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1º DE MAIO
Trabalhadores com mais de 11 anos de estudo tiveram as maiores perdas entre 2002 e 2006, aponta estudo do IBGE
Renda dos mais instruídos cai 12% em 4 anos
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um diploma universitário ou o
ingresso no ensino superior não
são garantias de que os salários
não se deteriorem de modo mais
intenso em períodos de crise. Estudo do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) obtido
pela Folha aponta que as maiores
perdas, entre 2002 e 2006, ocorreram para os trabalhadores com
mais de 11 anos de estudo -ou
seja, os que concluíram ao menos
o ensino médio.
O rendimento médio das pessoas ocupadas com maior grau de
escolaridade caiu 12,3% de março
de 2002, último ano do governo
Fernando Henrique Cardoso, a
março de 2006, ano final do mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Nessa faixa, o rendimento cedeu de R$ 1.617,12 em março de
2002 para R$ 1.439,50 em março
de 2006, embora tenha se recuperado de 2005 para 2006 -alta de
4,1%.
Já a faixa de escolaridade mais
baixa -sem instrução ou com até
1 ano de estudo- teve a menor
perda: 0,3%. O rendimento desse
contingente baixou de R$ 420,48
para R$ 419,40.
Apesar da queda diferenciada, a
distância entre os rendimentos do
topo e os da base da pirâmide de
escolaridade ainda se manteve expressiva. A renda dos menos escolarizados representava 26% do
rendimento dos trabalhadores
com mais anos de estudo em março de 2002. Correspondia, em
março de 2006, a 29,1%, graças à
queda mais intensa dos salários
dos mais escolarizados.
Os dados do IBGE revelam ainda que, em geral, a perda de renda
cresce conforme avança o grau de
instrução do trabalhador. O recuo
ficou em 9,3% na faixa de 1 a 3
anos de estudo -de R$ 498,74 em
março de 2002 para R$ 452,40 em
março de 2006. No extrato de 4 a 7
anos de estudo, a queda foi menor: 4,3% -de R$ 556,39 para R$
532,30.
Na camada das pessoas ocupadas com 8 a 10 anos de freqüência
à escola, a retração ficou em 9,1%,
com a renda média passando de
R$ 687,31 para R$ 625,00.
Recuperação
Pelos dados do IBGE, o rendimento médio registrou, porém,
recuperação de março de 2005 a
março de 2006. Mas novamente o
avanço foi mais intenso para as
faixas de menor escolaridade.
Para a camada sem instrução ou
com 1 ano de estudo, a alta foi de
15,8%. Já para a parcela de trabalhadores com 1 a 3 anos de estudo,
ficou em 9,2%. No caso dos ocupados com 4 a 7 anos de estudo, o
incremento foi de 10,1%. A renda
dos trabalhadores com 8 a 10 anos
de estudo cresceu 2,7%. Já na faixa de 11 anos ou mais, a expansão
ficou em 4,1%.
Para o economista da Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) Marcio Pochmann, os dados reforçam a tese de que ter diploma no país não assegura nem
emprego nem recomposição do
rendimento. "Isso é só mais uma
confirmação de algo que a gente
diz há mais tempo: a escolaridade
maior não representa salário melhor e mais emprego", afirma.
A maior perda real da remuneração das pessoas com maior nível de instrução ocorre em razão
da grande oferta de mão-de-obra
qualificada, sem a contrapartida
da expansão das vagas "de classe
média".
A força de trabalho "abundante", diz, traz um alto nível de competição no mercado de trabalho
que achata os salários, especialmente em períodos de fraco nível
de atividade econômica.
Com farta oferta de mão-de-obra no Brasil, as empresas podem selecionar profissionais qualificados pagando salários mais
baixos e muitas vezes contratando um profissional mais capacitado do que a função exigiria, segundo Pochmann.
O fenômeno, segundo ele, não é
uma tendência mundial. Trata-se
de uma anomalia do mercado de
trabalho brasileiro, no qual existe
uma redução de postos de trabalho que possuem remunerações
mais elevadas.
"O modelo econômico brasileiro destrói empregos de classe média. Isso é uma questão brasileira.
Muitos países estão com forte desenvolvimento tecnológico importando mão-de-obra qualificada", afirma Pochmann.
Dos 2,5 milhões de brasileiros
que vivem no exterior, diz, boa
parte são profissionais graduados
e que não encontraram boas condições de trabalho no Brasil, buscado o mercado externo.
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