São Paulo, sábado, 30 de abril de 2005

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Ex-BC compara juros a hiperinflação

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco comparou o desafio das taxas de juros no Brasil hoje ao da hiperinflação, em seminário promovido pela Aberj (Associação dos Bancos no Estado do Rio de Janeiro) sobre a política monetária e de crédito.
"O desafio representado pelas taxas de juros no Brasil é comparável em complexidade ao fenômeno da hiperinflação, enfrentado pela minha geração de economistas", disse. Segundo Franco, os juros no Brasil sempre foram altos e nenhum dos dirigentes do BC até hoje conseguiu reduzi-los de fato. "Muitos dirigentes passaram pelo Banco Central e nenhum de nós conseguiu reduzir os juros reais para níveis que possam ser considerados civilizados", afirmou.
Para o ex-presidente do BC, o papel dos juros no país é reduzido pela visão de que bastaria "uma canetada ou a sensibilidade dos dirigentes do BC" para que o problema fosse solucionado.
O diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, reconheceu que os juros reais são altos, mas afirmou que eles vêm sendo reduzidos ao longo dos anos. "Apesar de altos, não há evidência de que sejam mais elevados do que o necessário para converter a inflação à trajetória das metas estabelecidas", disse.
O diretor avalia o desempenho do sistema de metas no país como positivo diante dos choques que a economia brasileira enfrentou desde que o sistema foi adotado.
Segundo o professor Marcio Garcia, da PUC, os principais problemas se referem à falta de credibilidade da política monetária e à indexação da economia aos índices de preços. Estes dois efeitos combinados fazem com que haja uma persistência da inflação decorrente de choques de curto prazo nas expectativas do mercado para os próximos 12 meses, na avaliação do professor. As soluções para estes entraves, ainda segundo Garcia, seriam diminuir a indexação dos preços administrados, completar a base institucional do regime de metas de inflação e cortar gastos públicos.

Independência
A credibilidade da política monetária só será atingida, na avaliação de Franco, com o fortalecimento do BC como instituição, o que passaria por mandato fixo para o presidente do banco e por maior independência do CMN (Conselho Monetário Nacional). "Com três membros, ele ainda está subordinado ao presidente porque por lei os ministros devem obediência. O CMN formula as diretrizes da política monetária e isso é o contrário da independência", disse.
Segundo Franco, o problema da autonomia do BC é mais de forma do que de conteúdo. "Independência do BC é um slogan muito ruim para essa campanha", disse. Para ele, trata-se na verdade da construção institucional e de fortalecimento da moeda nacional.


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