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Ministro quer "desoneração radical"
Mangabeira Unger fecha as diretrizes do que chama de "reconstrução das relações trabalho/capital"
Desoneração não virá de "mão beijada", diz ministro; idéia é que alívio sobre a folha tenha "contrapartidas" por parte das empresas
IURI DANTAS
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo começou a delinear uma nova proposta de reforma trabalhista e sindical.
Depois de seis meses de discussão, o ministro extraordinário
de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, fechou as diretrizes do que chama de "reconstrução das relações trabalho/capital" e planeja enviar, a
partir de 2009, um conjunto de
mudanças ao Congresso Nacional. O ponto de partida deverá
ser a "desoneração radical" da
folha de pagamento.
Em entrevista à Folha, Mangabeira afirmou que a desoneração não virá de "mão beijada". A idéia é que o alívio tributário seja acompanhado de
"contrapartidas" por parte do
empresariado, o que inclui a
criação de um regime especial
para trabalhadores terceirizados e temporários, a participação efetiva dos trabalhadores
no lucro das empresas e o acesso à contabilidade das corporações (ver quadro).
Também está prevista a criação da figura do "agente sindical", que será um representante dos sindicatos nas unidades
fabris. "Essa é uma obra em
construção. Ainda não é uma
proposta nem do governo nem
do presidente Lula. Também
não é um amontoado de propostas: é um projeto global,
coerente, que se transformará
em uma agenda legislativa gradual", disse o ministro.
O estudo de Mangabeira foi
apresentado a Lula na semana
passada em reunião com as
centrais sindicais. A ordem
agora é aprofundar os debates
até que a proposta seja "decantada" e testada pela opinião pública. "Vamos consultar e discutir. Será uma consulta orientadora e não uma negociação",
adianta o ministro, deixando
claro que o governo não pretende ceder aos interesses corporativos.
A proposta de reforma apresentada por Mangabeira ainda
não foi encampada pelo governo, nem mesmo por Lula, que
autorizou apenas a sua divulgação.
No início do primeiro mandato, Lula criou o Fórum Nacional do Trabalho para discutir a reforma sindical e trabalhista. O grupo também chegou
a propor uma mudança na estrutura sindical, mas a reforma
não avançou no Congresso por
falta de consenso entre trabalhadores e empresários.
O fórum ensaiou debater
ainda a reforma trabalhista,
mas novas divergências acabaram sepultando os trabalhos.
Imprudência e injustiça
Embora a reforma tributária
elaborada pela área econômica,
que está em tramitação no
Congresso, já trate da desoneração da folha de pagamento, o
ministro critica a iniciativa.
"A desoneração da folha de
pagamento não pode ser feita
de mão beijada. Nem pode ser
discutida pelo aspecto tributário. Isso é imprudência e injustiça", declara Mangabeira,
acrescentando que a medida só
faria sentido ao seguir uma "lógica das contrapartidas".
O ministro classifica sua proposta de desoneração radical,
pois não seria acompanhada de
uma transferência da tributação da folha para o faturamento
das empresas. O financiamento
da Previdência Social passaria a
ser feito pelos tributos gerais,
como também defende o Ministério da Fazenda.
Segundo o projeto de Mangabeira, o objetivo das mudanças
é reduzir a informalidade, reverter a queda da participação
dos salários na renda nacional e
reformar a estrutura sindical
existente no país.
"Não tivemos uma grande
obra institucional desde Getúlio Vargas. O modelo atual foi
construído na ditadura, em
meio a uma crise econômica e
uma guerra", disse o ministro.
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