São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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SALTO NO ESCURO

Mesmo com ajuda da região Norte, residências nordestinas terão de poupar mais de 20% de energia

Norte raciona para tirar Nordeste do apagão

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A região Norte, na realidade o Pará, terá de se submeter ao esforço de corte de 20% no consumo de energia a partir de julho. Todo o Estado do Maranhão também terá de poupar. A medida seria tomada com o objetivo de transferir mais energia para o Nordeste, numa tentativa de evitar apagões nessa região.
A partir de julho, consumidores nordestinos também deverão ser obrigados a poupar mais do que os 20% já estabelecidos pelo programa do governo (no caso de consumidores residenciais).

Pará
As informações são de Mário Santos, presidente do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). A Folha apurou com o "ministério do apagão" (oficialmente Comitê de Gestão da Crise de Energia Elétrica) que o corte do consumo no Nordeste pode atingir até 40%. Mário Santos diz que desconhece esse número.
O presidente do ONS disse que o racionamento no Norte irá começar quando ficar concluída a linha de transmissão da usina hidrelétrica de Tucuruí, responsável pelo abastecimento de energia da região, para a bacia do rio São Francisco. O governo estima que a obra deve ficar pronta até julho.
Quando isso acontecer, o Nordeste passará a receber um adicional de 1.200 megawatts de Tucuruí. O ONS não fez os cálculos de quanto poderá representar essa contribuição para o abastecimento de energia no Nordeste. Os estudos deverão ficar prontos até o início da semana que vem. Santos espera que, com essa ajuda, pelo menos se evite o "apagão" no Nordeste, uma possibilidade que não foi afastada pelo "ministério do apagão".
O problema no Nordeste é que, em maio, a capacidade de armazenamento da bacia do rio São Francisco, responsável pelo abastecimento da região, ficou abaixo 3,5 pontos percentuais abaixo do previsto pelo ONS -que estimava reservatórios com 31% de capacidade média.
A grande responsável pelo fato de a meta não ter sido atingida foi a seca. O ONS fez seus cálculos com uma previsão de chuvas correspondendo a 73% da média dos últimos 70 anos. O resultado, no entanto, foi de 40%, bem abaixo da previsão. Foi a partir desse parâmetro que o ONS definiu o corte de 20% de consumo para os próximos seis meses, quando se encerra o período de seca.
Como essa hipótese de chuva não foi atingida, a cota teria provavelmente de ser ampliada ou o governo seria obrigado a fazer o "apagão". Só que o ONS, quando fez esses cálculos, não incluiu o racionamento no Norte e o adicional de energia no Tucuruí. Por isso, a ampliação da cota de racionamento está por ora afastada.
Já para a região Sudeste, Mário Santos disse que a meta definida pelo ONS de armazenamento dos reservatórios foi atingida, o que significa que as possibilidades de aumento da cota de consumo de energia ou de "apagão" ficaram mais distantes.
Mário Santos diz, no entanto, que o mesmo auxílio do Norte para o Nordeste irá ocorrer do Sul para o Sudeste, quando terminarem, no final de julho, as obras de reforma do transformador de Tijuco Preto. Quando o transformador ficar concluído, parte da energia gerada no Sul será transferida para abastecer o Sudeste.
Nesse caso, o Sul também deverá ser obrigado a sofrer um corte no consumo de energia da ordem de 20% a partir de agosto, a exemplo das outras regiões.
Mas Mário Santos observa que as cotas definidas pelo ONS podem ser alteradas dependendo do comportamento da chuvas ao longo do período da estiagem.
Nem o "apagão", de acordo com ele, está afastado. O "ministério do apagão" estuda ainda a hipótese de desligamento da carga, dependendo principalmente do resultado do consumo de energia. Por enquanto, os resultados são bastante animadores.



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