São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

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Restrição a exportações preocupa Nações Unidas

OMC considera "sem precedentes" as medidas adotadas por países asiáticos

ONU pede suspensão de restrições a embarques de alimentos; segundo o Banco Mundial, existe risco de que preços subam ainda mais


DO ENVIADO ESPECIAL A BERNA

O número crescente de países que passaram a aplicar restrições às exportações de alimentos para garantir os preços e o abastecimento domésticos em meio à crise mundial preocupa a ONU. A medida já foi adotada por mais de dez países, sobretudo na Ásia, num movimento que especialistas da OMC (Organização Mundial do Comércio) consideram "sem precedentes".
Na semana passada, o governo brasileiro decidiu proibir por tempo indeterminado a exportação de arroz do estoque público, por temer o desabastecimento interno.
No plano contra a crise anunciado ontem, a ONU apontou as barreiras à exportação como um dos motivos da escalada de preços e defendeu o fim das medidas. O secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, pediu "a imediata suspensão" das restrições.
"Esses controles encorajam o armazenamento, elevam os preços e atingem as pessoas mais pobres do mundo, que lutam para se alimentar", disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick.
Ele elogiou a Ucrânia por ter dado "um bom exemplo" na semana passada, ao suspender as restrições à exportação de grãos. "Isso teve um efeito imediato na queda de preços, e outros podem fazer o mesmo", disse Zoellick, pedindo uma ação conjunta dos governos com o setor privado.
Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, barrar as exportações "não é uma boa solução econômica" no curto prazo. "É óbvio que tais medidas resultam em aumentos adicionais de preços", disse Lamy.
Na semana passada, o Japão, maior importador de alimentos do mundo, disse que pedirá a introdução de normas na OMC para regular as restrições às exportações, algo já adotado por mais de dez países, entre eles Indonésia, Rússia, China e Vietnã. "É óbvio que esse tipo de medida diminui a oferta de produtos no mercado e leva ao aumento de preços", disse Lennart Bäge, presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola.

Álcool
O secretário-geral das Nações Unidas também culpou os biocombustíveis pela alta de preços, mas apenas os que são subsidiados e que "substituem a produção de alimentos". Indagado pela Folha se isso excluía o álcool brasileiro, feito a partir da cana, Ban foi vago. "Há críticas aos biocombustíveis, mas a questão deve ser vista de forma abrangente. Há alguns aspectos positivos e outros que precisamos estudar."
No dia anterior, o secretário-geral da Unctad (Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento), Supachai Panitchpakdi, havia dito à Folha que o álcool brasileiro não entrara em discussão no encontro e que a preocupação da organização é com o produto norte-americano, feito a partir do milho com política de subsídios do governo. (MN)


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