São Paulo, Sexta-feira, 30 de Abril de 1999
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SOCORRO
Para presidente do BNDES, operação para rolar dívidas de empresas concorre com outra do Banco Mundial
Pio Borges vê ciúmes em críticas do Bird

FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), José Pio Borges, rebateu ontem as críticas feitas pelo Bird (Banco Mundial) ao programa de reestruturação da dívida externa de empresas privadas instaladas no Brasil.
O programa foi lançado no início desta semana pelo BNDES e irá repactuar pelo menos US$ 1 bilhão em dívidas de 90 empresas. Ontem, ele foi denunciado no Ministério Público pelo PT.
A CFI (Corporação Financeira Internacional), instituição do Bird voltada para o financiamento do setor privado, disse em Washington que o governo brasileiro deve garantir os serviços básicos da sociedade em vez de "dar subsídios a empresas privadas".
Pio Borges disse que existem "competição, ciúme e inveja" entre os bancos de investimento do mundo e que a "revolta" da CFI se explica porque o Bird queria (mas não conseguiu) montar uma operação semelhante à do BNDES.
"Isso gera um ciúme inacreditável, que parece coisa de jardim de infância", disse ontem o presidente do BNDES, durante audiência na Câmara dos Deputados.
A representação contra o programa do BNDES foi encaminhada ao Ministério Público pelo deputado Milton Temer (PT-RJ). "Não acelerem demais essa operação, porque vamos tentar barrá-la antes que ela seja concretizada", disse, durante debate com Pio Borges.
A renegociação das dívidas de empresas privadas instaladas no país vai começar dentro de 20 dias. Para Temer, a operação não passa de uma "estatização de dívidas privadas brasileiras".

Paraíso fiscal
Borges explicou para os deputados que o BNDES, o Banco do Brasil e o banco norte-americano Goldman Sachs criarão uma empresa no paraíso fiscal das Ilhas Cayman com o propósito específico de lançar títulos no mercado internacional lastreados nos papéis já emitidos pelas 90 empresas beneficiadas pelo programa.
Os detentores desses papéis terão a oportunidade de trocá-los pelos títulos da nova empresa pagando por eles o valor de face.
Os papéis das empresas serão entregues pelo valor de mercado, que, segundo Pio Borges, vem aplicando um desconto (ou deságio) de até 50% sobre o preço original.
"Não há recursos novos. É um alongamento voluntário de papéis já existentes", disse.
Ele afirmou que o prejuízo realizado pelos investidores na troca dos papéis será compensado pela maior liquidez do novo papel e pela ampliação de negócios que ele representa (estará lastreado nas ações de 90 diferentes empresas).
Borges afirmou também que a operação é vantajosa para o BNDES, pois as empresas endividadas acabariam recorrendo ao banco para refinanciar suas dívidas no exterior.
Para o Tesouro, a vantagem seria reduzir os desembolsos dessas empresas no exterior para resgatar seus títulos, o que pressiona o déficit nas transações correntes.

Mais empresas
O BNDES está estudando com o Banco do Brasil e o banco de investimentos Goldman Sachs a inclusão de seis novas emissões de títulos, no valor total de US$ 3,93 bilhões, entre as que poderão entrar na operação de troca no exterior por títulos de longo prazo.
A inclusão desses papéis elevaria o número de emissões passíveis de troca para 153 e o valor total dessas emissões para aproximadamente US$ 26,5 bilhões.
Das seis emissões, cinco são de empresas privatizadas ou formadas para a compra de serviços privatizados. A maior de todas é uma de US$ 1,25 bilhão da BCP, a empresa que comprou a banda B da telefonia celular de São Paulo e que tem como acionistas, entre outros, o banco Safra e o grupo "O Estado de S. Paulo". O próprio Safra tem uma outra emissão de US$ 200 milhões incluída na lista.
Outra emissão é da VBC, consórcio formado pela Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa para investir no setor elétrico privatizado.
As outras três emissões são da a Light (US$ 600 milhões); Metropolitana, controlada pela própria Light (US$ 580 milhões); e da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) (US$ 500 milhões).


Colaborou a Sucursal do Rio



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