São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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MERCADO ABERTO

Populismo pauta América Latina

Mais que a economia global, a principal vítima da atual agenda política populista da América Latina é a própria população desses países. O diagnóstico é de Jean Pierre Lehmann, professor de estratégia e economia global do IMD (International Institute for Management Development).
Lehmann cita a região norte da América do Sul como a mais preocupante: países como Peru, Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela são os países mais problemáticos. "A Argentina também preocupa", diz o professor, que compara a situação do país com o alcoolismo. "O peronismo vai e volta como alguém que pára de beber, mas logo sucumbe. As pessoas têm medo de investir em um país assim."
O maior exemplo da volta maciça do populismo é o início da gestão de Evo Morales na Bolívia. "Ainda é cedo para avaliar Morales, mas dá a impressão de que a eleição se baseou no desespero do público", diz.
O Brasil divide com o Chile a posição mais confortável. "Ainda é muito cedo para dizer, mas Michele Bachelet [presidente do Chile] passa uma boa imagem para os outros países", diz.
Já o Brasil tem um cenário interessante para investidores desde a primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998). "O país passou por uma irreversível mudança política, que mantém até hoje com o governo Lula", afirma o professor.
Por outro lado, Lehmann diz que sente "frustração" pela não-exploração do país como deveria ser feito. "O que direi agora é óbvio, mas há muita corrupção", diz. O professor defende também que as classes mais ricas paguem um imposto maior. "E esse é o tipo de coisa que não depende só do presidente, mas de toda a sociedade."
Lehmann considera praticamente impossível uma aliança entre o Mercosul e a União Européia. O motivo são os conflitos na agricultura. "Pessoalmente, eu estou do lado do Brasil, mas não há como negar que esse é um ponto crucial de desentendimento para a aliança."

Luxo segue em alta

O mercado de luxo no Brasil deve crescer 35% ao ano. A previsão é do consultor Carlos Ferreirinha, que ministra curso sobre o setor na próxima semana em São Paulo. Leia trechos da entrevista a seguir.

Folha - Como o comércio de luxo cresce no país?
Carlos Ferreirinha -
Eu prevejo, nos próximos dois anos, que teremos um significativo crescimento no segmento. Temos mantido uma meta de 35%. Vamos ter incremento de fora chegando ao país. As próprias marcas já estabelecidas vão expandir no mercado nacional e ganharão outros mercados. E vamos ter também outras marcas nacionais que buscarão esse mesmo caminho.

Folha - O que pode acontecer com a Daslu?
Ferreirinha -
A Daslu deve observar e analisar todas as alternativas de mercado. Aliás, qualquer um tem que considerar todas as oportunidades. Poucas empresas e marcas, no entanto, construíram uma relação emocional tão forte com os clientes como a Daslu. Isso confere a ela uma capacidade de recuperação muito grande, e que é percebida por todos.

Folha - Há outros casos de sonegação fiscal na importação de produtos de luxo? Isso é comum?
Ferreirinha -
Não, não é comum.

Folha - Com o dólar no patamar atual, vale mais a pena ir a Miami, Nova York ou Europa para comprar esses produtos?
Ferreirinha -
No segmento de luxo tradicional o que mais impacta é o euro, porque lida com marcas européias. Depois, é muito importante perceber que a manifestação do consumo de luxo não se dá na programação de agenda, e sim com impulso. "Se tenho desejo, compro agora." Se a marca está no Brasil, eu não penso em Miami, não penso na Europa. Evidentemente, em um país como o Brasil, vai ser mais caro. Tem tributos, tem importação.

Folha - Há constrangimento em consumir produtos de luxo num país pobre como o Brasil?
Ferreirinha -
Há, mas não deveria. O mercado de luxo é um negócio e tem que ser visto como tal. Essa visão do rico exclusivista tem que ficar para trás. O mercado de luxo movimenta US$ 210 bilhões de dólares no mundo por ano [No Brasil, o setor movimenta cerca de US$ 2,2 bilhões por ano]. É uma atividade de negócios.

Folha - O brasileiro rico é ostentatório?
Ferreirinha -
Ostentação não tem a ver com a riqueza. A ostentação é uma manifestação humana, não brasileira.

Folha - Quais grifes que ainda não estão aqui e querem entrar?
Ferreirinha -
Há muitas. Gucci, Prada, Dolce Gabanna, todas querem estar no Brasil, seja com investimentos diretos ou franquia.

PERSONALIDADE DA COMUNICAÇÃO
Octavio Frias de Oliveira, "publisher" do Grupo Folha, recebe na próxima quarta-feira o Prêmio Personalidade da Comunicação 2006. O prêmio é uma homenagem "às pessoas que decidem os rumos da mídia", segundo o jornalista Eduardo Ribeiro, diretor da Mega Brasil. A empresa edita a publicação "Jornalistas & Cia." e organiza o 9º Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, que será realizado em São Paulo, nos dias 3, 4 e 5 de maio. Frias de Oliveira foi escolhido, de acordo com Ribeiro, por dirigir um grupo no qual a independência econômica garante a independência jornalística. A premiação ocorrerá no Centro de Convenções Rebouças, em cerimônia para convidados. O Grupo Folha é formado pelos jornais Folha, "Agora São Paulo" e "Valor Econômico" (em parceria com as Organizações Globo) e pelo portal de internet UOL (em sociedade com a Portugal Telecom).

NO COLDRE
Na falta de verdinhas, o carioca saca o cartão de crédito. Pesquisa realizada pelo Instituto Fecomércio-RJ mostra que até em lanchonetes é cada vez mais comum jogar o pagamento para o mês seguinte. Em março de 2006, o cartão de crédito representou 30,4% do faturamento desses estabelecimentos. Há dois anos, o percentual era de 22,1%.

RECORDE
Os ingressos para o Skol Beats 2006, dia 13, em São Paulo, já bateram recorde de vendas. Há quinze dias do evento, já foram vendidos 10% a mais do que em 2005. Somente no primeiro dia de venda 2.000 ingressos foram vendidos.

CRUZADA
A Previ segue na sua cruzada pela instalação de conselhos fiscais permanentes nas empresas. Mais quatro atenderam à solicitação do fundo do BB e decidiram instalar os conselhos. São elas: Forjas Taurus, WEG, Coteminas e Grupo Ipiranga

SUPERTOSCANA
O enólogo italiano Renzo Cotarella, da Vinícola Marchesi Antinori, veio ao Brasil na última semana para comemorar os 30 anos do Tignanello, precursor dos supertoscanos

CATA-VIDA
Uma equipe independente de vídeo da Venezuela desembarca em São Paulo na terça para registrar a experiência do programa Cata-Vida, patrocinado pela Petrobras desde 2003 e implantado em dez municípios da região de Sorocaba (SP). Os 365 catadores incorporados ao programa por meio de cooperativas regionais utilizam a coleta seletiva de lixo e comercializam o material reciclável, gerando receita para a rede. Há casos de cooperativas que conseguiram elevar em até 51% a renda familiar de seus catadores. A equipe venezuelana vai produzir um programa especial para a TV para levar o exemplo para o país.

CRÉDITO PARA MBA
A Caixa Econômica Federal lança na terça uma linha de crédito para financiar cursos de Pós-Graduação e MBA. O prazo de financiamento será de até 36 meses e A taxa de juros de 2,35% ao mês. O valor do crédito mínimo é de R$ 1.000,00, e o máximo, de R$ 30.000,00.


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