São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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SALTO NO ESCURO

Em pesquisa da Fiesp, reajuste de preços devido ao racionamento é última hipótese para enfrentar plano

Indústria vai demitir ou cortar expansão

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma entre cada cinco grandes indústrias poderá demitir pessoal por causa do racionamento de energia. E mais de 65% decidiram reduzir ou deixar os planos de investimento em banho-maria depois que descobriram que podem ficar na penumbra, segundo pesquisa apresentada ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e realizada pelo instituto Vox Populi.
O corte de vagas é visto como o segundo efeito mais provável da crise energética -perde só para a paralisação das linhas de produção. A queda nos lucros aparece em terceiro lugar. O risco de cortes, porém, deve variar de acordo com o tamanho da companhia. Mais de 40% das pequenas e microempresas acham que há alto risco de dispensa, contra 19,5% das grandes empresas -com mais de 500 empregados. Os técnicos ouviram 401 indústrias nos dias 24 e 25 de maio.
A Fiesp pouco fala quando esse tema vem à tona. Prefere dizer "que se 20% acham possível cortes, os outros 80% dos empresários não pensam em demitir", conforme repetiu, três vezes, Pio Gavazzi, diretor da federação.
O levantamento pode refletir o efeito das discussões em torno do feriado às segundas-feiras, já que o assunto foi amplamente debatido pelo setor nos dias em que a pesquisa foi feita. O feriado reduzirá a produção e, logo, pode forçar as indústrias a demitir pessoal.
Na média, a pesquisa mostra que 18,8% das indústrias informam que a demissão é o efeito mais possível por causa racionamento. Apenas 3,7% pensam em reajustar preços e quase 10% falam em eliminar áreas.
Essa decisão de fechar departamentos implica aumento no corte de vagas. A Fiesp frisa que as respostas sobre o assunto foram espontâneas -partiram do dono da fábrica.
Ontem, o Simpi, sindicato das pequenas empresas do Estado de São Paulo, informou que a crise energética colocará em risco o emprego de 180 mil trabalhadores do setor e congelará a geração de 150 mil novas vagas neste ano.

Investimento em baixa
Nos meses anteriores ao anúncio do plano de racionamento, 74,9% das companhias disseram que iriam investir nas fábricas e 24,9% afirmaram o contrário. O restante não se posicionou. Após o dia 18 de maio, data do anúncio do plano, tudo mudou: 65,3% irão parar tudo ou engavetar os projetos temporariamente.
Outros 29,8% disseram que as companhias manterão a expansão. Os mais relutantes são pequenos e microempresários.
Essas decisões, entretanto, estão sendo discutidas sem que as empresas tenham informações sobre o racionamento. Isso porque a indústria está muito mal-informada sobre a crise, admite a Fiesp.
Uma em cada quatro companhias diz que pouco sabe sobre o tema. E mais de 43% não faziam a menor idéia de que o país enfrentaria essa crise. "O resultado foi uma surpresa", diz Gavazzi.


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