São Paulo, sábado, 30 de abril de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Para economista, fundamentos econômicos permitiriam taxas menores, mas legado da inflação persiste

Juro alto é preço do passado, afirma Sachs

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O economista Jeffrey Sachs, representante especial das Nações Unidas para acompanhamento das Metas do Milênio, avaliou ontem que a política de aumentos contínuos na taxa básica de juros poderia estar criando um ambiente desfavorável para o crescimento econômico, que poderia ser de 5% ao ano.
Ele se reuniu ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o assunto da taxa de juros era um tema sobre o qual gostaria de fazer perguntas.
"Eu não acompanho esse assunto, mas eu acho que o Brasil tem a capacidade de crescer entre 5% e 6% ao ano e eu gostaria de ver um marco macroeconômico que permita esse ritmo de crescimento", disse Sachs ontem em entrevista coletiva na sede das Nações Unidas em Brasília. "Não sei se é certo ou errado, mas, para mim, é um ponto de interrogação porque eu acho que o crescimento é muito importante para o Brasil neste momento", completou.
Ele evitou elaborar suas dúvidas ou fazer críticas mais específicas por não ser um "macroeconomista brasileiro".
Tirando essa dúvida sobre os juros, Sachs elogiou a política econômica do governo, ao lembrar que Lula precisou encarar o "pânico irracional dos mercados financeiros" na época da eleição, além de ter que administrar o risco-país.
"As altas taxas de juros significam que o dinheiro que deveria ser investido em outras coisas não pôde. As taxas altas refletem uma situação na qual ainda há preocupações sobre o longo legado de inflação. Portanto o Brasil paga o preço pela instabilidade do passado. Eu acho que, se tivéssemos a mesma situação em um país com histórico diferente, as taxas seriam mais baixas, levariam em conta apenas os fundamentos reais da economia", disse.
Para Sachs, há uma preocupação real com a necessidade de investir mais em saneamento básico. Apontou também como problemas sérios as condições mínimas de moradia dos brasileiros, como as favelas.
"Crescimento sozinho não resolve a problema da pobreza. Ajuda, mas é preciso investimento público", disse, lembrando serem necessárias novas soluções para investir em cenários de aperto fiscal. Ele disse que iria falar com o governo sobre a importância de abrir "espaço fiscal" de médio prazo para melhorar esses investimentos -isto é, realizar esses gastos sociais dentro da política de superávit primário.
"Acho que o governo tem sido criativo em algumas áreas, não podemos dizer que o governo deixou toda a sua agenda social de lado (...) Mas claramente é necessário mais espaço fiscal para algumas das coisas que o Brasil precisa fazer."

Educação e ciência
Para romper o ciclo de vulnerabilidade, na qual os juros são altos para bancar o risco e acabam gerando mais risco porque aumentam os custos com a dívida pública, Sachs ofereceu uma solução clássica: investimentos de longo prazo em educação e ciência, ancorados no aumento de renda baseado em exportações.
Sachs avaliou que o Brasil tem um papel de liderança mundial por querer uma cadeira permanente no Conselho de Segurança após a reforma das Nações Unidas. Também fez um forte crítica à política militarista dos Estados Unidos e disse que o país é um dos que menos liberam verbas de desenvolvimento para Estados pobres em termos de porcentagem do PIB (Produto Interno Bruto).


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