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ONU anuncia força-tarefa contra crise dos alimentos
Organização também pede doação urgente de US$ 2,5 bi para ajuda a países pobres
Uma das ações já em curso
é programa que visa investir
na produção agrícola de
países em desenvolvimento,
principalmente na África
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BERNA
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon,
anunciou ontem a criação de
força-tarefa para enfrentar a
crise alimentar mundial e pediu à comunidade internacional a doação urgente de US$ 2,5
bilhões para que a organização
possa continuar seus programas de ajuda aos necessitados.
O anúncio foi feito em Berna,
em conferência que reuniu os
chefes das 27 agências e organizações especializadas da ONU.
O objetivo da reunião foi dar
uma resposta coordenada à disparada dos preços dos alimentos, que aumentou a pobreza
no mundo e já provoca distúrbios sociais e instabilidade política em vários países.
"A recente escalada dos preços de alimentos evoluiu para
um desafio sem precedentes de
proporções globais", disse Ban,
em entrevista coletiva na capital suíça ao lado de vários diretores de agências da ONU.
Entre os motivos para a crise
apontados pelo secretário-geral, estão os preços do petróleo,
a falta de investimento no setor
agrícola, o aumento da demanda por alimentos e os subsídios
aos fazendeiros dos países ricos, além de problemas climáticos e restrições às exportações.
A ONU estabeleceu metas de
curto, médio e longo prazo para
lidar com a crise. A prioridade
mais urgente, disse Ban, é alimentar os que têm fome. Para
isso, reiterou o apelo para que a
comunidade internacional
contribua com US$ 755 milhões adicionais ao PMA (Programa Mundial de Alimentos).
Segundo Josette Sheeran, diretora-executiva do PMA, o orçamento de US$ 3,1 bilhões para as operações de ajuda em
2008 cresceu US$ 755 milhões
devido à escalada de preços.
"Temos capacidade de adquirir
40% menos alimentos hoje do
que em junho do ano passado
simplesmente por causa dos altos preços", disse.
Ban Ki-moon encabeçará a
força-tarefa criada para enfrentar a crise, que será coordenada
por John Holmes, subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários. O objetivo, disse
Ban, é "reunir os chefes das
agências especializadas da
ONU" em um "mecanismo efetivo e coordenado".
Uma das ações já em curso é a
Iniciativa de Emergência da
FAO, para a qual o secretário-geral pediu US$ 1,7 bilhão. A
idéia, que faz parte do plano de
médio prazo da ONU, é investir
na produção agrícola de países
em desenvolvimento, principalmente na África.
Jacques Diouf, diretor-geral
da FAO, disse que a idéia é dar
acesso a sementes, fertilizantes
e ração animal, corrigindo um
dos principais problemas
apontados ontem por trás da
crise atual: a falta de investimento na produção de alimentos nos países pobres.
O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, lembrou outro motivo para isso. "É sabido
que os subsídios agrícolas distorcivos dos países ricos prejudicaram a produção de alimentos nos países em desenvolvimento", disse, observando que
a crise reforça a necessidade de
acordo na Rodada Doha, de liberalização do comércio.
Robert Zoellick, presidente
do Banco Mundial, disse que a
instituição estuda criar um mecanismo de financiamento rápido para países pobres e que o
volume de empréstimos para
projetos agrícolas na África no
próximo ano será dobrado, para US$ 800 milhões.
"As próximas duas semanas
serão críticas para lidarmos
com a crise alimentar. Para 2
bilhões de pessoas, os altos preços de alimentos são uma questão de sacrifício e, em muitos
casos, sobrevivência."
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