São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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Stanley Fischer, executivo do Fundo, identifica fragilidade na confiança dos investidores estrangeiros
FMI alerta para otimismo exagerado

Alan Marques - 1.fev.99/Folha Imagem
Stanley Fischer, diretor-gerente-adjunto do FMI, para quem a euforia sem base na realidade é perigosa


MARCIO AITH
de Washington

A recuperação dos mercados brasileiros desde março está baseada numa confiança frágil dos investidores e envolve um clima de otimismo exagerado e perigoso.
Em conversa com a Folha, o diretor-gerente-adjunto do FMI (Fundo Monetário Internacional), Stanley Fischer, criticou esse otimismo e alertou para os riscos de uma euforia desvinculada da realidade.
Respondendo a críticas ao FMI, Fischer disse ainda que o aperto fiscal no país é compatível com as preocupações sociais e sugeriu que a melhoria dos serviços de educação e de saúde seja promovida por meio do uso mais eficiente dos recursos, e não por gastos adicionais.
Fischer disse acreditar que o desemprego no Brasil ainda vá aumentar nos próximos meses, mesmo se a economia começar a se recuperar agora. "O emprego demora um pouco a reagir, mas, se o crescimento voltar e se estabilizar, a taxa vai cair", disse ele.
Apesar de suas preocupações com o otimismo exagerado dos mercados, Fischer elogiou as medidas tomadas pelo governo brasileiro na área de salários e preços públicos e disse acreditar que a CPI dos Bancos não vai atrapalhar o ritmo das reformas no país. "Existem acusações importantes sendo investigadas".
Fischer disse que o sistema de metas inflacionárias que deverá ser adotado em breve no país requer um Banco Central independente, mas reconheceu que "não se trata de uma independência para fazer qualquer coisa".
Fischer falou à Folha um dia depois do final da reunião do FMI e do Banco Mundial, realizada em Washington.
Responsável pela execução das as políticas do FMI, Fischer disse que as perspectivas para as economias emergentes melhoraram desde outubro, mas afirmou estar ainda preocupado.
"A confiança dos investidores é frágil. Passamos de um pessimismo excessivo para um otimismo excessivo. No dia em que o Brasil desvalorizou a moeda, o setor privado disse que não voltaria para a América Latina. Dois dias depois disse o contrário. Acho correta a decisão de voltar, mas o episódio mostra que ainda dependemos de um setor privado que é muito sensível e instável", disse.

Medo da acomodação
Fischer afirmou que essa euforia pode causar complacência dentro do governo com relação às reformas e comparou os casos brasileiro e sul-coreano.
"Ouço meus amigos sul-coreanos dizer que é uma pena que a recuperação veio tão rápido para eles, pois agora o governo pode ficar tentado a atrasar as reformas estruturais. Na Coréia do Sul, a recuperação só veio depois de ano. No Brasil, veio numa manhã."
Fischer diz não querer subestimar as conquistas do governo brasileiro. "Tudo o que estava previsto no programa foi feito: o governo aprovou a CPMF, corrigiu o preço da gasolina e fez a decisão correta na questão dos salários, o que reduziu os riscos de indexação."
Mas insistiu em que ainda há muito a fazer. "Na Ásia, temos que encorajar os países a ter um déficit orçamentário maior. Isso não é um problema na América Latina."
Ele afirmou que as preocupações sociais não devem ser motivo para aumento de despesas. "Na Educação, pode-se gastar mais com o ensino primário e secundário, que são mais eficazes em termos de distribuição de renda e de crescimento. Isso já é uma preocupação do presidente (Fernando Henrique) Cardoso. Igualmente na área da saúde, onde os gastos hoje são mais voltados para o atendimento à classe média."
Fischer disse estar certo de que, no atual orçamento, pode-se fazer mais pelo setor social.
"Mas isso é uma tarefa muito difícil. O governo tem que ganhar votos (no Congresso). É fácil anunciar as coisas que devem ser feitas sentados aqui em Washington, onde não precisamos aprovar as coisas no Congresso."
Perguntado sobre o déficit em conta corrente mesmo após a desvalorização do real, Fischer disse que esse déficit é resultado das diferenças entre as economias na Ásia e na América Latina.
Depois da desvalorização do won, a Coréia acumulou superávit de US$ 40 bilhões, o maior de sua história. O Brasil vai ter um déficit de US$ 20 bilhões neste ano.
"O Brasil tem uma proporção menor do comércio exterior em relação à sua economia. Deve exportar e importar mais."


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