ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
disse que o assunto da taxa de juros era um tema sobre o qual gostaria de fazer perguntas.
"Eu não acompanho esse assunto, mas eu acho que o Brasil tem a
capacidade de crescer entre 5% e
6% ao ano e eu gostaria de ver um
marco macroeconômico que permita esse ritmo de crescimento",
disse Sachs ontem em entrevista
coletiva na sede das Nações Unidas em Brasília. "Não sei se é certo
ou errado, mas, para mim, é um
ponto de interrogação porque eu
acho que o crescimento é muito
importante para o Brasil neste
momento", completou.
Ele evitou elaborar suas dúvidas
ou fazer críticas mais específicas
por não ser um "macroeconomista brasileiro".
Tirando essa dúvida sobre os juros, Sachs elogiou a política econômica do governo, ao lembrar
que Lula precisou encarar o "pânico irracional dos mercados financeiros" na época da eleição,
além de ter que administrar o risco-país.
"As altas taxas de juros significam que o dinheiro que deveria
ser investido em outras coisas não
pôde. As taxas altas refletem uma
situação na qual ainda há preocupações sobre o longo legado de inflação. Portanto o Brasil paga o
preço pela instabilidade do passado. Eu acho que, se tivéssemos a
mesma situação em um país com
histórico diferente, as taxas seriam mais baixas, levariam em
conta apenas os fundamentos
reais da economia", disse.
Para Sachs, há uma preocupação real com a necessidade de investir mais em saneamento básico. Apontou também como problemas sérios as condições mínimas de moradia dos brasileiros,
como as favelas.
"Crescimento sozinho não resolve a problema da pobreza. Ajuda, mas é preciso investimento
público", disse, lembrando serem
necessárias novas soluções para
investir em cenários de aperto fiscal. Ele disse que iria falar com o
governo sobre a importância de
abrir "espaço fiscal" de médio
prazo para melhorar esses investimentos -isto é, realizar esses
gastos sociais dentro da política
de superávit primário.
"Acho que o governo tem sido
criativo em algumas áreas, não
podemos dizer que o governo deixou toda a sua agenda social de lado (...) Mas claramente é necessário mais espaço fiscal para algumas das coisas que o Brasil precisa fazer."
Educação e ciência
Para romper o ciclo de vulnerabilidade, na qual os juros são altos
para bancar o risco e acabam gerando mais risco porque aumentam os custos com a dívida pública, Sachs ofereceu uma solução
clássica: investimentos de longo
prazo em educação e ciência, ancorados no aumento de renda baseado em exportações.
Sachs avaliou que o Brasil tem
um papel de liderança mundial
por querer uma cadeira permanente no Conselho de Segurança
após a reforma das Nações Unidas. Também fez um forte crítica
à política militarista dos Estados
Unidos e disse que o país é um dos
que menos liberam verbas de desenvolvimento para Estados pobres em termos de porcentagem
do PIB (Produto Interno Bruto).
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