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FINANÇAS
Escritório do banco no Brasil é suspeito de enviar remessas ilegais para a Europa; operação teria comando de um doleiro "titular"
Credit Suisse tinha doleiro "oficial", diz PF
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal já tem informações de que o escritório de
"private banking" do Credit Suisse em São Paulo operava com doleiros para enviar recursos para a
Suíça. Não eram doleiros quaisquer, segundo informações obtidas pela Folha com informantes
da polícia. Havia o posto de doleiro oficial. Ele era ocupado até fevereiro deste ano por Marco Antonio Cursini, que já responde a
um processo na Justiça Federal
por lavagem de dinheiro.
Cursini é conhecido pela PF
desde o final dos anos 90, quando
a CPI do Banestado começou a investigar remessas ilegais feitas a
partir de Foz de Iguaçu e identificou uma das contas que ele operava em Nova York no Merchants
Bank. Em dezembro último, a
Força-Tarefa CC-5, integrada pelo Ministério Público Federal e a
Polícia Federal, pediu o bloqueio
de US$ 381.187,91 que Cursini tinha em nome da empresa Goldrate no Merchants Bank. Não é
possível saber se o valor foi bloqueado porque o processo corre
sob segredo de Justiça.
Esse montante é uma mixaria
perto do volume que os doleiros
brasileiros movimentaram no
Merchand entre 1998 e 2002, de
acordo com números que a força-farefa obteve com procuradores
de Nova York: US$ 18 bilhões passaram por esse banco em apenas
quatro anos, só contabilizadas aí
as remessas ilegais feitas a partir
do Brasil.
A conta Gelateria
Os clientes do Credit Suisse
eram enviados para o doleiro cursini pelo gerente-geral do escritório de São Paulo, o luso-suíço Carlos Martins, segundo a apuração
preliminar da PF. Clientes do
banco confirmaram para a Folha
que essa era a sistemática.
O escritório de Cursini, no
Itaim-Bibi, na zona oeste de São
Paulo, era estrategicamente perto
do Credit Suisse, localizado na
área mais nobre da avenida Faria
Lima.
Era ali que os clientes do Credit
conheciam o esquema do doleiro.
Cursini tinha contas no Bank
Hoffman de Zurique, de onde repassava as remessas dos clientes
brasileiros para a sede do Credit,
na Suíça.
Os nomes das contas escolhidos
por Cursini expõem uma certa
veia cômica do doleiro. A primeira das contas que abriu no Bank
Hoffmam chamava-se Gela, uma
referência aparente ao dinheiro
frio de sua clientela.
Os usuários mais freqüentes de
doleiros são empresários que
usam caixa dois para escapar do
pagamento de impostos. Mas outros tipos de recursos ilícitos saem
do país por meio dessas remessas
ilegais. Entram nessa categoria o
dinheiro de traficantes de drogas
e de armas e de organizações que
se dedicam ao roubo de cargas e
roubo a banco.
Posteriormente, a conta Gela foi
rebatizada com o nome de Gelateria -sorveteria em italiano.
Oficialmente, Cursini é criador
de gado de altíssimo nível. Já ganhou prêmios com as vacas "limousin" que cria em sua fazenda
em Itapetininga, no interior de
São Paulo.
Teve uma celebridade fugaz no
ano passado quando o doleiro
Antonio Oliveira Claramunt, o
Toninho da Barcelona, contou
que Cursini era o doleiro que trabalhava para Márcio Thomaz
Bastos quando era advogado. Claramunt, que afirmava ter ouvido
essa informação do próprio Cursini, recuou e disse que não tinha
provas do que havia falado.
A Polícia Federal tem indícios
de que Carlos Martins, o chefe do
escritório do Credit, recebia comissão de Cursini pelos clientes
que lhe enviava.
Alberto Zacharias Toron, advogado de Martins, diz que é "absurda" a acusação de que o gerente tinha relações com doleiros. De
acordo com ele, Martins é um
profissional do mercado financeiro com trânsito internacional
(leia texto abaixo).
Não havia muita discrição na
relação entre o escritório do Credit Suisse e o doleiro. Tanto que a
PF já recebeu mensagens iradas
de ex-funcionários do escritório
relatando que Martins feria normas pétreas do Credit Suisse ao
recorrer a doleiros para fazer as
remessas.
O porta-voz dos escritórios de
"private banking" do Credit Suisse nas Américas, David Walker,
informou, a partir de um questionamento da Folha, que o banco
proíbe "estritamente" que seus
funcionários mantenham relações com doleiros.
Prisão no aeroporto
A PF começou a investigar o escritório do Credit Suisse em São
Paulo a partir de informações
anônimas de uma pessoa que conhecia em detalhes o esquema de
remessa ilegal de recursos por
meio desse banco.
Em 21 de março, fez uma operação de busca e apreensão no escritório do Credit e na casa de quatro
gerentes. No dia seguinte, a PF
prendeu numa sala VIP do aeroporto de Cumbica o economista
suíço Peter Schaffener, um dos
gerentes do Credit Suisse em Zurique, sob a acusação de que ele
tentava fugir do país para escapar
das investigações sobre remessas
ilegais.
Para evitar eventuais fugas, a
Justiça determinou a apreensão
dos passaportes de seis gerentes
do Credit Suisse, inclusive o de
Carlos Martins.
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