São Paulo, quarta-feira, 30 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

entrevista

Alimento ficará caro por dez anos, diz especialista

DO ENVIADO ESPECIAL A BERNA

Mesmo com os esforços para aumentar a produção e o suprimento, os preços dos alimentos devem continuar altos por pelo menos dez anos, segundo o sueco Lennart Bäge, presidente do Fida (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola), agência da ONU criada no fim dos anos 70 em resposta às crises alimentares da década na África.
Na semana passada, o Fida anunciou a concessão de US$ 200 milhões a agricultores pobres. Para Bäge, a chave para uma solução de longo prazo para a crise é dar condições aos países em desenvolvimento de recuperar a capacidade de produção.
Em entrevista à Folha, ele destacou as vantagens do álcool brasileiro sobre os biocombustíveis de grãos e disse que esta era uma crise anunciada. (MN)

 

FOLHA - A crise vai ser longa?
LENNART BÄGE
- É o que os especialistas dizem. Mesmo que haja uma resposta em termos de suprimento, se olharmos todos os fatores, como energia cara, mudanças climáticas, reservas em baixa e demanda crescente, tudo leva a crer que os preços vão continuar altos, embora devam cair um pouco. É impossível determinar, mas os preços devem ficar altos por até dez anos, talvez mais.

FOLHA - Qual o fator que teve mais impacto na escalada de preços dos alimentos?
BÄGE
- O abandono de investimento em agricultura e as mudanças climáticas. Quando a comida era barata e abundante, havia problemas com a produção como dumping e subsídios. Houve negligência com o investimento de longo prazo na agricultura, o que levou a queda na produtividade dos países em desenvolvimento. A produtividade aumentava de 3% a 4% ao ano para os grãos básicos -hoje está entre 1% e 2%.

FOLHA - Que papel tiveram os subsídios dos países ricos a seus agricultores na queda de produtividade dos pobres?
BÄGE
- Tiveram um sério impacto. Subsídios nos países desenvolvidos significam que muitos produtos entram no mercado internacional e achatam os preços, deixando pouco incentivo para agricultores dos países em desenvolvimento.

FOLHA - E os biocombustíveis?
BÄGE
- Temos que fazer dois tipos de análise. Sobre a eficiência energética e o impacto na crise. Alguns biocombustíveis são muito eficientes e não competem diretamente com os alimentos. Os especialistas dizem que o álcool brasileiro é muito mais eficiente e tem muito menos impacto na produção de alimentos que outros. Não devemos condenar os biocombustíveis de forma generalizada. Os feitos de grãos como o milho geralmente são menos eficientes e competem com os alimentos.

FOLHA - O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, disse que esta era uma crise anunciada. Por que a ONU não agiu antes?
BÄGE
- A ONU vem agindo. A FAO e eu advertimos que falta investimento em agricultura há muitos anos. Mas só quando há uma crise clara há reação política. O mais importante é não apenas nos concentrarmos na ajuda alimentar urgente mas investirmos em medidas de médio e longo prazo, focar na recuperação da agricultura.


Texto Anterior: Medidas devem ser apenas o primeiro passo
Próximo Texto: Para Bush, álcool não é o principal motivo para alta dos alimentos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.