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Ex-BC compara juros a hiperinflação
JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco comparou o
desafio das taxas de juros no Brasil hoje ao da hiperinflação, em seminário promovido pela Aberj
(Associação dos Bancos no Estado do Rio de Janeiro) sobre a política monetária e de crédito.
"O desafio representado pelas
taxas de juros no Brasil é comparável em complexidade ao fenômeno da hiperinflação, enfrentado pela minha geração de economistas", disse. Segundo Franco,
os juros no Brasil sempre foram
altos e nenhum dos dirigentes do
BC até hoje conseguiu reduzi-los
de fato. "Muitos dirigentes passaram pelo Banco Central e nenhum de nós conseguiu reduzir
os juros reais para níveis que possam ser considerados civilizados", afirmou.
Para o ex-presidente do BC, o
papel dos juros no país é reduzido
pela visão de que bastaria "uma
canetada ou a sensibilidade dos
dirigentes do BC" para que o problema fosse solucionado.
O diretor de Política Econômica
do BC, Afonso Bevilaqua, reconheceu que os juros reais são altos, mas afirmou que eles vêm
sendo reduzidos ao longo dos
anos. "Apesar de altos, não há evidência de que sejam mais elevados do que o necessário para converter a inflação à trajetória das
metas estabelecidas", disse.
O diretor avalia o desempenho
do sistema de metas no país como
positivo diante dos choques que a
economia brasileira enfrentou
desde que o sistema foi adotado.
Segundo o professor Marcio
Garcia, da PUC, os principais problemas se referem à falta de credibilidade da política monetária e à
indexação da economia aos índices de preços. Estes dois efeitos
combinados fazem com que haja
uma persistência da inflação decorrente de choques de curto prazo nas expectativas do mercado
para os próximos 12 meses, na
avaliação do professor. As soluções para estes entraves, ainda segundo Garcia, seriam diminuir a
indexação dos preços administrados, completar a base institucional do regime de metas de inflação e cortar gastos públicos.
Independência
A credibilidade da política monetária só será atingida, na avaliação de Franco, com o fortalecimento do BC como instituição, o
que passaria por mandato fixo
para o presidente do banco e por
maior independência do CMN
(Conselho Monetário Nacional).
"Com três membros, ele ainda está subordinado ao presidente
porque por lei os ministros devem obediência. O CMN formula
as diretrizes da política monetária
e isso é o contrário da independência", disse.
Segundo Franco, o problema da
autonomia do BC é mais de forma
do que de conteúdo. "Independência do BC é um slogan muito
ruim para essa campanha", disse.
Para ele, trata-se na verdade da
construção institucional e de fortalecimento da moeda nacional.
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